Integração da América Latina é uma profissão de fé, diz Lula
“No lugar onde eu estiver, na hora que for, a integração da América Latina para mim será uma profissão de fé. Porque não posso conceber que nascemos para ser pobres”. Ao lado do presidente peruano Ollanta Humala, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou, na manhã desta quarta-feira (5), para uma plateia de 400 empresários e políticos peruanos e brasileiros na celebração dos 10 anos da Aliança Estratégica entre os dois países.
Publicado 05/06/2013 18:40

Lula e Humala comemoraram as conquistas desses últimos dez anos. Na última década, a corrente de comércio entre Brasil e Peru passou de US$ 650 milhões em 2002, para US$ 3,7 bilhões em 2012, o que significa um aumento de 464%.
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Desde 2012, praticamente todos os produtos peruanos entram no mercado brasileiro com alíquota zero. Em 2017, o mesmo deve ocorrer com produtos brasileiros vendidos ao Peru. A integração física também avançou significativamente, com obras como a conclusão da rodovia Transoceânica, que liga o Brasil ao litoral peruano, oferecendo uma alternativa de transporte de produtos brasileiros para o Pacífico e impulsionando a integração entre os dois países.
No entanto, Lula e Humala concordaram que esses números não representam o enorme potencial que existe para avançar. O presidente peruano, que chamou Lula de “compatriota”, disse que a integração entre Brasil e Peru é um caminho natural. Para Humala, o Peru é a saída natural do Brasil ao Pacífico e o Brasil é a saída natural do Peru ao Atlântico.
Desafios para o futuro
“Sozinhos podemos ser mais rápidos, mas juntos podemos avançar mais longe”, resumiu o presidente peruano ao final de seu discurso. Humala lembrou que o Peru tem um grande potencial na agroexportação, mas não pretende vender apenas commodities, por isso está interessado também na transferência de tecnologia, para mudar o perfil do comércio peruano. E, concordando com Lula, enumerou desafios de integração, que vão desde a infraestrutura até a superação de barreiras burocráticas. “Precisamos fazer [a integração] caminhar ainda mais rápido”.
O presidente peruano disse que um dos desafios é exatamente a violência, muitas vezes acompanhada do narcotráfico. Humala disse que a preocupação dos políticos deve ser por uma sociedade mais igualitária e, para isso adotou políticas de combate à pobreza, seguindo o exemplo de Lula no Brasil. Lula, por sua vez, disse que investir no pobre foi fundamental para o sucesso econômico do Brasil mesmo durante a crise internacional e que isso resulta em menos violência e mais cidadãos.
O papel dos empresários
Falando a uma plateia de empresários, o ex-presidente brasileiro e o presidente peruano destacaram o papel importante da iniciativa privada na integração. Lula disse que os presidentes deveriam sempre viajar com empresários, porque são eles que têm a capacidade de transformar as decisões dos governantes em coisas práticas. “Os empresários devem ter o papel de cobrar que aquilo que os presidentes assinaram está acontecendo”. Humala acrescentou que, muitas vezes, um funcionário de segundo ou terceiro escalão cria uma dificuldade burocrática que emperra uma excelente iniciativa governamental.
Miguel Vega Avelar, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Peru, que convidou o ex-presidente para o evento, fez a fala introdutória, na qual apresentou um número impressionante. Nos últimos 10 anos, Brasil e Peru tiveram mais encontros empresariais do que nos 280 anos precedentes. “Juntos somos fortes, poderosos. Como o senhor foi protagonista dessa história, seja bem-vindo ao Peru, amigo do Peru e amante da América Latina. Seja bem-vindo sempre entre nós”.
Também falou Jorge Barata Simões, presidente do grupo Brasil. “Esta não foi mais uma década. Foi ‘a’ década, com importantes mudanças que abriram oportunidades de desenvolvimento sem precedentes para a região”.
À tarde, Lula recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade Nacional Maior de São Marcos, a mais antiga universidade das Américas, fundada em 1551.
Fonte: Instituto Lula