Ode ao Maracanã

*Por Aldo Rebelo

Reforma Maracanã - Portal Copa 2014

Os ingleses inventaram o futebol e em 1923 construíram o primeiro templo do esporte, o Estádio de Wembley. O Brasil refinou “o violento esporte bretão” numa forma de arte e para celebrá-lo, em palco mais venerável, ergueu em 1950 o colosso do Maracanã. Modernizado em grande reforma, o estádio está sendo devolvido ao talento dos craques que em seu tapete verde fazem coreografias de bailarino.

Anfiteatro do futebol e palco da irreverência popular (“No Maracanã se vaia até o minuto de silêncio”, disse Nelson Rodrigues), nenhuma praça de esportes reuniu mais aficionados. Os números são controversos, mas muitos jogos tiveram mais de 150 mil torcedores e à final da Copa de 1950 se diz que foram 199.854 pessoas. As reformas que o encurtaram tiraram-lhe o galardão de “maior do mundo”, título que hoje está com o Estádio Primeiro de Maio Rungrado, na Coréia do Norte, arena de 150 mil lugares. Na poeira da mudança se foram tipos como o geraldino, torcedor ambulante da antiga geral, onde o ingresso era mais barato e mal se via o jogo, mas o prazer era ficar em pé e cantar a jogada.

Oxalá o novo Maracanã, guarnecido pela intocada fachada sexagenária que lhe conserva a aura, continue a receber o mais belo espetáculo de torcidas do mundo. A massa humana incansável e rítmica funde Carnaval e futebol em alegorias de arquibancada, com bandeiras, papel picado, cantos e o pó de arroz a dar o efeito de uma névoa que simboliza a evaporação da paixão pelo clube.

Caso raro de uma praça de esportes que se entranhou no imaginário da nação, o Maracanã se renova para continuar a eternizar-se também no cinema, na música, na literatura, na política – a ponto de legitimar a licença poética do compositor Aldir Blanc: “Quando as pirâmides do Egito forem esquecidas e o Coliseu não passar de um montículo de pó, ainda se falará do Maracanã”.

*Aldo Rebelo é ministro do esporte e deputado federal licenciado pelo PCdoB

Artigo publicado no jornal O Diário de S. Paulo