Milhares vão às ruas contra elevação dos juros

Milhares de trabalhadores se reuniram, na manhã desta quarta-feira (17), para protestar contra a alta dos juros, como têm defendido alguns economistas e porta-vozes do setor financeiro sob o argumento de conter a inflação. Os atos ocorreram em todo o país. Em São Paulo, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), juntamente com outras centrais, disse não à recessão na Avenida Paulista, em frente ao Banco Central.

Por Deborah Moreira, da redação do Vermelho


Manifestação em frente ao Banco Central da Av. Paulista, em São Paulo/fotos: Deborah Moreira

Também estiveram presentes trabalhadores da Força Sindical, União Geral de Trabalhadores e Nova Central. Para ironizar os argumentos dos defensores da política conservadora que incentivam a elevação da taxa de juros e usam o aumento dos alimentos, como o tomate por exemplo, os manifestantes fizeram um grande churrasco de tomates e sardinhas no calçadão da avenida.

No alto do carro de som, os dirigentes se revezaram nos discursos de alerta sobre a atual situação. Muitos que passavam pelo local paravam para ouvir.

“Lutar pelo fortalecimento da unidade do movimento sindical brasileiro em defesa de um projeto nacional de desenvolvimento e valorização do trabalho. Para que haja desenvolvimento é uma questão estratégica e essencial que a taxa de juros continue baixando, que o câmbio brasileiro seja competitivo e que acabemos com esse nefasto superávit primário que retira dinheiro de setores importantes da nossa economia”, exclamou Nivaldo Santana, vice-presidente da CTB, durante sua fala.

Ele lembrou que a grande mídia hegemônica tem contribuído para o “terrorismo midiático” promovido pelos especuladores, afirmando que a inflação teria fugido do controle: “É uma mentira deslavada. Defendemos medidas anti-inflacionárias como a desoneração da taxa de juros, além de medidas de rebaixamento dos custos importantes para o desenvolvimento, como o adiamento do reajuste das tarifas de ônibus, por exemplo”.

“Menos juros é mais emprego, menos juros é mais desenvolvimento, menos juro é garantia de que o setor produtivo nacional consiga reverter as dificuldades que estamos enfrentando”, concluiu.

Em entrevista ao Portal Vermelho, Nivaldo lembrou que o fundamental na busca do crescimento é a manutenção na política macroeconômica do governo, de redução de juros, que “não pode fraquejar, recuar e retomar a elevação”. O dirigente sindical disse que elevar a taxa faz parte de um conjunto de ações conservadoras, que também incluem valorização do câmbio e do superávit primário.

O que o movimento sindical defende é justamente o contrário: “Defendemos o desenvolvimento com valorização do trabalho, por isso a queda radical da taxa de juros é uma questão essencial. Portanto, as especulações de que o Copom [Comitê de Política Monetária] poderia retornar com a política de crescimento dos juros, é um ataque direto aos interesses dos trabalhadores, do setor produtivo e da economia nacional”.

Nivaldo lembrou, ainda, que o governo Dilma tem adotado uma série de medidas no sentido de retomar o crescimento como o rebaixamento da energia elétrica, estímulos à produção industrial, mas que, sem uma mudança na macroeconomia, o país não alcançará a retomada do crescimento.

“Alta dos juros é um remédio falido, toda a história recente do país, todas as vezes que se aumenta os juros a pretexto de combater a inflação, o que nós temos na verdade é a desaceleração da economia, diminuição no número de empregos e dificuldade, inclusive, do setor produtivo em investir mais. Por isso juros altos no país nunca mais”, reforçou.

Contra os banqueiros

O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, enfatizou que o país tem que continuar com a política atual, de redução dos juros. “O governo tem que manter a redução. Entendemos que qualquer pressão para elevar a taxa neste momento vem beneficiar os banqueiros, os especuladores. Por isso, as centrais sindicais decidiram fazer essa manifestação para cobrar a manutenção da redução da taxa de juros e que o país possa buscar caminhos de desenvolvimento a partir do investimento na infraestrutura, do aprimoramento da produtividade com qualificação profissional e na luta contra os interesses dos rentistas. Juros neste momento é ajudar banqueiro”, frisou Juruna durante a manifestação.

O dirigente da UGT, Canindé Pegado, fez coro com os demais sindicalistas, lembrando da importância de focar o crescimento na elevação do Produto Interno Bruto (PIB), com ampliação da balança comercial positiva.

“Não dá para engolir o argumento de que se controla a inflação através de juros altos, quando sabemos que o mais importante é o crescimento do país com o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto]. Os juros altos para controlar a inflação significam que na outra ponta teremos redução de consumo, preços mais caros e um mercado de trabalho enfraquecido, afetado pela falta de consumo. Com isso, cai o poder de compra e desacelera a geração de empregos”, completou.

Equação básica

José Paulo, diretor do Sindicato dos Servidores do Banco Central de são Paulo, presente no ato, detalhou o que ele chama de equação básica da economia. De acordo com o funcionário do Banco Central, a taxa de juros mexe diretamente com a vida dos consumidores e dos mais pobres, assim como a inflação. “Essa equação precisa ser mais bem entendida, as pessoas precisam discutir esse assunto. Porque não existe só a taxa de juros. Se o Banco Central restringir o crédito, ele afeta sim muito mais o consumo, muito mais a inflação, do que um aumento de meio por cento ou um por cento da taxa de juros. Só que esse meio ou um por cento a mais na taxa de juros aumenta a dívida pública e contamina toda a economia”, explicou.

“É preciso entender que não é só uma questão técnica. Se trata da renda saindo do bolso do trabalhador e do empresário que investe no país para o bolso de quem tá lá sentado no setor financeiro, tranquilo, fazendo lobby nos bancos de investimentos para que o banco central ceda à chantagem”, completou.

João Paulo ponderou que a inflação está relativamente sob controle há pelo menos 20 anos e que, mesmo com o aumento atual, há uma estimativa de que ela chegue no final do ano até 5,7%. Agora, a alta dos alimentos vem estrangulando a oferta com o aumento do consumo. “A produção não conseguiu acompanhar esse crescimento em alguns setores, então precisa aumentar a produção, aumentar o investimento. E se aumentar a taxa de juros vai ocorrer justamente o contrário: inibir os investimentos, a oferta e o consumo”, concluiu.

E isso, até a costureira autônoma Joana Pimentel, 67 anos, que aguardava ônibus próximo ao protesto, sabe. “Eu não acredito que essa alta possa favorecer a população, porque precisamos dos benefícios do governo. Com essa alta como a gente vai poder se movimentar. Com juros altos não temos acesso à compra, ao financiamento, ao parcelamento de contas mais altas”, lamentou Joana, que ainda não se aposentou e tem um rendimento médio de um salário mínimo mensal.

Unidade dos trabalhadores

Durante todo o ato, dirigentes e personalidades presentes fizeram questão de enfatizar a unidade dos trabalhadores. Quem também estava presente foi o deputado estadual Alcides Amazonas (PCdoB) que lembrou que foram os trabalhadores que deram condições da presidenta Dilma Rousseff se eleger.


Nivaldo Santana e o deputado comunista Alcides Amazonas durante o ato

“Foram os trabalhadores que deram a grande força para que ela fosse eleita presidenta, por isso, não pode virar as costas para os trabalhadores e atender a chantagem dos rentistas. São importantes as medidas como a redução da energia, a desoneração de impostos de produtos da cesta básica. Mas, tem que manter a redução dos juros. E só com mobilização é que vamos ter força para pressionar o governo”, declarou o parlamentar comunista, que foi motorista.