Soprar a trombeta pelo lado largo

A imposição de sanções ao Irã pelo uso de tecnologia nuclear tem como objetivo assustar nações que querem caminhar no mesmo trilho.

Por Ali Mohaghegh*

Imaginem que alguém queira soprar uma trombeta pelo lado largo! Esse ditado iraniano quer dizer que para solucionar qualquer problema, é necessário primeiramente apresentá-lo de maneira correta e clara. Caso contrário, um resultado satisfatório nunca será atingido.

O caso nuclear iraniano também não é excluído dessa regra. Para solucioná-lo, é importante que seja apresentado corretamente.

O objetivo da República Islâmica do Irã é o uso pacífico da tecnologia nuclear. Para apresentar corretamente o assunto, é preciso responder à seguinte pergunta: Qual critério deve ser usado para definir o limite do direito nuclear dos países? As chantagens midiáticas e alegações das superpotências ou os tratados internacionais?

Naturalmente, a resposta é o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Todas as exigências que não combinem com esse tratado devem ser excluídas.

Um dos princípios do TNP é o reconhecimento do direito de acesso à tecnologia nuclear aos países signatários. Conforme esse princípio, os países nucleares também têm a obrigação de transferir essa tecnologia com o intuito de desenvolvimento dos países não nucleares (artigos 4 e 5 do TNP).

O grande problema é que, na atual ordem internacional, as superpotências definem um limite para as atividades de cada país, não permitindo que os demais tenham o acesso que lhes é legítimo. Se há alguma tentativa que infrinja esse limite imposto, certamente o país sofrerá a forte reação das superpotências. O ato significaria a quebra de hegemonia dessas superpotências.

Algumas pessoas, em seus comentários, utilizam slogans como "Vivam as sanções" [coluna Moisés Naím, "Mundo", 15/2] e julgam o assunto nuclear iraniano baseando-se nas alegações propagandistas contra o Irã. Não avaliam os argumentos de ambas as partes, utilizando os princípios do TNP.

Esse julgamento equivocado será considerado como esforço para justificar as ações das superpotências e o uso da força.

Não é explicável como o avanço dos efeitos das sanções poderia ser uma boa notícia para certas pessoas. As medidas impedem a entrada de produtos como os medicamentos, causando sofrimento e riscos à saúde de doentes. Um ato explícito contra os direitos humanos.

Isso é soprar a trombeta pelo lado largo, é errado. A única solução para a questão nuclear iraniana é a apresentação e o tratamento corretos desse caso. Assim, a resolução tida como impossível não será mais difícil.

As nações signatárias dos tratados internacionais devem ter acesso aos seus direitos definidos nestes, sem impedimentos pelas superpotências. Hoje é o Irã e certamente amanhã serão outros países encontrando barreiras nos seus caminhos de desenvolvimento. Quando cruzarem os limites definidos pelos países poderosos, uma enxurrada de acusações surgirá contra eles.

Na verdade, um dos objetivos da imposição das sanções contra a República Islâmica do Irã é assustar outras nações que pretendem caminhar no mesmo trilho.

Hoje, a República Islâmica do Irã caminha no sentido do acesso à tecnologia nuclear para fins pacíficos e paga um custo que também servirá para abrir caminho para outros países. 

Ali Mohaghegh 40, é o responsável pela imprensa na Embaixada da República Islâmica do Irã no Brasil.

Fonte: Folha de S.Paulo