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Altair Freitas: Uma Escola para todos e todas

O documento apresentado pelo Comitê Central para o debate do 13° Congresso é rico, equilibrado e aponta os caminhos percorridos no Brasil pelas forças democráticas e progressistas e pelo PCdoB em particular, na trajetória de lutas iniciada em 2002 com a vitória de Lula à Presidência da República.

Por Altair Freitas*

Aponta com muita propriedade os limites desse processo e identifica e propõe caminhos a serem trilhados para que tenhamos no Brasil um processo de intensificação das mudanças que possibilitem ao povo brasileiro, em especial à grande massa trabalhadora, alcançar patamares superiores de desenvolvimento econômico e padrão de vida, ao mesmo tempo em que impõe derrotas ao capitalismo neoliberal e nos aproxima da transição para a construção do socialismo. No balanço dessa década o documento busca ainda identificar os principais problemas enfrentados cotidianamente no trabalho de crescimento, estruturação e influência do PCdoB junto ao povo.

Nós últimos anos uma consigna importante passou a fazer parte do pensamento sobre a estruturação do nosso Partido: “Construir um Partido à altura dos desafios atuais”! Como sabemos, os desafios são gigantescos, complexos, difíceis de serem articulados de modo harmonioso e rápido para que tenhamos sucesso em larga escala nas diversas frentes de luta nas quais atuamos. Mas são desafios de caráter histórico, transformadores e cada um deles – e o seu conjunto – devem ser tratados pela militância comunista como o seu desafio. Como o nosso desafio!

Vários são os aspectos envolvidos no processo de estruturação partidária e um deles é o trabalho de formação. Nos últimos anos vivencio diretamente o processo de formação da militância a partir da atuação na secretaria executiva da Escola Nacional. Nesse período, junto aos demais camaradas responsáveis pelo trabalho específico de Formação e Propaganda – um complexo que envolve a própria Escola, a Fundação Maurício Grabois e a realização de um amplo leque de cursos e atividades variadas e importantes para o trabalho formador – vários aspectos saltam aos olhos, tanto no que diz respeito aos avanços – que foram muitos nessa década – bem como em relação aos limites, gargalos e insuficiências a serem analisados, compreendidos e superados. 

O processo de formação precisa ser entendido na sua íntegra. Formar de modo consistente e avançado militantes e quadros de um partido revolucionário implica conjugar um amplo conjunto de elementos que passam pela atividade organizada e periódica nas bases e comitês partidários, pela presença nas lutas diversas dos movimentos sociais, lutas de ideias e nas disputas institucionais. Mas implica também n=o estudo sistemático da teoria e ideologia revolucionárias. Implica conhecer as bases e fundamentos principais do marxismo-leninismo e buscar interpretar a realidade brasileira, a dinâmica do capitalismo do nosso tempo e da luta travada pela edificação socialista à luz desses referenciais teóricos primordiais do movimento comunista.

Se o Partido é em si uma grande escola, é preciso compreender que ele precisa de uma Escola que possibilite à militância ter de modo abrangente o acesso sistematizado e sistêmico aos principais elementos do seu pensamento teórico e análises sobre os processos revolucionários passados e os em curso. Sem uma Escola que possibilite a cada camarada estudar individual e coletivamente, vários aspectos do processo de estruturação ficam pela metade. E fora das fronteiras partidárias a sociedade capitalista não forma quadros marxistas-leninistas! Esse é um elemento central a ser compreendido por todo o coletivo partidário. A tarefa de formar política, teórica, política e ideologicamente é nossa! Não basta apenas querer fazer a revolução. Querer é fundamental, mas é preciso também que a militância comunista tenha ciência e consciência dos múltiplos aspectos que envolvem a luta transformadora. A frase de Lênin é muito conhecida e não custa relembrá-la, inclusive por ser absolutamente atual: ”sem teoria revolucionária, nada se constrói”!

Termos uma Escola. E ela e o seu trabalho precisam ser encarados como uma das tarefas prioritárias do próprio Partido. Nossa Escola é valorosa, valiosa e muito tem produzido e contribuído para o desenvolvimento do pensamento tático e estratégico do PCdoB. Constituiu um currículo rico e seus cursos são muito elogiados pelas diversas forças de esquerda do Brasil e da América Latina. Produziu cursos voltados para a militância – a que atua regularmente nas bases e para os (as) novos (as) filiados (as) e para quadros dirigentes com larga experiência.

Nos últimos quatro anos, cerca de vinte mil comunistas participaram das atividades da Escola Nacional em âmbito nacional. É muito, quando comparamos com os anos anteriores, quando a Escola ainda dava seus primeiros passos nessa nova fase iniciada no século 21. Mas quando olhamos o volume de camaradas organizados em algum grau nas estruturas partidárias e frentes de atuação, é pouco! Onde estão os gargalos? Sem dúvida estão muito relacionados com as próprias fragilidades estruturais do partido, que têm variados graus de inserção social e política e organicidade, conforme cada Comitê Estadual. Mas sem dúvida também, podemos dizer que há ainda uma grande subestimação em várias direções estaduais e municipais sobre a importância do trabalho de formação política, teórica e ideológica.

Do CPS – Curso do Programa Socialista – aos Estudos Avançados, os (as) comunistas têm um grande acervo de material à sua disposição. São cursos que podem ser realizados de modo coletivo ou individualmente através da internet utilizando o Ensino à Distância. Nos dias presentes, não há mais entraves – de tempo e espaço – para que cada camarada possa participar dos cursos do Partido. Mas como mostra a experiência, a formação em larga escala não se faz de modo espontâneo. Ela se dá principalmente a partir de uma firme ação articulada pelos comitês estaduais e municipais, organizando turmas, controlando o fluxo e a evolução pedagógica de cada camarada ao longo da estrutura geral de cursos da Escola. Sem essa ação articulada dos comitês, a partir das respectivas Secretarias de Formação, a formação militante enfrenta dificuldades para avançar. Nos tempos atuais, militantes e dirigentes que desconhecem o Programa Socialista e os elementos básicos do nosso pensamento, pouco contribuem efetivamente para o avanço da luta socialista. Repetindo Lênin, é preciso estudar e estudar!

*Altair Freitas é militante do PCdoB (SP) e secretário executivo da Escola Nacional do PCdoB