MK Bhadrakumar: Questão síria ultrapassa a linha vermelha

A questão síria sofreu mudança significativa, depois dos últimos pronunciamentos dos EUA, de que teriam sido usadas armas químicas nos confrontos. A declaração feita pelo secretário de Defesa Chuck Hagel na quinta-feira (25), durante visita a Abu Dhabi, e que desdiz o que ele próprio dissera no início da semana, somada à carta que a Casa Branca enviou ao senador John McCain, podem ter mudado, da noite para o dia e para pior, o quadro na Síria.

Por MK Bhadrakumar*, no Indian Punchline

Segundo o que disseram os norte-americanos, o regime sírio teria cruzado a “linha vermelha” que, nas palavras do presidente Barack Obama, dispararia a intervenção ocidental.

O senador McCain imediatamente exigiu que os EUA passem a fornecer armas aos rebeldes sírios. Apesar de a carta da Casa Branca ainda repetir que é preciso esperar confirmações de fontes da inteligência dos EUA, não há dúvidas de que aumentam as pressões para que Obama “faça mais” na Síria.

Não há dúvidas de que é novidade e ponto de virada. Não se pode esquecer que essa virada na posição dos EUA acontece imediatamente depois da reunião de ministros de Relações Exteriores da Otan em Bruxelas, na qual a Síria foi o principal item da agenda. O secretário de Estado John Kerry disse diretamente que a Otan prepare-se para responder.

Significativamente, Israel e Reino Unido também acusaram o regime sírio de ter usado armas químicas. A declaração de Israel coincidiu com a visita de Hagel a Telavive. Tudo isso sugere um alto grau de coordenação entre EUA, Reino Unido e Israel, que explica essas declarações simultâneas.

Rússia e China serão pressionadas para que desistam e permitam que a ONU inicie processo de investigação. O secretário-geral Ban Ki-moon já disse que a ONU prepara-se para acusar a Síria por uso de armas de destruição em massa, o que, é claro, pode ser o primeiro passo rumo a uma arriscada intervenção na Síria – que muito provavelmente terá consequências tão daninhas e perigosas quanto a intervenção no Iraque.

*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Times Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

Fonte Redecastorphoto. Traduzido pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu. Título do Vermelho