Demissão do premiê palestino ressalta debate político interno

O primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Rami Hamdallah, voltou atrás mais uma vez e retomou o seu pedido de demissão, que foi aceito pelo presidente Mahmoud Abbas neste domingo (23). Na sexta-feira (21), Abbas havia convencido Hamdallah a permanecer no posto, do qual havia pedido demissão na quarta (19), devido a desentendimentos internos. O premiê substitui Salam Fayyad, que também pediu demissão em abril, e permanecerá no cargo por mais cinco semanas, de acordo com fontes oficiais.

Primeiro-ministro palestino - Reuters

O membro do Comitê Central do Fatah (partido de Abbas, predominante no governo) Jamal Muhaisen disse à agência de notícias palestina Ma’na que o governo provisório será mantido até o dia 10 de agosto, tempo em que se espera que um governo de unidade possa ser formado com a participação do partido islâmico Hamas (no governo da Faixa de Gaza).

Entretanto, afirma Muhaisen, se um governo de unidade não for formado até lá, “a liderança buscará alternativas”, sem dar mais detalhes.

Leia também:
Premiê palestino desiste da demissão em acordo com Abbas
Análise interna: Novo governo palestino realiza primeira reunião

Muheisan negou os rumores de que o Comitê Central do Fatah tinha exigido que um dos seus membros se tornasse o primeiro-ministro, insistindo em que Abbas deu preferência à continuidade de Hamdallah no cargo para a manutenção de um governo provisório.

Abbas aceitou a demissão de Hamdallah na manhã de domingo, depois de apenas duas semanas de governo, e Abbas tem agora 35 dias para encontrar um substituto. No centro da crise está a disputa sobre a divisão de responsabilidades dentro do governo.

Durante as conversações do Abbas, na sexta (21), Hamdallah havia deixado claro que queria “poderes claros e definidos como primeiro-ministro e para os seus adjuntos, baseados na lei, para que a sua autoridade não fosse subestimada”, de acordo com uma fonte oficial.

Ziad Abu Amr e Mohammed Mustafa prestaram juramento no dia 6 de junho, como parte do novo governo liderado por Hamdallah, ambos no cargo de vice-primeiro-ministro, uma novidade no governo palestino.

Mustafa, que chefia o Fundo de Investimento Palestino e foi também considerado por Abbas para o cargo de primeiro-ministro, recebeu o papel de assessor econômico.

Hassan Khreishe, orador-adjunto no parlamento, disse que a demissão de Hamdallah ressaltou um problema central no sistema político palestino: “Hamdallah foi corajoso ao exigir seus direitos sob a Lei Básica, e pediu demissão depois de descobrir que não tinha qualquer autoridade, porque tem um adjunto para questões políticas e outro para econômicas, então o que ele tem se as duas foram tiradas dele?”

Uma reação similar veio do Hamas, com o porta-voz Fawzi Barhum pedindo uma reforma do sistema político. “Isso reflete a profundidade da crise real que as instituições da Autoridade Palestina enfrentam como resultado de muitos centros de poder e lutas de poder”, disse.

Para Barhum, assim como indicado pelo governo da Autoridade Palestina, a fase é de reconstrução baseada nos valores nacionais e democráticos, que serão alcançados através da implementação do Acordo do Cairo, assinado em 2011, com o estabelecimento de um governo de unidade nacional entre o Hamas e o Fatah.

Com Ma'an,
da redação do Vermelho