Israel: ONU denuncia efeito da ocupação sobre economia palestina

Um relatório da Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês) confirmou, nesta quinta-feira (9), que as políticas israelenses em Jerusalém Leste (porção palestina da cidade) desde a sua ocupação e anexação em 1967, intensificadas a partir dos Acordos de Oslo (1993) prejudicaram o desenvolvimento da economia e criaram muitos problemas socioeconômicos aos residentes palestinos.

Muro israelense - Reuters

De acordo com o relatório, intitulado “A Economia Palestina em Jerusalém Leste: Resistindo à Anexação, Isolamento e Desintegração”, a deterioração das condições socioeconômicas em Jerusalém Leste teve um impacto significativo nos seus residentes palestinos, em seus padrões de vida, habitação, saúde e educação.

“O peso da economia em Jerusalém Leste tem diminuído frequentemente com relação ao resto dos territórios palestinos ocupados desde a assinatura da Declaração de Princípios sobre Acordos para um Auto-Governo Interino, de 1993, conhecida como Acordos de Oslo, e com relação a acordos israelense-palestinos”, afirma o relatório.

“Esta queda, em grande parte, foi resultado de uma vastidão de políticas israelenses que prejudicaram o desenvolvimento da economia em Jerusalém do Leste como uma parte integral da economia geral da Palestina e de seu mercado de trabalho”, continua.

O relatório também afirma que as políticas israelenses têm promovido uma “integração” parcial e distorcida da economia de Jerusalém Leste a Israel e ao seu quadro regulatório. Enquanto isso, a região tem sido gradualmente destacada do resto da economia palestina, “apesar da posição histórica da cidade como o centro comercial, cultural, de transportes e turismo para os palestinos de todo o território ocupado”, explica.

A UNCTAD diz neste que é o seu primeiro relatório sobre este tema específico que desde o começo da expansão da ocupação, em 1967, as autoridades israelenses começaram a realizar uma política de segregação física, política e econômica da Jerusalém Leste do resto do território palestino ocupado.

“As estratégias de segregação ganharam espaço durante a última década, através de medidas que alteraram as realidades físicas e demográficas da cidade e da sua paisagem, predominantemente árabe e palestina. Elas incluem a anexação da cidade e a expansão dos assentamentos judeus dentro e ao redor de Jerusalém Leste, assim como a construção da barreira de separação, que tem redefinido efetivamente as fronteiras para além da linha pré-armistício de 1967”, de acordo com o relatório.

   Haaretz

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“A barreira de separação, entre outros obstáculos ao movimento, prejudica a entrada e a saída de Jerusalém Leste, corta [a cidade] do resto da Cisjordânia, das suas áreas adjacentes naturais, e prejudica o acesso aos mercados e serviços de saúde pelos palestinos habitantes de Jerusalém agora vivendo do outro lado da barreira, nominalmente sob a jurisdição da Autoridade Palestina. A expropriação de terra por Israel e as restrições de atividades de construção aumentaram recentemente”, completa.

O relatório explica que, por causa das medidas israelenses, a economia de Jerusalém Leste está num mundo afastado das duas economias, a palestina e a israelense, à qual é ligada.

“Ela está ao mesmo tempo integrada a nenhuma delas, mas estruturalmente dependente da economia da Cisjordânia para sustentar a sua produção e comércio de bens e serviços para a criação de empregos, e forçosamente dependente dos mercados israelenses, cujas regulações e sistemas deve cumprir e que servem como uma fonte de emprego e comércio assim como o principal canal de turismo da cidade”, esclarece o relatório.

A UNCTAD sugeriu várias ações “que podem ajudar a mitigar os efeitos das políticas de segregação, mas os pré-requisitos para um desenvolvimento sustentável exige o fim do assentamento e da ocupação israelense em Jerusalém Leste, de acordo com resoluções relevantes da ONU”.

O órgão diz ainda que a ação “conferiria significativos benefícios à economia palestina em geral e à de Jerusalém Leste em particular, especialmente nos setores de turismo e serviços”.

O relatório afirma também que “intervenções efetivas a curto-prazo incluem maior coordenação e planejamento entre organizações internacionais, órgãos semi-governamentais e não-governamentais que operam em Jerusalém Leste, e a provisão de apoio direcionado a setores específicos, como turismo, habitação e serviços”.

Fonte: Wafa
Tradução: Moara Crivelente, da redação do Vermelho