Ministro sionista defende colonização israelense da Palestina
O ministro da Economia Naftali Bennett disse, nesta segunda-feira (17), que Israel precisa parar de tentar resolver o problema e “viver com ele”, em referência à Palestina e o conflito que já dura mais de 60 anos, a partir da oficialização da ocupação israelense. Enquanto isso, o chefe palestino das negociações, Said Erekat, disse que Israel declarou oficialmente a morte à solução de dois Estados, embora os EUA continuem afirmando tentar desenvolver a situação para a retomada das negociações.
Publicado 17/06/2013 15:16
A ideia de estabelecer um Estado palestino na “Terra de Israel” chegou a um “beco sem saída”, disse o ministro israelense, enquanto o discurso ambíguo do governo sobre o conflito com os palestinos se mantém.
“A tentativa de estabelecer um Estado palestino na nossa terra terminou”, disse Bennett, que é um representante fervoroso dos movimentos de colonização judia da Palestina e um membro do gabinete de segurança do governo. O ministro participou de uma conferência em Jerusalém, no Conselho Yesha de colonos.
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Bennett ainda disse que os palestinos não têm qualquer direito à autodeterminação ou a um Estado entre o rio Jordão e o Mar Mediterrâneo, ou seja, o território em que um Estado da Palestina já foi reconhecido oficialmente por 134 países durante a Assembleia da ONU, em novembro de 2012. Antes disso, inúmeras resoluções da ONU, emitidas todos os anos desde 1946, também reconhecem o direito palestino à autodeterminação neste território.
“Qualquer pessoa que vagueie pela Judeia e Samaria [nome que os colonos israelenses dão à Cisjordânia] sabe que o que dizem nos corredores de Anápolis e Oslo é destoado da realidade. Hoje há 400.000 residentes israelenses [colonos] na Judeia e Samaria [Cisjordânia] e outros 250.000 em Jerusalém Leste”, disse Bennett.
O ministro referia-se às “negociações de paz” da década de 1990 (que levaram aos Acordos de Oslo, com reconhecimento do direito palestino à autodeterminação, mas através de medidas que mantinham temporária e transitoriamente o controle israelense sobre grandes porções da Palestina) e de 2007, em Anápolis, nos EUA, o último episódio significativo do chamado “processo de paz”.
Bennett, ultra-nacionalista e direitista, líder do partido Lar Judeu (Habayit Hayehudi), também liderou o Conselho de Colonização da Judeia e Samaria, cujos colonos têm grande representação no atual governo israelense, com cerca de um terço dos parlamentares favoráveis à ocupação dos territórios palestinos.
O ministro ainda disse que Israel deve intensificar a construção nos assentamentos: “a coisa mais importante na Terra de Israel é construir, construir, construir. É importante que haja presença israelense em toda a parte. Nosso problema principal é que ainda há líderes israelenses sem vontade para dizer de forma simples que a Terra de Israel pertence ao Povo de Israel”.
Discussões sobre a perpetuação do "status quo"
O ministro de Ciência e Tecnologia, do partido Yesh Atid, Jacob Perry atacou de forma estridente as declarações de Bennett: “as declarações dele estão prejudicando os esforços de paz e estão fazendo mal […] às tentativas de construir a confiança entre israelenses e palestinos”.
Perry disse que o estabelecimento do Estado palestino está dentro dos interesses existenciais de Israel. Entretanto, a motivação é a preservação do sionismo, uma ideologia judia instrumentalizada pelos defensores da colonização da Palestina por judeus: “o conceito de dois Estados é a única solução que impedirá o estabelecimento de um Estado binacional e o fim do sionismo”.
A discordância extrema entre membros do governo israelense sobre a solução para o conflito israelense-palestino tem se tornado cada vez mais evidente, desde a formação da nova coalizão governamental (no começo do ano), principalmente através dos debates acirrados em torno da definição de uma postura oficial, ainda não declarada.
As premissas do governo estão perdendo o compromisso com a implementação da solução de dois Estados sobretudo pela objeção de parlamentares do partido Lar Judeu e do Likud, partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Fica clara, assim, a ineficácia do discurso estadunidense sobre o compromisso com a retomada das negociações de paz, e fica confirmado o ceticismo dos palestinos com a possibilidade de um resultado construtivo para os “esforços de paz” declarados pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry.
Netanyahu se diz favorável a uma solução de dois Estados, embora tenha assentado condições prévias que os palestinos consideram inaceitáveis, como o reconhecimento de Israel como um Estado judeu (o que poderia perpetuar a diferença já visível de direitos civis entre judeus e não-judeus, principalmente de palestinos que vivem historicamente em território hoje “israelense”). Por isso, nos últimos cinco anos como premiê, Netanyahu evitou regularmente trazer o tópico à votação ou mesmo a uma discussão mais profunda nas reuniões de gabinete.
Exemplos recentes de eventos que ressaltaram as divergências no interior do governo foi a reunião do Comitê de Relações Exteriores e Defesa do parlamento (Knesset), em que falou a ministra da Justiça e chefe das negociações Tzipi Livni, foi atacada por um parlamentar do Lar Judeu, que disse que a posição dela na questão não representa a posição do governo.
Dias antes, o ministro-adjunto da Defesa, Danny Dannon, disse em uma entrevista ao The Times of Israel que a maioria dos ministros do governo eram contrários ao estabelecimento de um Estado palestino e impedirá que um passo nesse sentido seja incluído na agenda. Netanyahu advertiu Dannon contra os comentários de forma branda, e o ministro da Defesa os repetiu em outra entrevista, quando também disse que a solução para os Palestinos está na Jordânia.
Tzipi fez um pedido para que Netanyahu tornasse clara a posição do governo sobre a questão palestina, e até indicou que ela consideraria deixar o governo se não houver progresso na frente diplomática. No mesmo sentido, o parlamentar Ofer Shelah, do Yesh Atid, também disse que se não houver progresso nas conversações com os palestinos, Israel provavelmente se tornará como a África do Sul do apartheid.
Entretanto, desnecessário ressaltar que a postura do governo é evidente, principalmente pela expansão dos assentamentos com base em políticas do governo, que tem em um terço dos parlamentares representantes de grupos pró-ocupação.
Com informações do Haaretz,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho