Sanções ao Irã afetam agência da ONU de assistência a refugiados

Em entrevista publicada nesta sexta-feira (26), pelo jornal Folha de S.Paulo, o chefe do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) no Irã, Bernard Doyle, afirmou que as sanções financeiras impostas pelos Estados Unidos e aliados à República Islâmica estão afetando as operações da ONU no país, que abriga mais de 800 mil afegãos e 40 mil iraquianos refugiados.

Refugiados afegãos - PressTV

Doyle listou como problemas gerados pelas punições ao Irã o aumento do custo das operações, o atraso na implementação de projetos, a dificuldade de abastecimento em material sanitário, entre outros.

No comando de 100 funcionários, Doyle disse esperar que a chegada do pragmático Hasan Rowhani à Presidência iraniana facilite a busca por uma solução ao impasse, com uma mudança da política ocidental para o Irã.

Em um dos exemplos dado pelo oficial da ONU, a exclusão do Irã da rede de sistemas bancários mundial (“swift”) ocasionou um aumento grave para o recebimento de fundos enviados desde Genebra (Suíça) para o ACNUR: antigamente, a transferência era feita em 24 horas, mas hoje leva até duas semanas.

“Claro que sabemos que a ONU e a ação humanitária não são os alvos das sanções. Mas o sistema bancário que precisamos usar é alvo dessas sanções. Sofremos danos colaterais”, diz Doyle.

Além disso, a volta a ser dada, que complica as transações, também traz custos altos à agência da ONU: Para cada milhão de dólares transferido, explica Doyle, “o custo é de US$ 40 mil. Isso representa muito”. O custo operacional e o atraso para a implementação de projetos cruciais também são consequências alarmantes, explica:

Existem três ou quatro meses no ano que são críticos por serem o período de assinatura de contratos com parceiros locais –ministérios da saúde e educação, além de 15 ONGs. Durante esses períodos críticos, precisamos transferir dinheiro para a implementação dos projetos.

Normalmente podemos transferir cerca de US$ 2 milhões ou US$ 3 milhões por mês, mas às vezes precisamos de até US$ 8 milhões de uma vez. Os atrasos ocorrem porque precisamos esperar até o mês seguinte para fazer pagamentos necessários à injeção de capitais, adiantamentos e contratos de compra de equipamento por nossos parceiros terceirizados.

O comissário da ONU também ressalta que a organização preocupa-se com a questão, mas que na região, acaba absorvida pela questão síria, que enfrenta uma escalada considerável da violência interna desde 2011 e que, por isso, requer a atenção primordial das agências humanitárias.

Além disso, Doyle conta que o ACNUR acaba atingido especialmente na questão da saúde, área que recebe grande parte da atenção da agência. “Há problemas na cadeia de abastecimento de remédios e equipamentos médicos”, como os necessários para o tratamento de problemas de rins, explica, recorrentes entre refugiados. “A Cruz Vermelha passou a fabricar o seu próprio material”, explica, devido à dificuldade de importá-lo.

Com informações da Folha de S.Paulo