Derfner: Quando sionismo é racismo; Netanyahu e Ron Dermer

Ron Dermer, nomeado pelo premiê israelense Benjamin Netanyahu, nesta terça-feira (9), como o novo embaixador de Israel para os Estados Unidos, é conhecido como uma versão republicana ainda mais direitista do que o seu chefe. No jornal israelense Ha’aretz, Barak Ravid escreve: “Oficiais europeus e americanos disseram-se chocados com as posições [de Dermer] na questão das colônias judias, das negociações com os palestinos e do princípio de um Estado palestino independente”.

Por Larry Derfner*

Ron Dermer e Benjamin Netanyahu - Daniel Hertzberg / Tablet Mag

E fica ainda pior, entretanto. Dermer também é um campeão orgulhoso das visões mais horrendas anti-árabes, defendendo Netanyahu publicamente quando o seu mentor fez a declaração mais ofensivamente racista de sua carreira, que está em continuidade.

O episódio aconteceu no começo de janeiro de 2007, quando Netanyahu estava fora do poder, preparando a sua candidatura a primeiro-ministro de novo, e querendo consertar as coisas com o sumamente importante bloco eleitoral Haredi (ultra-ortodoxo).

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Eles apoiaram Netanyahu massivamente em sua eleição em 1996, mas ele os alienou no começo de 2000, quando era ministro das Finanças no governo de Ariel Sharon, cortando subsídios para crianças, afetando famílias grandes e pobres, especialmente prevalecentes entre dois grupos: Haredim e árabe-israelenses.

Então, Bibi [apelido de Netanyahu] foi conversar com um agrupamento de oficiais municipais haredi, colocando um tom positivo nos cortes que havia imposto. Seu discurso foi impresso pelo Ha’aretz e pelo Yedioth Ahronoth, que publicou: “em seu discurso, Netanyahu mencionou os cortes às pensões infantis, dizendo que desde que foram implementados ‘duas coisas positivas aconteceram: membros do público haredi juntaram-se seriamente ao mercado de trabalho. E a nível nacional, um efeito inesperado foi o demográfico, sobre o público não-judeu, pois houve uma queda dramática na natalidade’”.

Houve uma queda dramática na taxa de natalidade “não-judia”, por exemplo, árabe-israelense, e Netanyahu, falando para uma audiência judia, está não só citando isso como uma “coisa positiva”, mas está se vangloriando de que isso foi a sua decisão de empobrecer ainda mais as grandes famílias que se mantêm assim.

Ele não disse isso apenas uma vez, tampouco; eu li que ele fez o mesmo comentário para um grupo de membros ultra-ortodoxos do Knesset [parlamento israelense].

Imagine se um politico em qualquer outro país fizesse tal declaração sobre um grupo minoritário. Mas Israel é, bem, especial, e por isso os comentários de Netanyahu, relatados no Yedioth e no Ha’aretz não provou qualquer onda.

Então, decidi escrever uma nota sobre o discurso no Jerusalem Post, e intitulei-o “Um preconceituoso chamado Bibi”, em que disse que ele tinha ido além do páreo e se colocado na categoria de demagogos como Jean Marie Le Pen [ex-candidata francesa à presidência, de ultra-direita] e Jorg Haider [político austríaco nacionalista].

Ron Dermer, então ministro de Assuntos Econômicos na Embaixada israelense em Washington, defendeu a declaração em uma resposta sarcástica no Jerusalem Post, intitulada “A coragem de Bibi”: “Netanyahu foi pego no pulo. Quem pensaria que um líder israelense desde 2007 pensaria, e ainda, diria algo tão chocante? E pensávamos que a pitoresca noção de que líderes de um Estado judeu querem mais judeus que não-judeus nele fosse antiquada”.

O que Dermer quis dizer é que já que um Esatdo judeu é legítimo, e já que um Estado judeu requer uma maioria judia, então dissuadir os cidadãos não-judeus de terem filhos ao afetá-los economicamente é legítimo, também. E não há nada errado com vangloriar-se disso na frente dos judeus, também.

Ele conclui: “Mas enquanto [Derfner] deveria ser congratulado por trazer esta questão à nossa atenção, ele está errado ao chamar Bibi de preconceituoso. Ele é apenas um sionista, e aparentemente, até mesmo um orgulhoso [de sê-lo].”

Este é o novo embaixador de Israel nos Estados Unidos, mas estou certo de que ele se dará bem por lá, entretendo seus amigos republicanos adversários da administração Obama. É uma pena, porém, que ele não tenha sido nomeado embaixador para a Organização das Nações Unidas (ONU); teria sido interessante ouvi-lo reprimir a Assembleia Geral pela sua declaração, desde então anulada, de que “sionismo é racismo”.

Sionismo não é racismo, mas há um punhado de sionistas cujo sionismo certamente é racista. Netanyahu é um deles, e ele acaba de enviar outro deles para representar este país em Washington.

*Larry Derfner é um jornalista israelense independente que escreveu para jornais ocidentais e que colabora com a revista eletrônica +972

Fonte: +972 Magazine
Tradução: Moara Crivelente, da redação do Vermelho