Congresso dos EUA reprova proposta de limitação da vigilância

Uma proposta que tinha como objetivo limitar os poderes de vigilância da Agência de Segurança Nacional (NSA) estadunidense foi reprovada na Câmara dos Representantes, mas a margem foi tão curta que pode representar um ponto de viragem na discussão sobre a recolha de dados em larga escala pelos serviços de espionagem no país. A discussão e a votação aconteceram na noite desta quarta-feira (24).

Agência Nacional de Vigilância - Jonathan Ernst / Reuters

A proposta de emenda, da autoria do republicano Justin Amash e do democrata John Conyers Jr., obteve a primeira vitória na semana passada, quando foi aceita para discussão na Câmara dos Representantes.

Entretanto, foi reprovada por apenas 12 votos (217 contra 205). Mas a aprovação por mais de 200 membros da Câmara é um sinal de que os protestos populares contra o registro e armazenamento de dados de forma indiscriminada estão produzindo efeitos juntos dos representantes políticos.

Mais do que qualquer outro tema, a vigilância de cidadãos provocou uma divisão no interior do Partido Republicano e do Partido Democrata, entre os congressistas mais liberais e mais conservadores de ambas as formações.

O documento, uma emenda ao orçamento para o Departamento de Defesa, que acabaria por ser aprovado com 315 votos contra 109, previa que a Agência de Segurança Nacional fosse constrangida a recolher os dados das chamadas telefónicas e de outro tipo de comunicações de pessoas suspeitas de terem cometido um crime, limitando a prática atual de armazenar informação sobre milhões de cidadãos.

A emenda Amash-Conyers obrigaria também o Tribunal de Vigilância e Inteligência Estrangeira (um tribunal criado em 1978 para avaliar os pedidos de vigilância feitos pelas agências do governo) a publicar um resumo de todas as suas decisões.

Este tribunal, composto por 11 juízes, validou a esmagadora maioria dos milhares de pedidos feitos pelos vários governos dos Estados Unidos desde que foi criado e nunca divulga as suas decisões. A a recente polêmica sobre os programas de espionagem da NSA começou precisamente quando o analista informático Edward Snowden passou uma dessas decisões aos jornais The Guardian e The Washington Post, no início de junho.

Pressão pública da Casa Branca

Para além da oposição declarada da Casa Branca, não se espera que o Senado venha a discutir uma proposta semelhante nos próximos tempos, pelo que a vigilância em larga escala dos serviços de espionagem norte-americanos continua a ser uma realidade. Mas a votação da noite de quarta na Câmara dos Representantes indica que o assunto não vai ser esquecido pelos congressistas.

A discussão e a votação da emenda Amash-Conyers levou a Casa Branca a emitir um raro comunicado, na noite de terça-feira (23), em que pressionava os congressistas a não aprovarem o documento.

A Administração Obama fez saber que pretende "continuar a discutir estes assuntos vitais com o povo americano e com o Congresso", mas opõe-se à proposta de emenda, que descreve como uma "tentativa de desmantelar apressadamente" uma das "ferramentas de contraterrorismo" dos serviços secretos norte-americanos.

"Esta abordagem radical não resulta de uma discussão aberta e informada. Instamos a Câmara dos Representantes a rejeitar a emenda Amash, e em alternativa avançar com uma abordagem que tenha em conta a necessidade de uma revisão fundamentada sobre as ferramentas que possam garantir a segurança da nação", declarou a Casa Branca.

O comunicado de terça-feira surgiu no final de um dia particularmente agitado no Capitólio. O diretor da NSA, o general Keith Alexander, reuniu-se com vários congressistas, para tentar convencê-los a rejeitar a emenda, que limitaria os poderes de vigilância da sua agência.

O congressista Justin Amash interpretou a declaração pública da Casa Branca como uma primeira vitória: "Quando foi a última vez que um presidente emitiu um comunicado urgente contra uma emenda? As elites de Washington têm medo da liberdade. Têm medo de vocês", escreveu no Twitter.

Fonte: Público