Dilma: controlar a inflação sem onerar os trabalhadores

Na véspera da reunião do Comitê de Política Econômica do Banco Central crescem as pressões pelo aumento nas taxas de juros e os jornais voltam a usar uma expressão que saiu de moda desde que o governo iniciou, há mais de um ano, a atual tendência de queda na taxa Selic: TPC, ou Tensão Pré Copom.

Por José Carlos Ruy

Dilma Rousseff, em Belo Horizonte

Os porta-vozes da especulação financeira estão afoitos e insistem em argumentos “técnicos” pela volta dos aumentos nos juros, para alimentar a ganância por ganhos fáceis, automáticos e garantidos.

Nunca é demais lembrar que cada ponto percentual de aumento nos juros oficiais garante volumes himalaicos de transferências para as contas bancárias dos especuladores.

Em dezembro de 2012 a dívida interna chegou a R$ 2,8 trilhões e a dívida externa a US$ 441,8 bilhões. Isto significa que cada 1% de aumento nas taxas de juros se traduziam em ganhos adicionais de R$ 28 bilhões e US$ 4,4 bilhões para os especuladores, sem haver riscos e investindo apenas no papel e tinta para a impressão dos jornais que defendem seus interesses.

Os investimentos financeiros são improdutivos, com dois efeitos perversos: esterilizam recursos necessários para aumentar a capacidade produtiva do país e encarecem o custo do dinheiro destinado às atividades produtivas e ao consumo.

A gritaria pelo fim da trajetória de quedas nas taxas de juros cresceu desde o mês março, quando a inflação oficial para os últimos doze meses foi de 6,59%.

Neoliberal quer juros altos e desemprego

Um dos mais veementes porta-vozes dos interesses especulativos, o economista neoliberal Alexandre Schwartsman, quer que os juros subam quatro pontos percentuais. Isto é, ele quer dar cerca de R$ 147 bilhões (que os quatro pontos pretendidos gerariam sobre as dívidas interna e externa) para as contas já empanturradas de seus patrões no mercado financeiro. E quer jogar o pagamento dessa conta sobre os ombros dos trabalhadores: o desemprego deveria, em sua opinião, aumentar para 7,5%. Medidas, disse, só "para começar o jogo".

Trata-se da receita conservadora e especulativa tradicional. Dizem que é necessário subir os juros e baixar os salários e o emprego para combater a inflação. Na opinião de pessoas como Schwartsman, a inflação sobe quando os salários crescem mais do que a produtividade. Ela resulta diz, “de um mercado de trabalho excessivamente aquecido, de uma taxa de desemprego muito baixa. Para combater a inflação, será preciso desafogar o mercado de trabalho”.

Mas não explica que “produtividade”, nesse raciocínio, não é uma maior produção de bens, mas sim o aumento na exploração do trabalho, com maiores ganhos para o capital: menos trabalhadores empregados significa uma carga maior de tarefas para os que ficam e, ao mesmo tempo, e menor capacidade de pressão por aumentos salariais, jornadas menores e melhores condições de trabalho.

No fim das contas, com um número menor de empregados a classe capitalista consegue produzir a mesma quantidade de mercadorias, ou mais, pagando salários menores. Este é o sentido da produtividade do trabalho defendida por economistas conservadores e neoliberais.

Crescimento com distribuição de renda

A presidenta Dilma Rousseff se insurge contra estas pretensões e tem garantido, de maneira insistente, que seu governo vai travar um combate acirrado contra a inflação sem prejudicar o emprego, a renda dos trabalhadores, e o consumo das famílias.

É o que ela reafirmou nesta terça-feira (16), num discurso em Belo Horizonte (MG), quando garantiu que o governo vai para atacar sistematicamente a inflação sem precisar usar o aumento dos juros, como se fez no passado. "Nós jamais voltaremos a ter aqueles juros que em qualquer necessidade de mexida, elevava o juros para 15% porque estava em 12% a taxa de juros real. Hoje nós temos uma taxa de juros real bem baixa. Qualquer necessidade para combater a inflação, será possível fazer num patamar bem menor."

E defendeu o crescimento econômico: “Não há a menor hipótese de o Brasil este ano não crescer”, declarando-se otimista em relação ao país. "Nós não negociaremos com a inflação, nós não teremos o menor problema em atacá-la sistematicamente. Queremos que esse país se mantenha estável", acrescentou.

O discurso da especulação não sensibiliza o governo. O caminho acenado por Dilma Rousseff para manter a inflação sob controle é outro. O Brasil, lembrou a presidenta, enfrenta o desafio de crescer e, ao mesmo tempo, distribuir renda. Nesse sentido, desonera a folha de pagamento de alguns setores para manter a competitividade, aumentar a produtividade, sem – nas palavras da mandatária – reduzir os direitos dos trabalhadores.

"Nós não fomos buscar na redução dos direitos dos trabalhadores um mecanismo pelo qual a gente aumentaria a produtividade, nós reduzimos a incidência de impostos sobre a folha de pagamentos", disse Dilma.