"Mediação internacional fracassou", diz governo interino do Egito

O Governo interino do Egito, instalado após a destituição do presidente Mohammed Mursi, deu por terminados os esforços de mediação internacional para a crise política no país, nesta quarta-feira. Além disso, afirmou que a Irmandade Muçulmana, da qual Mursi faz parte, será responsável pelo fracasso das negociações e pelas “consequências futuras”.

Egito apoio a Mohammed Mursi - Mohamed Abd el-Ghany/Reuters

O anúncio, que se antecipava face à ausência de progressos, deixa no ar a possibilidade de o Exército cumprir a ameaça de desmantelar pela força os acampamentos montados em duas praças do Cairo, pelos apoiantes de Mursi, o presidente islamita deposto pelos militares há pouco mais de um mês.

“A fase dos esforços diplomáticos acabou hoje”, lê-se num comunicado emitido pelo gabinete de Adly Mansour, o presidente do Supremo Tribunal a quem os militares entregaram interinamente a chefia do Estado. A nota acrescenta ainda que as novas autoridades “responsabilizam a Irmandade Muçulmana pelo fracasso destes esforços e por futuros desenvolvimentos que possam resultar deste fracasso”.

Mais de 250 pessoas morreram em confrontos no Egito desde a deposição de Mursi pelas forças armadas, incluindo 80 apoiantes do ex-presidente, mortos a tiro pelas forças de segurança em um único incidente, em 27 de julho.

Alarmados com o nível da violência no maior país árabe do mundo e temendo pelo futuro da transição democrática no país, a União Europeia, Estados Unidos e vários países vizinhos enviaram emissários ao Cairo para mediar contatos entre as duas partes, mas sem conseguir que nenhuma cedesse na sua posição de fundo: o Exército só aceita negociar com a Irmandade depois de ela abandonar as ruas; e os islamitas recusam qualquer diálogo antes de Mursi ser reconduzido ao cargo.

Na mesma altura em que a presidência anunciava o fim das negociações, o secretário de Estado adjunto norte-americano, William Burns, deixava o Cairo. O representante da UE continuava no país e a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, prometia que os europeus “vão continuar empenhando tudo ao seu alcance para encorajar as duas partes a avançar com um diálogo inclusivo, tão importante para o regresso da transição democrática ao Egito”.

Na terça-feira (6), os senadores norte-americanos John McCain e Lindsay Graham, incumbidos pelo presidente Barack Obama de entrarem em contato com as duas partes, avisaram que a violência regressará ao país a menos que as autoridades aceitem libertar as centenas de islamitas presos nas últimas semanas, e aceitarem um diálogo com todas as forças políticas. O apelo, entretanto, foi publicamente recusado pelo Governo e alvo de fortes críticas na imprensa.

Al-Azhar, a mais importante instituição religiosa do mundo sunita, convidou todos os que apresentaram propostas para resolver a crise para uma "importante reunião", a ter lugar após o Ramadã, que termina neste fim-de-semana.

Com informações do Público