Capistrano: Portugal e a ofensiva neoliberal

Retornei de Portugal no dia 17 de abril passado. Estive na cidade do Porto, onde passei cinco dias. Lá, no dia 9 de abril, assisti a uma palestra de Jerônimo de Souza, Secretário Geral do Partido Comunista Português. O tema da palestra: “Por uma política e um governo patriótico e de esquerda”. Foi uma excelente exposição sobre o que fazer diante da crise portuguesa.

Por Antonio Capistrano*, para o Vermelho.

Em Lisboa, visitei a sede do Partido Comunista, que fica situada na Avenida da Liberdade, na mesma avenida da Praça Marquês de Pombal, próximo ao hotel Florida, onde fiquei hospedado.

Na visita que fiz ao PCP, conversei com o camarada Antonio Carrasco, pertencente à direção do Partido. Foi ele quem me recebeu em nome do Partido. A visita, antes da minha partida do Brasil, já estava agendada. Foi um bom papo, conversamos sobre a crise europeia e a situação da América Latina.

Durante a minha estadia em Portugal ocorreram dois fatos de repercussão internacional, fatos que tem muito a ver com o neoliberalismo e com a crise atual do capitalismo.

A morte da ex-primeira ministra Margaret Thatcher, a famosa dama de ferro, incentivadora do neoliberalismo. Foi ela, juntamente com o presidente norte-americano Ronald Reagan, quem tramou o plano de desestabilização dos países socialistas do leste europeu e impôs uma política neoliberal aos países do terceiro mundo.

Nos países da América Latina, inclusive no Brasil, o Estado foi praticamente desmontado. Privatizar era a ordem, mesmo que as consequências dessas privatizações fossem desastrosas para o povo.

Outro fato significativo ocorrido naqueles dias foi à eleição presidencial na Venezuela. Havia uma expectativa muito grande sobre o resultado do pleito, essa eleição era muito importante para o futuro da América Latina, a vitoria de Maduro representava a continuidade da política antineoliberal implementada por Hugo Chávez, além, é claro, do fortalecimento do MERCOSUL e da UNASUL, organismos fundamentais para a autodeterminação dos países da América do Sul.

O chavismo e o lulismo são muito emblemáticos na derrocada do neoliberalismo no continente latino-americano e muito admirados pela esquerda europeia.

No sábado, 13 de abril, foi realizada em Lisboa uma grande marcha pelo futuro, contra o empobrecimento e pela mudança de política e de governo. Fui convidado a participar, mas, infelizmente não pude ir, pois já tinha um compromisso marcado.

A marcha foi um êxito em todo o país, o povo protestou contra as medidas neoliberais do governo do Primeiro-Ministro Passos Coelho.

Em Lisboa, sob a coordenação da CGTP (Central Geral dos Trabalhadores Portugueses), os trabalhadores demonstraram a sua insatisfação contra qualquer tentativa de cortes nas verbas para a educação e para a saúde. As conquistas sociais e trabalhistas são intocáveis. O que me alegrou foi a unidade das forças de esquerda em defesa do país e do seu povo. Me alegrou e me encheu de esperança.

Portugal está vivendo uma profunda crise econômica, financeira e política. O desemprego e a incerteza sobre o futuro do país tem estimulado uma ofensiva neoliberal. Ofensiva essa que tem preocupando a classe trabalhadora. Todos sentem ameaçadas as conquistas históricas do povo português, a ordem da troika (FMI) é cortar gastos e retirar conquistas. É a mesma história de sempre: quem deve pagar a conta das crises do capitalismo é o trabalhador. Isto tem preocupado o povo português e os partidos de esquerda, principalmente o Partido Comunista.

O povo nas ruas de Lisboa vem demonstrado a sua insatisfação, não aceita imposição da troika (FMI). A CGTP – Central Geral dos Trabalhadores Português, coordenadora da marcha, está conseguindo unir todas as forças de esquerda na mesma luta. Dizer não às propostas indecentes da troika e lutar pela ampliação das conquistas dos trabalhadores portugueses. Essa é a bandeira de luta das forças progressistas do país.

Os meses de abril e de maio prometem ser de muita mobilização, de muita luta por parte da oposição. Os trabalhadores do campo e da cidade estarão nas ruas exigindo mudanças. O mês de abril com as comemorações do dia 25, data comemorativa da Revolução das Rosas, fim da ditadura portuguesa e o 1º Maio, com as comemorações do Dia do Trabalhador, certamente marcarão, com manifestações e protestos, contra a tentativa da imposição de medidas antipopulares e neoliberais.

Vale salientar que essa crise afeta toda Europa e os Estados Unidos. São as crises cíclicas do capitalismo. A América Latina tenta se proteger dessa ofensiva, principalmente os países que conseguiram se libertar das amarras do neoliberalismo. Portanto, fica o alerta: trabalhadores de todo mundo, uni-vos.

*Antonio Capistrano é ex-reitor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e filiado ao PCdoB .