Mário Augusto Jakobskind: Henry Kissinger na parede

O jornalista estadunidense Luke Rudkowski encostou Henry Kissinger na parede. O ex-secretário de Estado norte-americano recebia, pasmem, o premio Liberdade, fornecido por uma entidade denominada Intrepid Freedom Awards.

Por Mário Augusto Jakobskind*, em trecho de sua coluna no Direto da Redação

Luke Rudkowski questionou Kissinger em função de declaração do ex-secretário de Estado segundo a qual “o ilegal fazemos de forma imediata, o inconstitucional demora um pouco mais”.

O jornalista perguntou a Kissinger como se sentia ao receber um prêmio de liberdade quando se é um assassino de massas, procurado em muitos países e que comprou milhões de pessoas em todo o mundo? E foi mais adiante acrescentando: o senhor sabe que tudo isto (a cerimônia) é uma mentira?

Visivelmente abalado, como demonstra o vídeo que circula no youtube, Kissinger chamou o jornalista de “covarde” e insistia para que ele desaparecesse de sua frente. Claro, negou-se a fazer declarações.

A lembrança da figura nefasta de Kissinger é importante nos dias de hoje sobretudo para os brasileiros, que estão sendo informados sobre um incalculável número de crimes de lesa humanidade cometidos no contexto da Operação Condor, de responsabilidade também do ex-secretário de Estado.

Já nonagenário, Kissinger vai ficar impune para o resto da vida, mesmo se sabendo que o que aconteceu nos anos de chumbo no Cone Sul tem o seu dedo como chanceler do governo estadunidense, na época sob a chefia de Gerald Ford, substituto de Richard Nixon retirado do poder por causa do escândalo de Watergate.

Os sucessivos governos norte-americanos até hoje agem no exterior sempre em defesa das grande corporações estadunidenses. No Chile, na Argentina, no Brasil, no Uruguai e na Bolívia não foi diferente nos anos de chumbo.

Já que Kissinger não será indiciado pelos acontecimentos, pelo menos que as novas gerações sejam informadas sobre como procedeu este senhor naquele período. Os arquivos implacáveis de Washington já liberados falam melhor do que qualquer coisa.

*Correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes – Fantástico/IBOPE