Postos de controle israelenses ressaltam humilhação e conflito

A jornalista Amira Hass, do diário israelense Haaretz, publicou nesta quinta-feira (13) uma matéria sobre as perspectivas conflitantes de israelenses e palestinos sobre o posto de controle militar Tarqumyia. A diferença ressalta, em última análise, a dificuldade de compreensão da questão palestina por parte dos sionistas (ideologia usada para justificar o colonialismo judeu) e o impacto que a opressão e a humilhação têm na situação.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

posto de controle israelense - Emil Salman / Haaretz

Segundo Hass, “oficiais da Defesa de Israel disseram que a passagem de Tarqumyia é sempre suave e rápida, enquanto trabalhadores palestinos a descrevem mais como um lugar de humilhação”.

De acordo com o Ministério de Defesa, é preciso cerca de sete minutos para a pessoa comum atravessar do começo do bloqueio na estrada à praça onde os palestinos pegam seus transportes para o trabalho, dentro de Israel.

Entretanto, Hass contrapõe, observadores independentes calcularam que, em um bom dia (como domingo, por exemplo), a travessia demora 28 minutos. E de acordo com cálculos de outro dia, em maio, cada pessoa levou 71 minutos na passagem.

A jornalista ressalta que a disparidade entre essas informações carrega também o debate sobre a própria natureza das passagens fronteiriças. “Este é o sistema mais humano de travessia de passagens”, disse um oficial da Autoridade de Passagens que estava em Tarqumiya no domingo. Os trabalhadores, por outro lado, descrevem-no como um lugar de exaustão física e moral, de humilhação de desprezo.

Os palestinos da Cisjordânia que têm permissão para entrar em Israel precisam atravessar à pé, através de uma entre 11 passagens geridas pela Autoridade de Passagens do Ministério da Defesa. Os controles de segurança são conduzidos por duas firmas de segurança, a Sheleg Lavan, no sul da Cisjordânia, e Modi’in Ezrahi nos setores do centro e do norte.

“O Ministério de Defesa diz que mais de 25.000 palestinos atravessam essas passagens diariamente. Tarqumiya é uma das mais cheias, embora não a mais atribulada, com cerca de 5.000 pessoas passando entre as 4h00 e as 7h00 da manhã. Os agricultores deixam as suas casas mais cedo, seguidos pelos trabalhadores da construção, e depois mulheres e comerciantes”, conta Hass.

Nos meses recentes, segundo a jornalista, trabalhadores têm reclamado que a passagem através do posto de controle Tarqumiya tornou-se tortuosa. “Eles dizem que o tumulto estava tornando difícil a respiração”, e que há pessoas ficando machucadas ou mesmo desmaiando.

Hass conta sobre o que viu quando esteve na passagem, a partir das 03h00 da manhã de um domingo: “Há câmeras no teto. Um dos trabalhadores disse que também há mecanismos de escuta instalados, que transmitem qualquer sussurro às salas de controle. Há alto-falantes através dos quais as instruções são transmitidas ocasionalmente”.

O segredo parece ser, diz Hass, na quantidade de tempo entre a abertura de uma catraca e a próxima, e no tempo de espera entre cada estação de inspeção e a próxima. Em dias piores, os trabalhadores dizem, os inspetores parecem estar ali casualmente nas suas cabines de controle.
“Eles tomam o tempo deles checando os documentos, fazem grupos esperarem até que a última pessoa na sala, do grupo anterior, tenha saído da estação de inspeção. Eles bricam entre si. Quando esse é o caso, pode-se levar uma hora ou mais para atravessar o posto de controle”, disse um trabalhador à jornalista.

De acordo com Hass, em um domingo, um homem de cerca de 50 anos estava quase aos prantos quando disse ao Haaretz que tinham pedido a ele que passasse pelo escâner quatro vezes, e que foi mandado tirar a roupa para a última vez. “Ele acabou gastando uma hora na sala de revista, e quando finalmente saiu do posto de controle, descobriu que tinha perdido o transporte; ele não teve escolha a não ser voltar para casa”, escreve a jornalista.

Com informações do Haaretz