Fórum Econômico Mundial para AL debate crescimento na região
O 8º Fórum Econômico Mundial para a América Latina e o Caribe oscilou entre discursos otimistas sobre o crescimento em diversos países da região e a tarefa pendente de fazer que os benefícios desse bom momento cheguem a todos os setores da sociedade e conseguir que se reduza a desigualdade e melhorem áreas sociais como a educação.
Por Manuel Robles Sosa*, na Prensa Latina
Publicado 26/04/2013 19:03
Do encontro realizado entre 23 e 25 de abril participaram os presidentes do Peru, Ollanta Humala; México, Enrique Peña Nieto, e Panamá, Ricardo Martinelli, assim como dezenas de ministros de Economia e outras carteiras, e centenas de funcionários públicos internacionais, tecnocratas e empresários para dialogar sobre os problemas do desenvolvimento.
Para o governo anfitrião, foi uma oportunidade de expor suas conquistas em matéria de crescimento econômico e os programas da política de inclusão social, que inclui a criação de um ministério específico e que são a base da alta aprovação do chefe de Estado.
O próprio Humala, além de ratificar a mesma política econômica desde que assumiu o governo, apontou à necessidade de inclusão, matéria de uma das mesas de trabalho mais destacadas, a que tratava do tema de "inovação social". A necessidade de fazer que os benefícios do crescimento cheguem a todos, segundo o mandatário anfitrião, exige transformar o Estado para que deixe de servir só 20% da população como acontece tradicionalmente, e sirva todos os peruanos.
Além disso, Humala propôs também que chegou o momento de ir a um equilíbrio entre a forte presença estatal na economia e a redução do Estado ao mínimo, conceito que dominou as duas últimas décadas de privatizações massivas.
O mandatário mexicano Peña Nieto expressou que o bom momento econômico regional deve ser aproveitado para implementar reformas orientadas a reduzir a pobreza e a desigualdade, e indicou que o "México hoje se encontra com a impreterível necessidade de apostar pela diversificação, e para isso deve elevar e democratizar sua produtividade".
A necessidade de maior ênfase social no desenvolvimento mereceu também reflexões da secretária executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Alicia Bárcena, quem destacou o exemplo do Brasil.
Bárcena explicou que é necessário chegar à igualdade social para consolidar um crescimento sustentado e usou como exemplo o Brasil, que estimulou o consumo nos setores sociais de menor renda e conseguiu reduzir a brecha da desigualdade, e assim conseguiu consolidar o crescimento macroeconômico.
Esse modelo, acrescentou, deveria ser imitado por países como o Peru, país que elogiou pelo mérito de ter criado o Ministério de Desenvolvimento e Inclusão Social.
A funcionária advertiu, no entanto, que os programas sociais não servem para nada se não aumentarem o emprego e melhorarem a produtividade, mediante a inovação ou o desenvolvimento tecnológico e não às custas dos trabalhadores ou da exploração de recursos naturais.
"Os países com rendas extraordinárias devido a recursos naturais devem substituir essa fonte de renda por outras atividades produtivas e ampliar a base tributária", sugeriu.
A organização não governamental Oxfam chamou os participantes do Fórum a se comprometer com o combate à pobreza e à desigualdade.
Na declaração avisam que, apesar do crescimento econômico e da redução da pobreza nos últimos anos, a América Latina continua sendo a região com maior desigualdade do mundo.
A constatação se apoia em cifras da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), segundo as quais o 10% mais rico da população recebe 32% da renda total, enquanto que os 40% mais pobres recebem só 15%.
"Faz falta que os líderes políticos e econômicos assumam um compromisso real e adotem medidas concretas para enfrentar este problema, fomentando um desenvolvimento econômico sustentável, que faça um uso responsável dos recursos naturais", disse Françoise Vanni, representante da Oxfam para América Latina e Caribe.
Depois de apontar ao paradoxo de que 49 milhões de latino-americanos passam fome, apesar da região ser uma grande produtora de alimentos, disse que não se pode falar de crescimento econômico e de redução da pobreza e desigualdade sem garantir o acesso da população a uma alimentação adequada.
"Os critérios de mercado não podem estar acima deste direito básico", afirmou.
Disse também que isso não contradiz as políticas de abertura ao investimento; explicou que estas, nas condições adequadas, podem melhorar as condições de vida e criar emprego, chamando os investidores e empresários a trabalhar com altos padrões sociais, trabalhistas e ambientais que vão inclusive para além do que estabelecem as leis nacionais.
Manuel Robles Sosa é correspondente da Prensa Latina no Peru