Justiça julga 26 PMs pela participação no Massacre do Carandiru

Vinte e seis policiais militares vão ser julgados nesta segunda-feira (29), em São Paulo, pela participação no Massacre do Carandiru, em 1992. Os PMs foram responsabilizados pela morte de 73 dos 111 presos que perderam a vida na invasão do presídio.

20 anos do massacre do carandiru

Segundo a denúncia, os PMs estavam no 2º andar do pavilhão 9, onde foi encontrada a maior parte dos corpos. Há três meses, os PMs que estavam no 1º andar foram julgados e condenados a 156 anos de prisão cada um, mas aguardam o recurso em liberdade.

Acusação 

Inicialmente, o júri desta segunda-feira (29) deveria ter 28 réus, mas um morreu na época que a denúncia foi oferecida e outro foi interditado judicialmente por problemas mentais. Dos PMs que serão julgados a partir desta segunda, nove ainda estão na ativa. Entre os réus está o ex-comandante da Rota tenente-coronel Salvador Modesto Madia, que comandou o batalhão até o ano passado.

O corpo de sete jurados deve ouvir oito testemunhas de acusação e quatro de defesa. Outras cinco testemunhas que falaram no julgamento de abril vão ter suas oitivas, que haviam sido registradas em vídeo, reaproveitadas e não precisarão comparecer ao julgamento.

O juiz responsável pelo caso será Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, que vai substituir o juiz José Augusto Nardy Marzagão, que atuou no primeiro julgamento, e pediu para ser transferido para a comarca de Atibaia, na região de Bragança Paulista. A previsão é de que o julgamento dure até sábado.

Um total de 130 PMs chegou a ser denunciado pelo massacre do Carandiru, mas o número foi diminuindo conforme foram prescrevendo muitas das acusações e vários PMs morreram. Hoje, apenas 79 PMs respondem ou responderam pelos crimes.

O massacre
 

Em 2 de outubro de 1992, cerca de 340 policiais invadiram o pavilhão nove do Carandiru para conter uma rebelião na Casa de Detenção de São Paulo, parte do complexo presidiário. O comandante da operação era o coronel Ubiratan Guimarães. Tudo caminhava para que os mais de 2 000 detentos fossem dominados e tranquilizados, até que os batalhões de choque chegaram ao segundo andar do pavilhão, o foco da revolta. Então, passou-se meia hora de execuções à queima-roupa. Armados com revólveres, escopetas e metralhadoras, os policiais executaram sumariamente 111 presos. Do lado da polícia, nenhuma baixa.

Em setembro de 2002, a Casa de Detenção, a maior da América Latina, foi finalmente desativada. No local, foi construído um parque público com áreas de lazer e cultura. Cerca de 170 000 pessoas passaram pelo presídio em 46 anos. O governador e o secretário de Segurança do Estado na época não foram responsabilizados pelo episódio.

Em 2001, o coronel Ubiratan foi condenado a 632 anos de prisão por comandar a ação no Carandiru, mas, em fevereiro de 2006, o Tribunal de Justiça de São Paulo reinterpretou a decisão do 2º Tribunal do Júri e decidiu absolver o coronel. Ubiratan foi morto em setembro de 2006 com um tiro na barriga, em seu apartamento nos Jardins, região nobre de São Paulo.

Segundo a Defensoria Pública do estado, dos 64 processos de indenização movidos por familiares das vítimas do Carandiru contra o estado, apenas 26 tiveram ordem de pagamento autorizada. A maioria foi paga só em 2011 – e boa parte das indenizações autorizadas segue na fila dos precatórios.


Com agências