Grândola Vila Morena cala primeiro-ministro de Portugal

O primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, foi interrompido na sexta-feira (15) – quando intervinha no debate quinzenal na Assembleia da República – por um grupo de pessoas que entoaram a canção Grândola Vila Morena, música de Zeca Afonso e símbolo da revolução de 25 de Abril de 1974, a Revolução do Cravos que pôs fim à ditadura salazarista.

A canção foi um protesto contra as políticas econômicas do governo e da troika. O termo troika foi usado como referência às equipes constituídas por responsáveis da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional que negociaram as condições de resgate financeiro na Grécia, Irlanda, França, Espanha, Itália e Portugal.

O conjunto de cerca de 30 pessoas foi forçado a abandonar as galerias reservadas ao público. Pedro Passos Coelho, que se calou diante do protesto, aguardou em silêncio até a normalidade dos trabalhos e depois comentou: "das formas como os trabalhos podem ser interrompidos, esta parece a de mais bom gosto".

Com a corda no pescoço

Sobre o discurso desta sexta do primeiro-ministro, o secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Jerónimo de Sousa, disse que Pedro Passos Coelho fez "um discurso enganoso" para os portugueses e não tem "ideia da realidade", porque "a corda já partiu para muitos".

Esse "é um discurso enganoso, porque a corda já rompeu para muitos portugueses e muitos desempregados, para muitos jovens e muitos reformados e pensionistas, muitos pequenos e médios empresários", afirmou neste domingo (17) o líder comunista.

Jerónimo falou aos jornalistas, em Lisboa, durante a manifestação convocada pela Central Geral dos Trabalhadores de Portugal (CGTP) em todas as capitais de distrito do país.

Num debate do PSD/Porto, Passos afirmou que “os portugueses devem estar confiantes de que o governo não exigirá mais do que aquilo que é necessário para que se cumpram os objetivos, sem que a corda, que está esticada, possa vir a partir”.

Para Jerónimo de Sousa, "esta política de brutal austeridade leva aos números que são conhecidos no desemprego, ao número de falências de empresas e à situação dramática de reformados e pensionistas, o que é que é preciso mais para que o senhor primeiro-ministro veja que a corda já partiu?", questionou.

Sem futuro

O secretário-geral comunista disse não compreender as palavras do chefe do governo: "O que é isso de partir a corda? Partir a corda tem a ver com a vida das pessoas e muitas pessoas hoje não têm futuro e não têm vida. 40% da juventude estão desempregados? Que corda é essa?".

Na opinião do líder do PCP, Pedro Passos Coelho "não tem ideia da realidade que o país vive", onde "muitos foram atirados para o empobrecimento, muitos que não sabem o que vão fazer da sua vida, tendo em conta esta eternização da austeridade". "A corda só não parte na convicção de que é possível uma política diferente, um rumo diferente e não esta eternização da austeridade já ensejada com o corte de quatro mil milhões de euros no futuro próximo", assegurou.

Jerónimo de Sousa considerou ainda que a manifestação da CGTP, que reuniu milhares de pessoas em Lisboa, é "uma boa demonstração" para a troika, que está prestes a aterrar novamente em Portugal, de que "os trabalhadores e o povo português não estão dispostos a aceitar esta política de caminho para o desastre". "A cada estatística, cada balanço, cada relatório, cada debate quinzenal, estamos sempre pior do que estávamos", observou.

O líder do PCP disse ainda que o seu partido lutará contra as políticas do governo "de todas as formas que a Constituição permitir".

Escute a íntegra da Grândola Vila Morena:

Fonte: da Redação, com agências