Indígenas propõem legislação audiovisual na Bolívia

De maneira surpreendente, os índios bolivianos encaminharam ao presidente Evo Morales, ao Senado e ao Ministério de Culturas da Bolívia um a proposta de uma Lei de Cinema e Audiovisual.

Por Orlando Senna*, no Diálogos do Sul

Jorge Sanjinés retratou a realidade boliviana em filmes feitos com povos indígenas
A iniciativa é do Sistema Plurinacional de Comunicación Indígena Originario Campesino e Intercultural, que reúne as organizações indígenas e realizou os trabalhos de elaboração do anteprojeto.

Algumas circunstâncias políticas e étnicas tem a ver com esse pioneirismo de indígenas pedindo legislação audiovisual. Primeiro, 70% da população boliviana é indígena (55% índios, 15% mestiços de índios). Como se sabe, Evo Morales é um índio aimará. Segundo, a questão audiovisual na Bolívia sofreu vários revezes durante os sete anos do governo Evo, incluindo fortes pressões dos Estados Unidos e de exibidores locais para que nada seja mudado. E nada mudou, não houve qualquer avanço significativo.

Agora as organizações indígenas decidiram agir. Iván Sanjinés, presidente do Centro de Formación y Realización Cinematográfica de Bolívia-CEFREC e filho de Jorge Sanjinés, o maior cineaste da Bolívia, disse que a proposta “reivindica o caráter descolonizador e democrático do cinema boliviano” e que se apresenta como um “instrumento de transformação e inclusão social”.

*Cineasta e ex-secretário do Audiovisual do MinC – Ministério da Cultura.