Filipe Diniz: "Terroristas"

O primeiro-ministro turco, Erdogan, tratou de ‘terroristas’ os milhares e milhares de manifestantes que, em diversas cidades do seu país, vêm mantendo nas ruas um vigoroso combate contra as políticas do seu governo.

Por Filipe Diniz*, no jornal Avante!

Políticas antidemocráticas e reacionárias no plano interno, ação concertada com o imperialismo e o sionismo no plano externo, nomeadamente na operação de agressão contra a Síria.

Para Erdogan os manifestantes são «terroristas», mas a bárbara repressão policial desencadeada contra eles, pelos vistos, já não o será. Na sua terminologia brutal, Erdogan não faz mais do que enveredar pelo caminho que em tantos outros lados tenta ser seguido: o da ilegitimação e da criminalização do protesto social. Com outras cautelas (ainda) é o que tentam inculcar os Passos, Portas e outros papagaios perante a perspectiva das grandes ações de luta que se avizinham.

Mas há mais: para o poder dominante, ‘terroristas’ não poderão ser apenas aqueles que resistem, aqueles que saem à rua em protesto, aqueles que dão voz à exasperada cólera das massas em defesa dos seus direitos. ‘Terroristas’ potenciais são toda a gente. Basta ver as recentes denúncias acerca do programa ‘Prism’ da agência norte-americana NSA. Trata-se de espiar, obter dados, vasculhar a vida privada de milhões de milhões de utilizadores da internet. Em nome de quê? Da luta contra o ‘terrorismo’, está bem de ver. Em seu nome não há dado privado, opinião expressa, contato feito, palavra dita que um monstruoso aparelho de espionagem não esteja sistematicamente a monitorizar e a registar.

A Otan atualizou o seu conceito estratégico integrando o universo da comunicação electrónica na lista dos cenários de guerra. O ‘Prism’ da NSA e da CIA mostra como um tal cenário é, fundamentalmente, o da dominação absoluta construída sobre uma intimidação social global para a qual a palavra ‘terrorismo’ hoje justifica tudo. Algo como o que o grande poeta turco Nazim Hikmet descreve:

‘O pior de tudo: é trazer a prisão dentro de si consciente disso ou não’.

As massas em luta são a resposta contra uma tal prisão. Cada indivíduo que se integre na causa e na luta do seu povo tem mais força histórica do que todos os Erdogan deste mundo.

* Filipe Diniz é jornalista