No Peru, 97% das vítimas de violência sexual não denunciam abuso

Uma pesquisa realizada pelo Centro de Promoção e Defesa dos Direitos Sexuais e Reprodutivos (Promsex) do Peru, revelou que 79% das mulheres entre 18 e 29 anos residentes no distrito de Mazán, região de Loreto, no Peru, afirmaram que foram vítimas de algum tipo de violência ou abuso sexual durante sua vida.

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A investigação mostrou que as agressões ocorrem, principalmente, quando as vítimas são ainda menores de 18 anos. Os dados também revelaram que na maioria das vezes, a primeira relação sexual das adolescentes foi fruto de alguma forma de violência. Em virtude disso, 56% das meninas entre 14 e 17 anos ficaram grávidas em consequência das violações sexuais. De acordo com o estudo, quase 85% das entrevistas já têm pelo menos um filho.

Assim como na maioria dos casos de violência sexual no mundo, a pesquisa do Promsex também apontou que os agressores, geralmente, são pessoas próximas à vítima como pai, padrasto, companheiro ou outros familiares (72%). Em seguida, apareceram amigos, vizinhos ou professores (21%) e, em menor escala (7%) os agressores foram pessoas desconhecidas.

Apesar da alta incidência destes abusos no distrito de Mazán, localizado no noroeste da Amazônia peruana e que tem apenas 13 mil habitantes, 97% das mulheres afirmaram que permanecem em silêncio e não denunciam, pois não encontram ajuda nem amparo legal. Para o pesquisador responsável pelo estudo, Jaris Mujica, a violência sexual na região é recorrente e de alto impacto, e "aparece em uma cadeia, uma linha histórica”.

De acordo com a pesquisa, a região da Amazônia peruana, onde a presença do Estado é quase nula, é o local onde mais ocorrem estes abusos e apresenta alto índice de gravidez na adolescência.

Situação semelhante acontece na Cidade Juárez, no México, onde a violência sexual aumentou 80% nos últimos dez anos, assim como a violência praticada por pessoas da mesma família contra mulheres de 15 a 24 anos de idade. Para a dirigente da organização Casa Amiga no México, Esther Chávez Cano, "a violação é um ato de poder, não é uma resposta hormonal instintiva".

Para José Rouillon Delgado, coordenador do Foro-Rede Paulo Freire Latino-americano no Peru, a situação de pobreza e o baixo nível de educação são fatores que contribuem para os altos índices de violações e abusos sexuais. Para ele, a incidência deste crime também está ligada à educação religiosa conservadora, mas em seu entender, a repressão e o aumento de penas ou castigos não são as formas corretas para solucionar o problema. "A educação de qualidade sim é o caminho! Todos somos chamados para uma educação popular libertadora, pública, de qualidade, gratuita, científica, laica”, ressalta.

No início deste mês, o Observatório de Criminalidade do Ministério Público do Peru revelou que 95% das vítimas de violências sexuais são mulheres, sendo que deste total, 76% são meninas menores de idade. Devido a esta realidade alarmante no Peru é que está sendo realizada a campanha nacional "Mulher que se escute tua voz: Um homem não viola", que incentiva as autoridades a debater a aplicação de medidas para prevenir a violação sexual e para que as vítimas usufruam de processos adequados, justos e oportunos, com reparação dos danos sofridos.

Fonte: Adital