Palestina: Kerry apresenta pacote de princípios para conversações

O presidente Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, encontrou-se neste domingo (30/6) com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, na sede do governo palestino em Ramallah, na Cisjordânia. O encontro faz parte do quadro de Kerry para a retomada das negociações de paz com Israel, visto pelos palestinos com ceticismo, e o secretário estadunidense apresentou “uma proposta com princípios e fórmulas que os israelenses estariam dispostos a aceitar”, de acordo com o jornal israelense Ha’aretz.

Kerry e Abbas - Reuters

Um porta-voz do governo palestino disse que Abbas reafirmou a Kerry as posições nacionais fixas dos palestinos com relação ao estabelecimento de um Estado palestino independente, com Jerusalém como a sua capital, baseado nas fronteiras de 1967, assim como a libertação de prisioneiros.

Kerry informou Abbas sobre os seus esforços, incluindo os pedidos feitos ao lado israelense. Ele reforçou que continuará com esse trabalho para monitorar algumas questões que ainda não foram resolvidas.

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O secretário de Estado afirmou que há progresso nas conversações feitas com os líderes palestinos e israelenses para a retomada das negociações de paz. “Concordamos que fizemos progresso real, mas ainda há coisas a serem trabalhadas”, explicou.

O presidente Abbas encontrou-se com Kerry também no dia anterior, sábado (29/6), na capital da Jordânia, Amã, para continuar as discussões já iniciadas na sexta-feira (28), em Jerusalém, antes de Kerry encontrar-se pela segunda vez com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Pacote de princípios

O novo pacote que Kerry apresentou a Abbas foi o produto de uma reunião de seis horas com o premiê israelense e com a ministra da Justiça Tzipi Livni, encarregada pelas negociações. Uma fonte oficial do governo israelense recusou-se a explicar a proposta, mas ressaltou que os palestinos ainda não tinham respondido a Kerry.

De acordo com o Ha’aretz, citando fontes palestinas, “Abbas e seus colegas suspeitam muito de Netanyahu e por isso não têm intenção de ceder às pressões e entrar em um processo de negociações que simplesmente reproduza as conversações, mas não contemplem as demandas palestinas”, o que tem sido o caso histórico de todos os processos de paz já iniciados e interrompidos. O último aconteceu em 2010, breve e sem resultados.

Entretanto, aspectos fundamentais da política interna de ambas as partes (e também dos pretensos mediadores, como os EUA), precisam ser postos em evidência.

No caso israelense, os setores ultra-nacionalistas e direitistas defendem, em grande parte, a continuação da expansão territorial sobre terras palestinas e reafirmam constantemente não haver uma posição oficial do governo com relação à retomada das negociações, sobretudo quando membros do governo como Tzipi ressaltam a necessidade da solução de dois Estados.

O atual governo israelense é o mais representativo dos grupos de colonos que ocupam ilegalmente as terras palestinas na Cisjordânia, e tem expandido tanto os assentamentos como o muro de ocupação, cujo projeto prevê a construção de 800km de uma “barreira” que separe Israel e Palestina, anexando ainda vastas porções de terras palestinas.

Uma das reivindicações mais fortes feita pelos palestinos é o congelamento da construção de assentamentos israelenses em terras palestinas, o que é negado constantemente tanto a eles quanto aos EUA, quando se aventuraram, no passado, a fazer este pedido.

O próprio governo israelense, ou melhor, os seus setores menos radicais ressaltam a impossibilidade do estabelecimento do Estado palestino caso as construções se mantenham. Porém, este objetivo ainda não é um consenso entre os israelenses, o que evidencia a falta de comprometimento de Israel (como percebida pelos palestinos) com um processo de paz.

Com agências,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho