Latino-americanos preparam documento de repúdio à espionagem

Os presidentes latino-americanos preparam para esta sexta-feira (12) a formalização de um documento em que repudiam o monitoramento, pelos Estados Unidos, de dados na internet e telefonemas de cidadãos da América Latina. Inicialmente, a ideia é que a declaração apresente a preocupação com as denúncias de espionagem, a gravidade que elas representam e o fato de serem inaceitáveis.

Chanceler Antônio Patriota - Itamaraty

Além do Brasil, a Colômbia, o México, Equador e a Argentina se manifestaram sobre o assunto, condenando o monitoramento externo de informações de cidadãos.

O tema será abordado na Cúpula do Mercosul, em Montevidéu, no Uruguai, nesta sexta. Mas antes, os chanceleres do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela, e o Paraguai está suspenso temporariamente) e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) reúnem-se nesta quinta (11) para definir os termos do documento.

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antonio Patriota, ressaltou que o tom do documento será coerente com as premissas da política externa brasileira.

Ao ser perguntado se o governo do Brasil pretende elevar as críticas e reações aos Estados Unidos, como fizeram alguns países da região, o chanceler disse que os brasileiros têm uma posição bem definida. “O Brasil ouve [os demais países], mas não costuma seguir. O Brasil formula suas próprias posições de acordo com os interesses nacionais e com a política externa brasileira”, destacou.

Na Cúpula do Mercosul, também serão discutidos outros temas polêmicos envolvendo os parceiros latino-americanos. A expectativa é que presidentes dos países da Unasul (composta por 12 nações, com o Paraguai suspenso) participem da reunião desta sexta. Em pauta, o fim da suspensão do Paraguai do Mercosul e da Unasul.

Os paraguaios querem que o retorno seja imediato, mas o Uruguai avisou que a suspensão só acabará após 15 de agosto, depois da posse do presidente eleito Horacio Cartes. O Paraguai foi suspenso dos blocos regionais porque os líderes entenderam que houve rompimento da ordem democrática com a "destituição sumária", de acordo com o Itamaraty, do então presidente Fernando Lugo, em junho de 2012.

Também está em pauta a moção de apoio ao presidente da Bolívia, Evo Morales, que teve o avião proibido de sobrevoar e aterrissar na França, em Portugal, na Itália e na Espanha, quando voltava da Rússia, onde participou de reuniões técnicas sobre produção de petróleo.

A proibição, segundo as autoridades bolivianas, foi causada pela desconfiança dos europeus de que o consultor norte-americano Edward Snowden, que prestava serviços para a Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos, estivesse na aeronave presidencial. Snowden revelou que cidadãos de diversos países, inclusive brasileiros, foram monitorados pelos Estados Unidos.

A exemplo dos representantes do Mercosul, em Cochabamba (Bolívia), na semana passada, e da Organização dos Estados Americanos (OEA), os presidentes deverão aprovar uma declaração exigindo explicações e desculpas a Morales pelos quatro europeus.

Esclarecimentos sobre espionagem

No Brasil, o embaixador norte-americano, Thomas Shannon, foi convocado a prestar esclarecimentos às autoridades. Ele conversou com os ministros Patriota, Paulo Bernardo (Comunicações) e José Elito Siqueira (Gabinete de Segurança Institucional). Shannon prometeu colaborar com as autoridades e investigar as denúncias. Patriota disse que recebeu solidariedade da Argentina.

O vice-presidente do Equador, Jorge Glas, exigiu uma resposta efetiva do governo norte-americano. “Tem de haver transparência, respeitando as normas internacionais que protegem o direito à intimidade das telecomunicações que, evidentemente, foi atingido”, disse ele. “Isso é inaceitável e requer explicações e correções no mais alto nível.”

O Ministério das Relações Exteriores do México confirmou que foram pedidas informações ao governo dos Estados Unidos sobre as denúncias. Os mexicanos pediram aos norte-americanos um detalhamento sobre o monitoramento de 38 embaixadas e representações diplomáticas.

O governo do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, também pediu explicações formais. O embaixador norte-americano em Bogotá, Peter Michael McKinley, disse que seu país responderá pelos canais diplomáticos à Colômbia.

O Ministério das Relações Exteriores do Chile destacou que "procurará verificar a autenticidade" das informações e condenou "firme e categoricamente as práticas de espionagem". A presidenta da Costa Rica, Laura Chinchilla, defendeu um debate amplo sobre o tema e condenou as ações de monitoramento.

Na Venezuela, que ofereceu asilo político a Edward Snowden, a ministra de Assuntos Penitenciários, Iris Varela, sugeriu o encerramento das contas no Facebook. A presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, prometeu “forte pronunciamento” durante a Cúpula do Mercosul.

Com Agência Brasil