Socorro Gomes: "Paz na Colômbia é essencial para a humanidade"

“A paz na Colômbia é essencial para o continente e para toda a humanidade” declarou a presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP) e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, em entrevista exclusiva para o Portal Vermelho.

Por Érika Ceconi, da Redação do Vermelho

Socorro na Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo - Roberto Ruiz

A pacifista, que participará do Fórum pela Paz na Colômbia, que será realizado em Porto Alegre (RS) de 24 a 26 de maio deste ano, faz um chamado para que a população solidarize-se com os colombianos que são “militantes heroicos por conseguir ter esperança e manter alta a bandeira da paz, da soberania e da justiça”. 

Socorro falou sobre a expectativa de conquistar uma paz duradoura, neste momento em que o governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo (Farc-EP) estão dialogando para encontrar uma solução política para o conflito naquele país, e destacou a importância das mobilizações populares como a marcha realizada no último 9 de abril, que levou milhares de colombianos às ruas para pedir paz e a realização do fórum que reunirá diversas personalidades para contribuir com a luta dos colombianos. 

Portal Vermelho: Sabe-se que a Colômbia sofre grande influência dos Estados Unidos, com o Plano Colômbia, a implementação das bases militares no país. Neste contexto, o que representa para o povo colombiano esta tentativa de encontrar uma solução política para o conflito armado?
Socorro Gomes: A Colômbia é, na América Latina, o principal teatro de operações do imperialismo estadunidense. Ali [os EUA] têm suas principais bases, tem gente que fala em sete, tem gente que fala em 10 bases militares que cercam os países vizinhos, são bases que rapidamente podem chegar a qualquer país da América Latina com sua marinha de guerra, seus navios, seu exército, e vigiam também a Amazônia. Nós costumamos dizer que a Colômbia está para o nosso continente como Israel está para o Oriente Médio.

A Colômbia é uma região estratégica para os Estados Unidos…
Sim, além do mais, há seis décadas o país vive uma tragédia, uma guerra civil, porque os latifundiários, as oligarquias são extremamente cruéis. Com governos subservientes aos Estados Unidos, a Colômbia é praticamente uma extensão do imperialismo estadunidense. Foram assassinadas cerca de meio milhão de pessoas, além de quase quatro milhões de desaparecidos, fruto desta verdadeira guerra contra o povo. Isso ocorreu porque a oposição e as forças populares travaram uma batalha para garantir democracia, justiça e soberania, mas os candidatos avançados como o Eliécer Gaitán, um parlamentar que estava prestes a ganhar as eleições, foi assassinado. Nós temos a convicção que o assassinato teve a coordenação da CIA, do FBI e das forças oligárquicas colombianas, então, desde que este episódio ocorreu, ficou impossível a participação da oposição, das forças progressistas mudancistas na vida eleitoral no país, com isso o povo reagiu em armas, como reagimos no Brasil, Argentina, Chile, em vários países da América Central e da América do Sul contra as ditaduras. Os outros países conseguiram pôr fim ao conflito armado e a Colômbia até hoje não, porque os sucessivos governos a serviço dos EUA querem garantir a paz por meio da dizimação física, do assassinato dos opositores.

Qual a importância da realização do Fórum pela Paz na Colômbia, neste momento em que o governo e a guerrilha estão dialogando?
Para nós este fórum é muito importante para que as forças populares do Brasil e dos países irmãos falem em uma só voz que queremos paz, que apoiamos o processo de diálogo para a paz com justiça social, paz com soberania na Colômbia, que apoiamos as propostas das forças populares. O povo colombiano é um povo muito digno e valente, porque com tudo isso levantou alta a bandeira da luta e está buscando o caminho para a negociação pacífica, é um povo que quer paz para escolher seu destino e nós apoiamos. Para a integração latino-americana é fundamental a paz na Colômbia, porque a integração se dá em países soberanos e a Colômbia, até hoje, não encontrou o caminho da soberania. Os Estados Unidos não deixam e é por isso que os colombianos tanto lutam e é tão importante o diálogo para a paz.

O povo está mobilizado, vimos no dia 9 de abril a multitudinária marcha, onde milhares de colombianos saíram às ruas para pedir a paz, além de diversos espaços de debate popular que estão sendo realizados na Colômbia e em outros países. Como a participação popular pode influenciar nos diálogos?
A chamada Marcha Patriótica pela Paz em Defesa da Soberania foi de fato gigantesca, mais de um milhão de pessoas dizendo 'queremos paz', além disso, ocorrem os encontros regionais onde o povo colombiano está dizendo o que quer, a questão dos diálogos buscando resolver os conflitos agrários, a questão da justiça da terra, porque são milhões e milhões os despejados das suas terras, porque os paramilitares [assassinos de organizações criminosas] além de assassinar mulheres, adolescentes, trabalhadores, assassinaram milhares de camponeses para tomar suas terras. Por isso, o avanço dos diálogos na questão da reforma agrária é muito importante. O segundo passo agora, e tão importante quanto o primeiro, é a democracia, o direito a voz, os insurgentes têm que ter o direito de viver uma vida plena, social, econômica e política. É preciso ouvir a voz do povo.

O Cebrapaz tem feito várias iniciativas pela paz na região, lançou a campanha “América Latina uma região de paz” contra as bases militares estrangeiras, entre outros atos em solidariedade àquele país. Como a solidariedade internacional contribuirá para uma paz duradoura?
A solidariedade internacional é essencial, a história tem comprovado isso, vide a guerra do Vietnã, o povo vietnamita foi extremamente valoroso, mas a solidariedade internacional foi fundamental para ajudar a vencer aquela batalha. No Brasil e nas várias ditaduras em nosso continente a solidariedade de outros povos salvou muitas vidas e ajudou a derrotar as ditaduras no continente e agora mais uma vez a solidariedade ao heroico povo colombiano é essencial. Tem um poeta que diz “a solidariedade é a ternura entre os povos”. A solidariedade é essencial na batalha pela paz, na luta anti-imperialista, porque a Colômbia vive as agruras que nós vivemos em nosso continente que é a luta contra a dominação imperialista, contra o modelo neoliberal de que o país foi vítima, ficou destroçado.

Há uma miséria enorme no país e essa questão mesmo das terras sendo assaltadas pelos paramilitares e para as grandes oligarquias latifundiárias e projetos do agronegócio internacional e o povo sem direito à educação pública, saúde, terra, moradia, liberdade, justiça, sem direito à vida. Então para nós, para a integração como um sonho de José Martí, de Simón Bolívar, uma integração solidária e justa é essencial para a paz na Colômbia, que é essencial para o continente e para toda a humanidade.

Em 2014 a Colômbia terá eleições e Santos já demonstrou que quer ser reeleito. Como garantir que os acordos de paz gerados na mesa de negociações de paz sejam respeitados?
O fator fundamental é o povo do continente estar alerta e alertando os governos progressistas para que todos os países e povos estejam solidários aos lutadores colombianos, que sofrem esta tragédia, e cobrar os acordos. As negociações de paz são uma atitude muito positiva, mas temos que garanti-las. E garantir o direito dos opositores de ter uma vida digna, plena, com segurança de vida e de ter o exercício político, porque a paz é composta por muitas vozes, a voz do povo é a principal, tem que ser ouvida.

O que você espera do Fórum pala Paz na Colômbia ?
Do fórum, eu espero fortalecer a cultura da paz, a cultura dos diálogos para a paz, a cultura da solidariedade, a cultura da soberania dos povos e a cultura da democracia do povo, da participação popular para mudar os destinos e conseguirmos uma paz sólida, uma paz duradoura em nosso continente.

Chamada para o Fórum em espanhol:

Acompanhe no Vermelho o especial sobre os Diálogos de Paz