Governo israelense elabora planos para expulsão de beduínos

Membros dos quatro partidos líderes da coalizão governante em Israel chegaram em um acordo que cortará ainda mais as terras designadas para o reassentamento da população beduína no deserto Negev (Naqeb), segundo reportagem do diário israelense Ma’ariv, nesta sexta-feira (26).

Por Noam Sheizaf*, para a +972 Magazine 

Vila beduína no deserto de Negev - Alberto Denkberg / Haaretz

Os sucessivos governos israelenses têm trabalhado em uma política que poderia resolver a questão das vilas beduínas que não são reconhecidas no Negev pela última década.

Sob o mais recente plano, comumente denominado Plano Prawer (aprovado em 2011 pelo governo, para expulsão dos beduínos do deserto), o governo expulsaria forçosamente entre “milhares” (de acordo com o governo) e até 30.000 palestinos beduínos das suas vilas atuais, enquanto várias vilas seriam reconhecidas e se tornariam elegíveis a serviços e infraestrutura do governo.

Os beduínos designados à remoção das suas casas receberão compensação monetária e realojados em novas casas de vilas que já existem.

Nesta sexta, entretanto, a reportagem do Ma’ariv afirma que membros proeminentes do Knesset (parlamento israelense), de todos os grandes partidos da coalizão, concordaram em aprofundar o limite do Plano Prawer. Membros do partido Yesh Atid, de Yair Lapid (atual ministro das Finanças, nacionalista-ortodoxo de direita), o Likud do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e o Lar Judeu, dos colonos (assentados em terras palestinas) decidiram remover as modificações feitas no plano pelo ex-ministro Benny Begin, nomeado pelo governo anterior para ajustar o desenho original às necessidades da população local.

Enquanto líderes beduínos e grupos de defesa de direitos não estão satisfeitos com o trabalho do Begin, suas negociações com a população local foram escrutinadas pela direita, que exigiu que o governo evacuasse forçosamente a maior parte das vilas não reconhecidas, e se opuseram a qualquer negociação com os cidadãos beduínos locais.

Os partidos da coalizão concordaram em remover do plano muito das terras que Begin prometeu aos beduínos, e também em colocar um limite de cinco anos para remover a população dos seus lares atuais e a realocarem em zonas designadas pelo antigo Plano Prawer. Durante esse período, os beduínos podem recorrer, em casos individuais, aos tribunais, mas toda a terra beduína remanescente será apagada depois de cinco anos.

Cerca de 65.000 cidadãos beduínos palestinos em Israel vivem em 59 vilas não reconhecidas no deserto de Negev, em parte porque Israel resolveu não reconhecer muitas reivindicações beduínas à terra nos primeiros anos do Estado. Outras vilas não reconhecidas surgiram como consequência das transferências da população e da migração durante e depois da guerra de 1948 (quando o Estado de Israel foi estabelecido, mas o Palestino foi negligenciado).

Despojadas de serviços e infraestrutura do governo, as vilas expandiram-se de forma desorganizada e não planejada, o que resultou em acusações de que os beduínos estão “tomando” o Negev.

Nos anos 1970, o governo encorajou a população beduína a registrar suas reivindicações territoriais, mas elas não foram reconhecidas. O Plano Prawere representa o maior esforço para o reassentamento da população palestina em uma área sob o controle israelense atualmente (que, entretanto, inclui os territórios palestinos ocupados da Cisjordânia).

Não está claro que nível de cooperação ou resistência a população beduína mostrará se o governo israelense proceder com a implementação do plano. O evento mais recente, entretanto, aumenta a probabilidade de um confronto entre os beduínos e o governo.

Noam Sheizaf é um jornalista israelense que escreve para a +972 Magazine
Fonte: +972 Magazine
Tradução: Moara Crivelente, da redação do Vermelho