Derfner: "Kerry, dê um tempo aos palestinos e fique em casa"

O secretário de Estado dos EUA John Kerry está pressionando os palestinos para desistirem da única vantagem que têm contra a ocupação (a ONU). Meu medo é que Kerry cumpra a promessa desta semana de voltar em breve a Jerusalém e a Ramallah, e que ele persuada o presidente palestino, Mahmoud Abbas, a falar “de paz” com o premiê israelense Benjamin Netanyahu, sob o risco de ser culpado por fazer o norte-americano perder tempo, e parecer tolo ou impotente.

Por Larry Derfner*

Tal acordo seria um tremendo retrocesso para os palestinos porque não apenas eles não chegariam a qualquer lugar com Netanyahu, mas porque seriam obrigados, como uma condição para a retomada das conversações com Israel, a jogar fora o único equilibrador da relação de poder que têm contra a ocupação, a Organização das Nações Unidas (ONU).

Leia também:
Palestina: Kerry apresenta pacote de princípios para conversações

A ameaça da Autoridade Palestina de voltar à ONU quando a Assembleia Geral começar a sua sessão, em setembro, e aumentar a pressão contra a ocupação, acima de tudo, para levar Israel ao Tribunal Penal Internacional (TPI), amedronta os líderes israelenses.

Em contraste, as negociações de paz sob os auspícios da já dócil administração do presidente estadunidense Barack Obama são algo que Netanyahu sempre quis, mesmo que isso causasse algumas dificuldades com os fascistas desvairados no seu partido e em seu governo.

Tais conversações de paz com Abbas quebrariam o "momentum" na Europa e outros distritos do Ocidente para boicotar Israel, enquanto um impasse constante manteria o "momentum" ativo, e uma ação da Palestina na ONU, em setembro, principalmente no TPI, impulsionaria a questão ainda mais.

Assim, a “missão de paz” de Kerry, apesar das suas boas intenções ocas, é uma vantagem para a ocupação e um sofrimento para a causa da independência palestina (motivo pelo qual espero que Abbas mantenha-se firme contra ele). Se Netanyahu estivesse oferecendo um Estado palestino em todos os territórios ocupados com trocas de terras, valeria a pena conversar com ele.

Mas como está oferecendo uma municipalidade palestina dominada por Israel, impotente, em alguma parte indefinida dos territórios, sem Jerusalém Leste e com as Forças de Defesa de Israel no Vale do Jordão (na Cisjordânia), então negociar com ele é o que os direitistas israelenses chamariam, se a situação fosse inversa, de conciliação.

*Larry Derfner é um jornalista isralenese independente que escreve para a revista eletrônica +972

Fonte: +972 Magazine
Tradução: Moara Crivelente, da redação do Vermelho