Comissão colhe dados sobre as mortes de Danielli e Ghilardini

O processo de tortura que levou à morte dois membros do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil, Carlos Nicolau Danielli e Luiz Ghilardini, foi pauta da comissão estadual da verdade “Rubens Paiva” na tarde desta quinta-feira (25).

Os relatos não foram muito diferentes de outras descrições de tortura. Nos dois casos, as forças repressoras propagaram que os militantes comunistas foram mortos em tiroteio.

Após ser preso na região central de São Paulo, Danielli foi levado para o Doi-Codi onde passou por três dias de tortura sob o comando do major Carlos Alberto Brilhante Ustra e também pelo delegado Aparecido Laerte Calandra, conhecido como Capitão Ubirajara.

Lembrado por sua abnegação por militantes que atuavam com ele, Danielli desde os seus 15 anos já integrava o movimento sindical e em 1954 foi eleito para o comitê Central do Partido Comunista do Brasil.

Sem delatar o que os repressores queriam saber, o dirigente comunista, em meio aos gritos de dor, falava em alto e bom som: “É disso [sobre a Guerrilha do Araguaia] que vocês querem saber? Pois é comigo mesmo, só que eu não vou falar”, relembrou Amélia Teles.

Sem dizer absolutamente nada, no quarto dia de tortura o dirigente comunista não aguentou as sessões de violência e faleceu aos 43 anos.

Luiz Ghilardini

Depois de matar Carlos Nicolau Danielli, o major Ustra orientou que trouxessem outro militante, era o santista Luiz Ghilardini, também dirigente do Comitê Central Comunista.

Ghilardini trabalhou no Porto de Santos e foi membro do comitê regional dos marítimos. Em 1962 entrou no PCdoB e em 1966 foi eleito para a direção nacional do partido.

Segundo o relato que sua esposa fez alguns anos depois e que foi lido durante a reunião, a casa da família foi invadida por 13 homens armados e ali mesmo começaram a torturas. Além de Luiz, a esposa Orandina e seu filho, Gino, que tinha apenas oito anos também foram torturados.

Na sede do DOI-CODI, as sessões de tortura continuaram e Gino era violentando para forçar Luiz a falar o que sabia. “Eu ouvia meu pai ali perto gemendo, eu escutava mas não podia fazer nada. Só sei que sentia muito medo”, registrou Gino em depoimento.

Quando Orandina questionou onde estava seu marido, um policial lhe falou que Luiz tinha resistido a falar qualquer e por isso ele morreu. “Seu homem bancou o durão e foi para o inferno e você está a caminho de ir também”, depôs há alguns anos a companheira de Ghilardini.

Exemplos de luta pela democracia

Representando o PCdoB na mesa, o presidente municipal Jamil Murad leu a notícia impressa no jornal A Classe Operária, de final de março de 1973, anos das mortes de Carlos Danielli, Lincoln Oest, Luiz Ghilardini e Lincoln Bicalho Roque, assassinados naquele ano.

“O Comitê Central do Partido Comunista do Brasil inclina suas bandeiras de combate em homenagem aos camaradas assassinados pela reação. Carlos Danielli, Lincoln Oest, Luiz Ghilardini e Lincoln Bicalho Roque, cumpriram com honra o seu dever de revolucionários. Deram suas vidas heroicamente em defesa da causa do proletariado e do povo. Foram batalhadores incansáveis em prol dos direitos e da emancipação dos explorados e oprimidos. São exemplos de dedicação ao Partido da classe operária, de militância resoluta para fortalece-lo em todos os sentidos. Seus nomes jamais serão esquecidos”.

Para Jamil, é no resgate da história recente do Brasil que a democracia se consolidará. “A nossa presença nesta reunião tem a finalidade de cumprir o que escrevemos há 40 anos na A Classe Operária, que é cumprir o compromisso trilhado por esses combatentes de construir a democracia, defender a nossa luta e cumprir a missão transformadora na sociedade brasileira no presente e no futuro”.

Amanhã, dia 26 de abril, às 10h30, a pauta da comissão da verdade será os casos dos militantes do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), Aderval Alves Coqueiro, Devanir José de Carvalho, Dimas Antônio Casemiro e Joaquim Alencar de Seixas

Serviço:
Reunião da Comissão Estadual da Verdade “Rubens Paiva”
Data: 26/04, sexta-feira a partir das 10h30
Local: Auditório Teotônio Vilela, 1º andar – Alesp
End.: Avenida Pedro Álvares de Cabral, 201 – Ibirapuera

Da redação em São Paulo, 
Ana Flávia Marx