Unegro comemora aniversário em Sergipe

 Esse último sábado, 8, foi de celebração para os integrantes e apoiadores da União de Negros pela Igualdade (Unegro) em Sergipe. Com quatro anos de forte atuação e conquistas inéditas no Estado, a associação busca para os próximos anos a ocupação dos espaços por seus representantes a fim de dialogar e efetivamente construir políticas públicas para o negro.

Unegro comemora aniversário em Sergipe

"Adquirimos direitos, o governo tem avançado, mas é importantíssimo atuarmos em várias frentes para garantir a igualdade racial", afirma Andrey Roosewelt Lemos, professor de História, fundador da Unegro em Sergipe, coordenador nacional LGBT da Unegro e membro do Fórum Estadual de Sergipe.

Na comemoração, que aconteceu na sede cultural do Sindicato do Servidores do Poder Judiciário (Sindijus), foram debatidos os 125 anos da Lei Áurea e organização do povo negro pela igualdade de direitos. A mesa foi composta pelo professor de História e doutor em Educação Fernando Aguiar, pelo também professor de História e mestre em Educação Manuel Alves do Prado Neto, pela vereadora Lucimara Passos (PCdoB) e pelo secretário estadual de Direitos Humanos Luiz Eduardo Oliva. Ao final, todos os participantes puderam desfrutar de um prato típico brasileiro e criado pelos escravos nas senzalas, a feijoada.

Informação e cultura

Durante o debate, Fernando Aguiar trouxe um importante panorama histórico sobre a representação do negro no Brasil Colonial e pós proclamação da República. "A abolição se deu pela conjuntura de muitos conflitos e interesses políticos", relembra o professor, pontuando que não foi puramente consequência de uma defesa dos direitos humanos.

Além disso, leis como o Código Penal de 1890 que coloca a capoeira e demais agremiações em condições iguais aos prostíbulos ou jogos de azar reduzem, ao longo do tempo, a possibilidade de oportunidades igualitárias para os negros. Após esse panorama, baseado no arcabouço legislativo mostrado, o também professor Manuel Prado questionou algumas visões da trajetória da luta negra abordadas nos livros de História, principalmente aquelas que negam uma herança substancial da cultura afrobrasileira.

Defensora da luta contra o racismo e representante dessa luta na Câmara Municipal de Aracaju (CMA), a vereadora Lucimara destacou que a luta contra a discriminação e intolerância é um dos grandes pilares de seu mandato. "Defendo e sempre defenderei a igualdade de direitos, o negro, homoafetividade. Infelizmente, defender questões polêmicas pode significar um 'não' nas urnas e por isso alguns políticos decidem não defende-las, mas é necessário", declara.

Ao fazer uma análise das conquistas das minorias no cenário brasileiro, Lucimara lançou um questionamento crucial na condução dos trabalhos da Unegro e outras associações. "O que é necessário fazer para que esse movimento cresça?", perguntou. "Não se pode perder a noção de ocupação de espaços. Do mesmo jeito que os evangélicos ocupam cadeiras no parlamento, os terreiros também devem fazer isso", defendeu a vereadora.

Da plateia várias pessoas acompanharam com bastante atenção, entre elas a cineasta Everlane Moraes. "Achei fantástica a perspectiva histórica abordada e, principalmente a fala da vereadora Lucimara, bastante humanizada. Costumo ter uma certa distância da política, mas ela mostrou que ainda existem pessoas realmente preocupadas", disse. O evento foi bastante positivo e entre os presentes ficou clara a necessidade de uma maior organização de negros e negras para dar destaque a essa luta e também para a participação na III Conapir (Conferência Nacional de Promoção da Igualdade), que acontecerá em novembro em Brasília.

Governo valoriza as minorias

Em sua fala o secretário Luiz Eduardo Oliva considerou de extrema importância a realização de eventos como o da Unegro, principalmente por proporcionar um debate inteligente e legítimo. Alinhado com as particularidades da atuação de uma Secretaria de Direitos Humanos, Luiz Oliva afirmou que mesmo contando apenas com 0,05% do orçamento do Estado e com um extenso leque de ações demandadas, haverão avanços. A secretaria passará a ter frentes especializadas para atendimento à comunidade, entre elas para as vítimas de racismo e para crianças e adolescentes.

Além de informar que está constantemente pleiteando por uma revisão do orçamento, Luiz Oliva informou os passos necessários para obter ajuda da secretaria em casos de agressão e preconceito. A informação foi esclarecedora principalmente para o jovem Edwyn Gomes, integrante do grupo de dança afro Yaônilé e filho do músico Adelson do Cavaco. Durante o debate o adolescente relatou casos de preconceito sofridos por ele na rua e na escola. Edwyn afirma que sair de casa com seu jeito próprio e assumindo sua negritude, é uma maneira de resistência. "Já tenho na minha cabeça a militância. Mesmo tendo um sentimento por algumas pessoas que demonstram preconceito e que falam coisas ofensivas, defenderei sempre meus direitos", afirma o jovem.

A Unegro

Nesse pouco tempo de tragetória em Sergipe, a Unegro vem conduzindo o discurso sobre o papel do negro na sociedade sergipana contemporânea. Na prática, o trabalho se consolida por uma atuação de resistência, a exemplo de aconselhamentos e acompanhamento vítimas de racismo desde a denúncia até desfechos judiciais. É marcante também a presença da Unegro em situações de intolerância religiosa, no debate sobre as cotas na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e em eventos estaduais de educação.

No Brasil a Unegro existe há 25 anos no Brasil e protagonizou eventos nacionais como o Movimento Brasil Outros 500 e a criação da Secretaria Especial de Políticas de promoção da Igualdade Racial (Seppir), além de pautar a todo momento a agenda nacional garantindo a discussão das políticas de Ações Afirmativas. Após 21 anos de trabalho sólido no país, a Unegro ganhou sede também na capital sergipana, fruto da articulação do professor Andrey Roosewelt.

De acordo com Andrey Roosewelt, a constante preocupação em atuar em várias instituições vem garantindo avanços. Um exemplo desse esforço resultou na construção de uma cartilha para professores da rede pública sobre como abordar em sala de aula assuntos relacionados ao negro, ao racismo e às minorias. "A escola é o segundo maior ambiente de confiabilidade de uma criança, por isso ela precisa estar de acordo com esse discurso para promover o respeito às diferenças", destaca. A cartilha foi fruto da atuação da Unegro no Fórum Estadual da Diversidade na Educação.