Brenna Carvalho: Todos têm direitos?

Por *Brenna Carvalho

Há anos que nós dos movimentos sociais não precisamos de “colinha” ao fazermos nossas intervenções. O que o povo precisa está na nossa frente, em todo lugar: mais saúde, educação de qualidade, saneamento básico e outras inúmeras pautas regionais e nacionais. Observando ao pé da letra, queremos fazer valer a nossa constituição, que ao longo da história é desrespeitada pelo atual sistema político que em vivemos.

Todos nós somos iguais perante a lei, mesmo assim é preciso aprovar Projetos de Lei (PLs) que garantam a liberdade religiosa, criminalizem a homofobia, aprovem o casamento igualitário. É preciso que tenha a lei Maria da Penha para assegurar a integridade das nossas mulheres, que haja pressão para que tenhamos equidade salarial entre homens e mulheres que desempenham a mesma função, por exemplo. Mais do que nunca é necessário que os movimentos sociais estejam em alerta para que tudo isso não seja também desrespeitado.

“Todos temos direito a educação”, mas ainda hoje nos sertões vemos crianças trabalhando na roça com as mãos já calejadas enquanto seus poucos colegas andam quilômetros para ter aula debaixo de uma árvore com um professor voluntário que nem graduado é. Foi preciso ir às ruas para lutar por mais investimentos, eleger um operário à presidência da república para que mais de 90% garantisse acesso às escolas.

Para dobrar o número de vagas nas universidades, enfrentamos os barões da educação, que hoje já não vendem tão bem sua “chave mágica” que passa no vestibular, porque o ENEM aos poucos paga a impagável dívida histórica que temos com os filhos dos trabalhadores, que desde que Brasil é Brasil são excluídos do sistema educacional.

Hoje cantamos alto e com lágrimas nos olhos que o “filho do pedreiro vai poder virar doutor” e os sorrisos de mães, pais e estudantes, que têm uma nova perspectiva de vida, fazem valer a pena cada texto lido, cada passeata, todas as salas de aula passadas durante as várias mobilizações, as vezes em que viajamos sem dinheiro, enfrentamos as ideias e as máquinas da elite conservadora… Enfim, tudo vale a pena quando a vitória vem para o povo.

Todos têm direito de ir e vir? E diariamente por todo país vemos as lutas que são travadas contra o aumento da tarifa do transporte, estudantes e trabalhadores apanham e são presos, tudo isso pra manter o lucro dos grandes empresários que tomam conta do transporte público. Não é uma contradição?

Mas afinal, o que tudo isso quer dizer? Prendemos os agressores, educamos o filho do trabalhador e casamos quem tem amor, não estaria tudo perfeito? Não! Ainda temos muito a avançar e um inimigo a ser enfrentado, aquele que diz que a mulher tem que ser submissa ao homem e perpetua todos os valores machistas e homofóbicos, que o gay é a piada (a diversão da madame), diz também que o negro (favelado) é o encanador e a negra a doméstica e é para ser feliz. Você sabe quem é esse inimigo?

Não?! São aqueles que marginalizam os que vão às ruas por melhorias para o país, que esquecem a voz das comunidades, distorcem a realidade e violam as mentes das nossas crianças impondo padrões de beleza “photoshopados”.

São para esses que agora vamos às ruas, às escolas, à base com uma “colinha” de 12 páginas que se chama Projeto de Lei de Iniciativo Popular da Comunicação Social e Eletrônica e pretende regulamentar o capítulo 5 da nossa constituição, acabar com os monopólios da comunicação, abrir concessões para as TVs e rádios comunitárias e não permitirá que seja exibido qualquer conteúdo de cunho machista, racista ou homofóbico.

É através dessa “colinha” que vamos botar no ar toda a diversidade do povo brasileiro, que lutou e luta por um Brasil dos nossos sonhos.

*Brenna Carvalho é presidente da Associação Cearense dos Estudantes Secundaristas (ACES)

Fonte: Blog UJS Ceará

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