"Oposição" síria boicotará conferência internacional de diálogos

A Coalizão Nacional Síria (CNS), que alega representar a oposição do país, afirmou nesta quinta-feira (30) que planeja boicotar a Conferência de Genebra 2, a ser realizada no começo de junho. A reunião foi planejada como uma conferência internacional que envolveria todas as partes do conflito sírio, os países vizinhos e importantes atores internacionais, e é impulsionada pela Rússia e pelos EUA, a partir do Compromisso de Genebra, assinado em 2012 para dar espaço ao diálogo político.

Líder da organização que recebeu da Liga Árabe o assento da Síria em uma cimeira realizada recentemente (o que é uma ingerência nos assuntos internos sírios), George Sabra disse a jornalistas em Istambul, na Turquia, que representa aqueles que lutam pelo fim do regime do presidente sírio Bashar Al-Assad.

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Sabra alegou que o envolvimento do partido de resistência islâmica do Líbano, Hezbollah (que defende a soberania da Síria contra a ingerência externa), torna as conversações impossíveis. “A CNS não tomará parte em uma conferência internacional ou em qualquer esforço enquanto militantes do Irã ou do Hezbollah continuem invadindo a Síria”, afirmou.

Os grupos armados que atuam na Síria contra o governo de Assad são em grande parte formados por mercenários estrangeiros, financiados e armados desde o exterior, inclusive pela Turquia, pelo Catar, pela Arábia Saudita e por outros atores internacionais como os Estados Unidos, conforme denunciado diversas vezes pelo governo e por cidadãos sírios.

Com relação às “invasões” e seus efeitos, portanto, é preciso ressaltar os diversos ataques perpetrados por grupos “rebeldes” desde a Síria contra territórios do Líbano, com foguetes e morteiros, seja em regiões onde o Hezbollah tem grande espaço, ou até mesmo em Beirute, onde uma jovem morreu, nesta semana. Por isso, o partido afirmou o seu direito a defender os cidadãos libaneses, principalmente nas fronteiras.

Os comentários do líder do CNS lançam mais um desafio aos esforços em prol do diálogo político, já proposto diversas vezes pelo governo sírio e ressaltado como a única opção viável por diversos atores internacionais, como a Rússia, a China, o Irã e países latino-americanos que se propuseram a auxiliar no processo.

A iniciativa de uma conferência internacional foi impulsionada através de reuniões recentes entre o chanceler da Rússia Serguei Lavrov e o secretário de Estado dos EUA John Kerry, embora em outros âmbitos a postura estadunidense, assim como a europeia, não tenham sido construtivas, com declarações favoráveis ao envio de armas aos grupos atuantes na Síria e condenatórias do governo de Assad, taxado de “ditatorial”.

A conferência enquadra-se na Comunicação de Genebra, documento assinado em junho de 2012 e que previa o impulso ao diálogo político em detrimento da intervenção militar no país, mas que ainda não entrou em vigor.

Além da postura negativa declarada nesta quinta, o CNS já havia dito também que só participaria da conferência se ela resultasse na demissão do presidente Assad, o que não está previsto. O termo do presidente termina em 2014, quando haverá eleições, de acordo com a Constituição, que foi reformulada recentemente com base em reivindicações da oposição, por grupos de trabalho conjuntos, entre opositores e o governo.

O governo de Assad já tinha indicado que aceita participar na conferência, em mais uma demonstração da sua disposição ao diálogo, mas a irredutibilidade do CNS, que não se mostra favorável ao diálogo, prejudica qualquer esforço de redução da violência e solução da crise interna, que já dura dois anos e fez milhares de vítimas fatais, principalmente entre civis.

Com agências,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho