Palestina ocupada: pesquisa indica perfil de votantes ao Oscar 

A escolha de Melhor Documentário para o Oscar 2013 envolve o conflito Israel-Palestina e a carga política que ele traz ao cinema. Em recente pesquisa sobre os que votarão para o Oscar, em Los Angeles, concluiu-se que a maioria é branca, homem e acima de 60, numa região em que a maioria da população é judia. Resta saber quanto isso interferirá na escolha do Melhor Documentário. 

Guy Davidi, israelense co-diretor de 5 Câmeras Quebradas

Nesta temporada de Oscar, o alvoroço deve-se às novas regras da Academia de Artes cinematográficas e de Ciência para a categoria frequentemente esquecida de Melhor Documentário. Pela primeira vez na história do Oscar, todos os quase 6.000 membros da academia votarão nos cinco finalistas da categoria.

Destes, é claro, estão “5 Câmeras Quebradas” (“5 Broken Cameras”), uma crônica da resistência não-violenta palestina, co-dirigida pelo israelense Guy Davidi e pelo próprio câmera, o palestino Emad Burnat; e “Os Guardiões” (The Gatekeepers”), uma compilação de entrevistas de antigos chefes da inteligência israelense, colocados juntos numa censura dura da ocupação de Israel na Cisjordânia.

No passado, o voto era restrito àqueles que atenderam seleções especiais dos cinco filmes, o que não era fácil numa temporada já repleta de carpetes vermelhos e reforço da imprensa, e toda a bebedeira, conversação e exaltação que acompanha.

Neste ano, porém, a Academia enviou as classificações para os cinco documentários (e curtas) para que todos pudessem assisti-los desde o conforto de suas próprias casas (o que em Hollywood geralmente significa um estúdio doméstico de ponta, com som “surround” melhor que o dos cinemas). Se a mudança nas regras será ou não um fator decisivo no jogo ainda não é sabido.

Estudo demográfico conclusivo para as classificações

Considere-se um estudo demográfico recente do estadunidense Los Angeles Times, que concluiu que os membros da Academia são maioritariamente brancos, mais velhos e homens. Os 95% brancos e 77% homens votantes no Oscar têm, em média, 62 anos de idade. O estudo também conclui que só 14% dos membros têm menos de 50 anos.

Numa cidade em que a maioria da população é judia, estou achando que ao menos a mesma porcentagem dos 5.765 predominantemente brancos, homens, são judeus. Os judeus de Hollywood, sobre tudo acima de 50, tendem a ser democráticos, liberais e pró-Israel. E “pró-Israel”, para aquela geração, significa “mostrar Israel com uma boa imagem.”

Isso pode não resultar bem para “5 Câmeras Quebradas” e para “Os Guardiões”, já que nenhum deles deixa o espectador cantando baladas sionistas. O que é algo bom; na verdade, é filossemitismo (apreciação e respeito pelo povo hebreu) e não antissemitismo.

Se minha teoria estiver correta, e é só uma teoria, não há um bom prenúncio para “5 Câmeras Quebradas” ou para “Os Guardiões”, ambos contundentes em sua crítica antissionista.

Israel nunca venceu um Oscar, embora tenha protagonizado com impressionantes 10 nomeações na categoria bastante mais vistosa Melhor Filme Estrangeiro. Mas se fosse vencer, é mais provável que a Academia acenaria para uma confortante saga familiar “Nota de Rodapé” (“Footnote”), de Joseph Cedar, que foi nomeada a Melhor Filme de Língua Estrangeira em 2011, do que para um “Valsa com Bashir” (“Waltz with Bashir”), a animação e golpe de mestre de Ari Folman sobre a Guerra do Líbano, que competiu na mesma categoria, em 2008.

Outra vez, há muitas teorias divergentes quando se trata de adivinhar sobre o Oscar. Num texto recente para a revista New York, Mark Herris diz que as campanhas do Oscar são muito mais como lances políticos. Os filmes são enquadrados como narrativas, e suas histórias e atores são anunciados com frases confortantes como “O pequeno filme que poderia”, “O conto de um indie de baixo orçamento” e “Um Davi em meio aos Golias dos estúdios”.

Os aderentes dessa teoria, “Câmeras” e “Guardiões”, assim estão num aperto, em uma corrida já tumultuada. Enquanto dois documentários resumidos sob a mesma moral da história (“ocupação não é bom”), eles provavelmente dividirão os votantes.

Mas esta é Hollywood, e sempre há uma guinada na história. Alguns camaradas acreditam que o filme que enquadrar-se melhor, que agradar mais as multidões, levará a glória; mas esta é Hollywood, turma, onde a sorte pode mudar todos os dias.
 
Com Haaretz
Tradução da Redação do Vermelho