José Reinaldo: Traços da situação internacional – Parte 5 (final)

Atualmente, desenvolvem-se no mundo lutas de variados tipos e intensidades, nos mais diversificados cenários. Estas lutas são reveladoras das potencialidades revolucionárias do processo de acumulação de forças em curso. 

Por José Reinaldo Carvalho*

Mesmo que ainda num quadro de defensiva estratégica, de dificuldades políticas, ideológicas e orgânicas do movimento comunista e revolucionário, os trabalhadores e os povos se insurgem contra a opressão e a exploração capitalistas, contra o intervencionismo, o militarismo e o belicismo e ocupam o cenário político como protagonistas incontornáveis da luta pela emancipação nacional e social.


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Os comunistas encaram com otimismo histórico a perspectiva de desenvolvimento da luta dos trabalhadores e dos povos em defesa dos seus direitos, da democracia, do progresso, da justiça, da soberania nacional, da paz e do socialismo. Como afirmou o líder histórico da Revolução Cubana, Fidel Castro, “a humanidade não tem outra alternativa do que mudar de rumo”.

Esta mudança não virá espontaneamente nem como resultado automático dos novos arranjos econômicos e políticos em gestação. Será fruto da resistência, da mobilização social e da luta em múltiplas vertentes e cenários, lutas que já estão em curso, protagonizadas por governos socialistas, revolucionários, progressistas, de esquerda, por partidos de vanguarda, movimentos sociais, movimentos revolucionários e de libertação nacional, em que se destaca o insubstituível papel das classes trabalhadoras, da juventude, das mulheres, da intelectualidade progressista, as rebeliões das massas populares, os movimentos de resistência às guerras imperialistas de agressão e ocupação de países, as lutas de libertação nacional.

No curso do desenvolvimento dessas lutas, emerge e fortalece-se a solidariedade internacional, o internacionalismo dos povos, o internacionalismo das massas como traço essencial da ética e da linha política do movimento comunista, dos movimentos populares e progressistas.

O internacionalismo, a solidariedade entre povos, estão intrinsecamente ligados ao patriotismo. Só é internacionalista aquele que ama seu país e luta pela emancipação nacional e social de seu povo. E só é verdadeiramente patriota quem sabe que os combates pela independência nacional não terão consequência se não estiverem vinculados com as lutas dos demais povos irmãos.

O conteúdo fundamental que define a ação internacionalista hoje é o anti-imperialismo. O objetivo central é derrotar as estratégias do imperialismo norte-americano, sua política de guerra, seu conservadorismo, seus dogmas neoliberais, a ofensiva brutal que move contra a paz, a soberania nacional, a democracia e os direitos dos povos.

Na América Latina, as contradições econômicas e políticas geraram um cenário de luta com peculiaridades históricas, cujo resultado foram vitórias políticas e eleitorais de forças progressistas, democráticas e populares, o que criou uma tendência para a obtenção de conquistas nos planos democrático, dos direitos sociais e da afirmação das aspirações patrióticas dos povos, como também da integração com soberania.

A América Latina está vivendo, desde 1998, com a eleição do presidente venezuelano Hugo Chávez, uma etapa inédita em sua história política desde a primeira independência há 200 anos. Desde então, ocorreram muitas vitórias políticas eleitorais, inclusive no Brasil, fruto da acumulação de forças pelos povos, que levaram ao poder coalizões progressistas. Hoje, boa parte dos países da região é dirigida por governos democráticos, populares e anti-imperialistas que estão contribuindo para alterar a geopolítica mundial. O sentido mais geral dos fenômenos em curso na região é a formação de uma corrente transformadora e a acumulação de vitórias dos povos e países em termos de independência, soberania, democracia, mecanismos de participação popular, justiça, desenvolvimento e progresso social.

Estão em construção mecanismos de integração regional que permitem assumir posições vantajosas em um cenário mundial de crise econômica e acentuados conflitos, abrindo a possiblidade de edificar novas alternativas para o desenvolvimento e de constituir um polo geopolítico que produz novas correlações de forças.

A maior expressão desse fenômeno é a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).

A fundação da Celac, em dezembro de 2011, em Caracas, Venezuela, foi um acontecimento de tamanha dimensão que o líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, disse tratar-se do acontecimento institucional mais importante da região no espaço de um século. E o presidente Raúl Castro, ao intervir na reunião de fundação, destacou o caráter transcendental do fórum, reivindicando “mais de dois séculos de lutas e esperanças”. Ainda de acordo com o mandatário, a região "persevera em seus objetivos de independência, soberania, desenvolvimento e integração; sabendo que sem justiça social e uma distribuição mais equitativa da riqueza isso não seria possível".

A Celac afiança-se como instrumento de diálogo e defesa da identidade, aspirações e culturas regionais, sob os princípios básicos da inclusão dos 33 países independentes da América Latina e Caribe e sem a pretensão de substituir os mecanismos existentes. Dessa maneira, emerge como um dos fatores propulsores de novos equilíbrios de forças no mundo, um ator diferenciado na cena internacional, contraposto ao hegemonismo do imperialismo estadunidense, credenciado, portanto, para contribuir para o advento de nova ordem política e econômica mundial.

A importância histórica dos atuais processos de integração na América Latina se agiganta quando se tem presente que há bem pouco tempo a organização com aparência de multilateralismo que existia na região era a famigerada Organização dos Estados Americanos (OEA), instrumento dócil e serviços aos interesses da grande potência do Norte. Observe-se também que a Celac não se contrapõe, antes contempla e incorpora, outras experiências precedentes de integração na região, como a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União das Nações do Sul (Unasul).

Os fenômenos de caráter econômico e político em curso na conjuntura política latino-americana fazem parte das transições do mundo contemporâneo, e guardam relação direta com a busca por novos equilíbrios, pela conquista de novo ordenamento político e econômico, pela justiça, o progresso e a paz.

No quadro atual da vida política latino-americana, um dos fatos de maior relevância é o diálogo de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo nacional. A paz na Colômbia é uma das principais reivindicações dos movimentos populares, democráticos, patrióticos e anti-imperialistas da América Latina, entre eles as próprias Farc. Se concretizada, será uma vitória destas forças e uma derrota dos militaristas, fascistas, paramilitares, narcotraficantes e demais agentes do imperialismo na Colômbia e na América Latina. Uma derrota também dos círculos que desde os Estados Unidos apostaram durante décadas em soluções militaristas, intervencionistas e no aniquilamento das forças insurgentes. O anúncio do diálogo e das negociações de paz entre o governo colombiano e a organização política e insurgente Farc, assim como a emergência da marcha Patriótica, são fatos novos da maior significação política, em linha com as profundas mudanças em curso na América Latina.

A solidariedade com a Revolução Bolivariana da Venezuela é dever indeclinável dos comunistas brasileiros. A Venezuela bolivariana e chavista tornou-se uma bandeira de luta de todos os povos latino-americanos e uma referência da luta anti-imperialista. O chavismo tem por essência o anti-imperialismo, que é o próprio espírito da nossa época, a marca da resistência tenaz dos povos à ofensiva neocolonialista dos potentados internacionais sob a égide do imperialismo estadunidense.

A Venezuela Bolivariana deu passos importantes no sentido da construção da democracia popular, participativa, da unidade popular e tornou-se base importante da unidade dos povos latino-americanos e caribenhos uma bandeira de luta, uma meta a alcançar, cujos primeiros resultados estão em evidência nas atuais conquistas democráticas, patrióticas e no plano da integração soberana e solidária, cujas expressões maiores são a Aliança Bolivariana dos Povos de Nossa América (Alba) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac). Igualmente, a Venezuela avançou na construção do bem-estar social e na elevação da consciência política do povo.

Os países socialistas – China, Cuba, Vietnã, Coreia Popular e Laos têm papel de destaque a desempenhar nessa luta. O seu fortalecimento como nações soberanas, os esforços que fazem os seus povos, sob a direção dos partidos comunistas dirigentes do Estado, para viabilizar estratégias de desenvolvimento, progresso social, cooperação internacional e paz, são depositários do indeclinável apoio e da solidariedade dos comunistas brasileiros.

A crise do capitalismo atira contingentes imensos de pessoas à amargura do desemprego, à fome e à miséria. Os trabalhadores têm realizado heroicas jornadas de luta em defesa dos seus salários, dos seus empregos, dos seus direitos. São inúmeras as ações de massas organizadas pelo movimento sindical nos países capitalistas em crise, greves gerais, revoltas espontâneas. Por toda a parte, os povos vão à luta contra o Estado policial, por democracia e direitos humanos, contra a degradação ambiental, pelos direitos das mulheres, da juventude e contra todas as manifestações de intolerância e obscurantismo. Somos partícipes de todas estas lutas.

Os comunistas são solidários com a luta heroica do povo palestino contra a política genocida e opressora do Estado de Israel, que usurpa suas terras e o submete a uma cruel forma de neocolonialismo. Defendemos o sagrado direito deste povo à constituição do seu Estado independente e soberano, nas fronteiras anteriores à guerra de 1967, com capital em Jerusalém Leste e o retorno dos refugiados, conforme decisão da Organização das Nações Unidas.

Irmanamo-nos com os povos do Norte da África em defesa dos seus direitos e da sua soberania. Opomo-nos decididamente à ocupação da Líbia e do Mali pelas tropas da Otan e à interferência estrangeira em outros países do continente africano. Apoiamos a luta pela independência nacional e direito ao seu território do povo da República Árabe Saarauí e clamamos pela descolonização completa do mundo. Repetimos com o país e o povo irmão vizinho: As Malvinas são argentinas.

Fenômeno novo, difundiu-se recentemente na Europa e nos Estados Unidos no rastro da crise do capitalismo, um amplo movimento espontâneo de massas que se designou como Movimento dos Indignados. Mesmo sem uma orientação política e ideológica clara, revelou arraigado sentido anticapitalista, com a palavra de ordem consigna dos 99% dos explorados contra a parcela de 1% dos exploradores.

Graves acontecimentos têm lugar na Península Coreana, onde uma escalada de tensão militar e o perigo de guerra estão permanentemente presentes. Os comunistas brasileiros são inteiramente solidários com a República Popular Democrática da Coreia, que é um dos alvos preferenciais do imperialismo estadunidense. O imperialismo usa o território da vizinha Coreia do Sul como base militar, onde acantona tropas, armamento convencional e nuclear. O estado de guerra na Península Coreana não é resultado de uma proclamação do governo da RPDC. É um estado permanente, cuja principal expressão é a realização frequente de manobras militares conjuntas das forças armadas norte-americanas e sul-coreanas, nas quais se mobilizam dezenas de milhares de soldados, navios de guerra, aviões de combate, artilharia pesada e armas nucleares.

A verdadeira ameaça emana das políticas militaristas e belicistas do imperialismo estadunidense e seus aliados. Igualmente, é necessário manifestar solidariedade ao Irã e seu povo, sob injustas sanções impulsionadas pelo imperialismo estadunidense e sob a falsa alegação de que o programa nuclear iraniano tem fins militares.

As lutas mencionadas nos tópicos acima concentram as atenções e energias das forças progressistas no mundo. O seu desenvolvimento vitorioso é um fator importante para a democracia, a soberania nacional, o progresso social e a paz.

*José Reinaldo Carvalho é jornalista, especialista em Política Internacional e editor do Portal Vermelho