Turquia anuncia sentenças de "conspiradores" contra o governo

Uma corte turca começou a sentenciar, nesta segunda-feira (5), quase 300 réus acusados de conspiração para derrubar o governo da Turquia, e deu sentenças de prisão de até 20 anos para alguns, além de absolver outros 21, em um caso que expôs profundas divisões no país. O tribunal anunciou os vereditos separadamente, e Ilker Basbug, um comandante aposentado das Forças Armadas, foi sentenciado à prisão perpétua.

Réus Turquia - Reuters

Além disso, outros três parlamentares da oposição foram sentenciados a penas de 12 a 35 anos de prisão. Os vereditos para outros réus do alto escalão ainda serão anunciados.

Mais cedo, forças da segurança lançaram gás lacrimogêneo nos campos à volta do tribunal, no complexo carcerário de Silivri, em Istambul, enquanto apoiadores dos réus juntaram-se para protestar contra o julgamento que já dura cinco anos e que tornou-se uma batalha entre o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan e os secularistas.

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Procuradores dizem que uma suposta rede de “ultranacionalistas seculares”, denominada “Ergenekon”, cometeu ”mortes extrajudiciais” e bombardeios para incitar um golpe militar, um exemplo das forças antidemocráticas que Erdogan diz que seu Partido AK, de raízes islamistas, lutou para desvendar.

Críticos, inclusive o principal partido da oposição, disseram que as acusações são manipuladas, com o objetivo de sufocar a oposição e subjugar o “establishment” secularista, que dominou a Turquia por muito tempo.

Os mesmos dizem também que o Judiciário tem sido objeto de influência política ao conduzir o caso. “Este é um julgamento de Erdogan, é o teatro dele”, disse Umut Oran, um parlamentar do partido CHP, da oposição, em declarações à agência Reuters.

Erdogan negou qualquer interferência no processo legal, e ressaltou a independência do Judiciário, mas criticou os procuradores e sua forma de lidar com o caso, para expressar descontentamento com o tempo em que os réus foram mantidos em custódia.

“No século 21, para um país que quer se tornar um membro pleno da União Europeia, este julgamento claramente político não tem qualquer base legal”, disse Oran, no tribunal.

Em maio e junho, a Turquia foi cenário de intensas manifestações populares contra o governo de Erdogan, acusado de tentar “islamizar” o país e de não cumprir com as suas responsabilidades sociais. Os protestos começaram e foram intensificados a partir da dura repressão policial, apoiada e ordenada diretamente por Erdogan, contra manifestantes que pediam a suspensão dos planos de construção no Parque Gezi, um dos raros lugares verdes de Istambul.

Com agências,
Da redação do Vermelho