“Rouhanimania”: o Irã captura a atenção do mundo

A troca de comando em Teerã, semana que vem, obriga a ver o Irã como o que realmente é naquele volátil Oriente Médio  – um oásis de estabilidade. O que torna possível a troca de comando é a legitimidade política do regime iraniano e sua substancial base social, apesar do inevitável desgaste que lhe advenha depois de décadas no poder.

Por MK Bhadrakumar, no Indian Punchline

Hassan Rouhani, presidente eleito do Irã

Sabemos assim que o presidente Mahmoud Ahmedinejad voltará à sua profissão original, como professor universitário. Quanto a isso, nenhum problema. A ironia é que a nova universidade propõe nova especialização, em engenharia nuclear, decisão que, evidentemente, foi aprovada pelo Líder Supremo, Ali Khamenei.

O presidente eleito, Hassan Rouhani está organizando seu gabinete e já praticamente não há dúvida de que trará de volta Bijan Zanganeh – o velho bruxo, ex-ministro do todo poderoso ministério do petróleo – para comandar os negócios novamente – antecipando, presumivelmente, que a indústria precisa ser modernizada, tecnologicamente atualizada, esperemos que com tecnologia e investimentos ocidentais, de modo que o Irã possa afinal emergir como grande exportador, esperemos, para o mercado ocidental.

Evidentemente se vê a mão de Rafsanjani na reconvocação de Zanganeh? Sim, sim, sem dúvida. A palavra “pragmatismo” está em todos os lábios, o que explica o alto grau de interesse entre os países regionais, todos interessados em comparecer à cerimônia de posse, semana que vem. Representantes de 40 países já confirmaram presença, mas todos os olhos estão postos em Riad, tentando adivinhar quem representará o reino na posse, em Teerã – mas o jornal Asharq Al-Awsat mantém o suspense.

Enquanto isso, no ocidente, o debate continua. Em termos gerais, pode-se dizer que já emergiram três linhas de pensamento – além das previsões catastrofistas de Israel, segundo as quais Rouhani seria “lobo em pele de cordeiro” (que ninguém está levando a sério).

Há um consenso geral segundo o qual o evento Rouhani é evento positivo. As surpreendentes revelações, pelo ex-embaixador da França em Teerã, Francois Nicoulland, segundo o qual o currículo de Rouhani como negociador nuclear iraniano destaca seus talentos e, simultaneamente, descortina amplas possibilidades para as próximas semanas, no front diplomático.

O timing do artigo do New York Times é fascinante. Pode-se praticamente garantir que o governo Obama conhece o conteúdo das revelações trazidas à luz por Nicoulland.

Mesmo assim, persistem os Santos Tomás da dúvida nos think-tanks norte-americanos que insistem que Rouhani não merece(ria) “confiança” – signifique o que significar, porque diplomatas não costumam “confiar” cegamente em ninguém. Andam claramente infelizes, agora que o governo Obama começa a “engajar” o Irã. Mas essa linhagem de formadores de opinião está perdendo prestígio. Começam a ser vistos como “o time B” de Israel.

Chama a atenção quanto a isso que até o Financial Times, que jamais foi amigo do Irã, já tenha publicado editorial audacioso, introduzindo a ideia de que o Ocidente terá de usar a imaginação, em vez de continuar a provocar o Irã; que terá de ser racional e conciliatório nas negociações passo a passo (ideia já proposta, de fato, por Moscou). E o Financial Times reflete o pensamento dominante em Londres e Washington.

*Foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Irã, Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Times Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

Fonte: Redecastorphoto. Traduzido pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu