Capistrano: Portugal e a ofensiva neoliberal
Retornei de Portugal no dia 17 de abril passado. Estive na cidade do Porto, onde passei cinco dias. Lá, no dia 9 de abril, assisti a uma palestra de Jerônimo de Souza, Secretário Geral do Partido Comunista Português. O tema da palestra: “Por uma política e um governo patriótico e de esquerda”. Foi uma excelente exposição sobre o que fazer diante da crise portuguesa.
Por Antonio Capistrano*, para o Vermelho.
Publicado 24/04/2013 15:00 | Editado 04/03/2020 17:07
Na visita que fiz ao PCP, conversei com o camarada Antonio Carrasco, pertencente à direção do Partido. Foi ele quem me recebeu em nome do Partido. A visita, antes da minha partida do Brasil, já estava agendada. Foi um bom papo, conversamos sobre a crise europeia e a situação da América Latina.
Durante a minha estadia em Portugal ocorreram dois fatos de repercussão internacional, fatos que tem muito a ver com o neoliberalismo e com a crise atual do capitalismo.
A morte da ex-primeira ministra Margaret Thatcher, a famosa dama de ferro, incentivadora do neoliberalismo. Foi ela, juntamente com o presidente norte-americano Ronald Reagan, quem tramou o plano de desestabilização dos países socialistas do leste europeu e impôs uma política neoliberal aos países do terceiro mundo.
Nos países da América Latina, inclusive no Brasil, o Estado foi praticamente desmontado. Privatizar era a ordem, mesmo que as consequências dessas privatizações fossem desastrosas para o povo.
Outro fato significativo ocorrido naqueles dias foi à eleição presidencial na Venezuela. Havia uma expectativa muito grande sobre o resultado do pleito, essa eleição era muito importante para o futuro da América Latina, a vitoria de Maduro representava a continuidade da política antineoliberal implementada por Hugo Chávez, além, é claro, do fortalecimento do MERCOSUL e da UNASUL, organismos fundamentais para a autodeterminação dos países da América do Sul.
O chavismo e o lulismo são muito emblemáticos na derrocada do neoliberalismo no continente latino-americano e muito admirados pela esquerda europeia.
No sábado, 13 de abril, foi realizada em Lisboa uma grande marcha pelo futuro, contra o empobrecimento e pela mudança de política e de governo. Fui convidado a participar, mas, infelizmente não pude ir, pois já tinha um compromisso marcado.
A marcha foi um êxito em todo o país, o povo protestou contra as medidas neoliberais do governo do Primeiro-Ministro Passos Coelho.
Em Lisboa, sob a coordenação da CGTP (Central Geral dos Trabalhadores Portugueses), os trabalhadores demonstraram a sua insatisfação contra qualquer tentativa de cortes nas verbas para a educação e para a saúde. As conquistas sociais e trabalhistas são intocáveis. O que me alegrou foi a unidade das forças de esquerda em defesa do país e do seu povo. Me alegrou e me encheu de esperança.
Portugal está vivendo uma profunda crise econômica, financeira e política. O desemprego e a incerteza sobre o futuro do país tem estimulado uma ofensiva neoliberal. Ofensiva essa que tem preocupando a classe trabalhadora. Todos sentem ameaçadas as conquistas históricas do povo português, a ordem da troika (FMI) é cortar gastos e retirar conquistas. É a mesma história de sempre: quem deve pagar a conta das crises do capitalismo é o trabalhador. Isto tem preocupado o povo português e os partidos de esquerda, principalmente o Partido Comunista.
O povo nas ruas de Lisboa vem demonstrado a sua insatisfação, não aceita imposição da troika (FMI). A CGTP – Central Geral dos Trabalhadores Português, coordenadora da marcha, está conseguindo unir todas as forças de esquerda na mesma luta. Dizer não às propostas indecentes da troika e lutar pela ampliação das conquistas dos trabalhadores portugueses. Essa é a bandeira de luta das forças progressistas do país.
Os meses de abril e de maio prometem ser de muita mobilização, de muita luta por parte da oposição. Os trabalhadores do campo e da cidade estarão nas ruas exigindo mudanças. O mês de abril com as comemorações do dia 25, data comemorativa da Revolução das Rosas, fim da ditadura portuguesa e o 1º Maio, com as comemorações do Dia do Trabalhador, certamente marcarão, com manifestações e protestos, contra a tentativa da imposição de medidas antipopulares e neoliberais.
Vale salientar que essa crise afeta toda Europa e os Estados Unidos. São as crises cíclicas do capitalismo. A América Latina tenta se proteger dessa ofensiva, principalmente os países que conseguiram se libertar das amarras do neoliberalismo. Portanto, fica o alerta: trabalhadores de todo mundo, uni-vos.
*Antonio Capistrano é ex-reitor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e filiado ao PCdoB .