Nossa luta é para derrubar o aumento da tarifa, diz UJS

Nos últimos dias, Natal entrou em ebulição diante do aumento da passagem de ônibus anunciado pela prefeitura. Desde o último sábado (18), o valor da tarifa é de R$ 2,40. A União da Juventude Socialista (UJS) tem participado de todas as mobilizações contra o aumento da passagem e das plenárias que organizam a luta contra o aumento.

Para falar mais sobre isso, o Portal da UJS Potiguar conversou com o Diretor de Organização da UJS, Ramon Alves. Ele fala sobre a posição da entidades e os desdobramentos da luta para suspender o aumento da tarifa. Confira:

Portal da UJS: Como a organização tem manifestado sua posição em relação ao reajuste da tarifa?
Ramon Alves: Transporte público é um tema que ganha mais cada vez mais importância na sociedade brasileira. Transporte e moradia representam hoje um terço do orçamento da maioria das famílias, portanto, é evidente que qualquer valor a mais que essas pessoas pagam tem um peso relevante ao final do mês. Há um outro componente que é a ausência de um projeto que possa integrar os trabalhadores que ascendem a uma renda maior e que na primeira oportunidade adquirem um veículo.

Com um sistema de transporte público que nunca passou por uma licitação, as regras para seu funcionamento não permitem pensarmos seu desenvolvimento no médio e longo prazo, com metas para atingirmos um referencial de qualidade que faça com que as pessoas desistam de adquirir o automóvel e andem de ônibus. Três décadas atrás, tínhamos 70% de pessoas utilizando ônibus e 30% carros. Hoje esses números se equipararam e a tendência, caso não haja políticas públicas adequadas, é que se acentue cada vez mais o número de carros nas ruas. Para se ter uma ideia, enquanto nossa capital cresce a uma taxa populacional de 1% ao ano, o número de carros cresce quatro vezes mais.

O automóvel é muito mais incentivado e subsidiado do que o transporte público e isso tem criado um drama para os governos municipais, já que todos os que concederam aumento na passagem enfrentaram grandes manifestações para que a decisão fosse revista.

A UJS apresenta sua posição contrária ao reajuste e tem participado de todas as mobilizações porque elas contribuem para estimular a cultura de reivindicação, o que é muito positivo na sociedade, e também porque defende um novo parâmetro de sistema de transporte público, mediado pela licitação com ampla participação social, de maneira que tenhamos como referência o que há de mais moderno e bem regulamentado serviço de transporte e de mobilidade urbana. O ideal não é que tenhamos protestos todos os anos contra o aumento da tarifa, mas sim que a gente consiga consolidar em Natal uma referência de qualidade no transporte público.

Como tem sido a participação da UJS nos movimentos que reivindicam a suspensão do reajuste?
Definimos como grande prioridade a mobilização de amplas parcelas da juventude para protestar contra o aumento. Estivemos na mobilização da quarta e da quinta-feira, apresentando como pautas não só a questão do reajuste da tarifa de ônibus, como também a licitação imediata do sistema de transporte da cidade e a democratização do Conselho de Mobilidade Urbana. Este é um espaço consultivo importante para que a sociedade exponha sua opinião e que, infelizmente, desde a 2ª gestão de Carlos Eduardo, teve a União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas (UMES) excluída devido às suas fortes posições, limitando ainda mais o debate público.

Como a UJS analisa posições minoritárias contrárias à presença de organizações e entidades no movimento?
Nossa luta tem um propósito: derrubar o aumento da tarifa. Todos os que se somam a esse movimento devem ser sempre bem-vindos e reforçaremos todas as iniciativas propostas. Esse debate sobre os malefícios provocados pela participação de organizações e entidades não é novo e é muito estimulado pelos grandes meios de comunicação, que apostam na fragmentação e na ausência de participação organizada da juventude para frear as mudanças que a política e só a política é capaz de fazer.

Ora, não fossem as organizações estudantis, a abolição da escravatura poderia não ter acontecido em 1888. A Sociedade 2 de Julho, formada por estudantes baianos, foi a primeira organização constituída para lutar pela emancipação dos escravos. Na Faculdade de Direito de São Paulo, os estudantes organizados foram peças essenciais para derrubar a Monarquia. A história registra a participação dos estudantes brasileiros, através da UNE, na luta O Petróleo é Nosso, no desgaste à Ditadura Militar, nas Diretas Já, na Constituinte, no impeachment de Collor, no desgaste às políticas neoliberais de FHC e em algumas políticas recentes que têm alterado a face excludente de um país que consta no terço de nações que têm se desenvolvido economicamente reduzindo suas desigualdades sociais.

O espontâneo é o momento do aprendizado e do conhecimento e é preciso valorizar muito quando as pessoas saem de suas casas e do comodismo para lutar por algo. Quando isso se transforma em participação orgânica, seja em entidades, seja em organizações juvenis ou partidos, isso é algo ameaçador porque as pessoas passam a lutar não mais por uma coisa específica, mas pela real causa do problema. É por isso que a gente vê tanta propaganda dos grandes meios de comunicação contra a política, contra a participação e formas organizadas de se construir política.

Nosso papel nesse debate é, portanto, politizá-lo, mostrar os interesses hegemônicos que estão por trás desse discurso e não perder o foco sobre a luta central. Nenhuma divisão ou sectarismo na luta contra o aumento da passagem.

Fonte: UJS Potiguar