EUA definem equipe para mediação entre Israel e Palestina

“O secretário de Estado norte-americano John Kerry está finalizando a sua equipe para apoiar a condução das conversações de paz do Oriente Médio e garantir as tarefas pesadas em uma base diária”, disse uma oficial estadunidense, nesta segunda-feira (22). A possibilidade de uma retomada das negociações tem recebido grande atenção midiática, enquanto o impasse sobre a recusa para o fim da construção de colônias e o desacordo político no governo israelense não passam despercebidos.

John Kerry - Departamento de Estado dos EUA

A porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Jen Psaki, não confirmou nem negou informações de que um antigo embaixador estadunidense em Israel, Martin Indyk, tinha sido nomeado para chefiar a equipe negociadora dos Estados Unidos.

Em Amã, capital da Jordânia, na sexta-feira (19), finalizando a sua sexta viagem à região, Kerry anunciou que líderes israelenses e palestinos haviam concordado com a retomada das negociações congeladas há três anos. Entretanto, ressalvas importantes foram feitas em outro sentido, e o tom otimista ainda é questionável.

Os palestinos, por exemplo, exigem esclarecimentos dos israelenses sobre as bases aceitas para as negociações, uma vez que a Autoridade Palestina exige o reconhecimento das fronteiras de 1967 (de antes da Guerra dos Seis Dias, quando Israel passou a ocupar porções graduais da Cisjordânia).

Os israelenses, por outro lado, já indicaram não aceitar qualquer “pré-condição” e menos ainda um compromisso com relação às fronteiras, uma vez que o atual governo vem discutindo internamente há meses sobre uma posição oficial, sob a forte influência de grupos de colonos integrados à coalizão governante.

Ainda assim, a chefe das negociações e ministra da Justiça israelense, Tzipi Livni, sua contraparte palestina, Saeb Erakat, poderão viajar a Washington nos próximos dias para iniciar conversações, de acordo com o anúncio de Kerry.

Os Estados Unidos têm mediado as negociações há décadas, mas nenhuma das fases do chamado “processo de paz” trouxe resultados positivos aos palestinos, que ainda vivem sob uma ocupação militar condenada diversas vezes por resoluções da ONU, ainda que as mesas tenham se mostrado completamente ineficazes.

Analistas políticos acreditam que o interesse primordial dos EUA é a manutenção de um “status quo”, ou seja, uma ausência de mudanças estruturais favorável a Israel, o que também fundamenta o ceticismo de diversos grupos palestinos, inclusive o Hamas, partido islâmico que governa a Faixa de Gaza, com relação às negociações e ao compromisso real tanto dos Estados Unidos quanto, principalmente, de Israel.

Mesmo assim, a porta-voz do Departamento de Estado afirmou que “palestinos e israelenses deixaram claro que querem negociações substanciais” e para breve, referindo-se à preocupação dos mesmos analistas sobre a opção por assuntos espinhosos, mas “definitivos”, ou por medidas paliativas e proteladoras da solução final, como tem sido a prática há décadas.

O ex-presidente Jimmy Carter, por exemplo, que ajudou nas negociações do acordo de paz de 1979 entre o Egito e Israel (os Acordos de Camp David), disse estar “mais esperançoso do que há um mês atrás, ou há cinco anos”, sobre o progresso, considerando o momento “propício”.

A atuação de Carter é profundamente controversa, entretanto, e diversos intelectuais internacionais e palestinos que acompanharam o processo para o acordo entre o Egito e Israel, como Edward Said, caracterizam o resultado de desastroso, tanto para a questão palestina quanto para o próprio Egito, que acabou “vendido” aos Estados Unidos em troca de ajuda financeira e militar. Para os palestinos, restou um status de “autonomia” mantido à perpetuidade.

Mesmo assim, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, afirmou que a Administração Obama tem um “otimismo muito cauteloso” sobre as conversações previstas para breve, ressaltando que “a única forma de resolver essas questões é com as duas partes sentando-se para enfrentar negociações cara-a-cara”, já simplificando outra questão: a da redução dos atores envolvidos a "duas partes".

Com agências,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho