Colômbia: Santos volta atrás após suspender diálogo com as Farc

Representantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP) anunciaram, na última sexta-feira (23), uma pausa temporária nos diálogos de paz, enquanto analisam a proposta do governo colombiano de submeter os possíveis acordos a um referendo. Em resposta a interrupção, o presidente Juan Manuel Santos ordenou o “imediato” retorno de seus negociadores à Bogotá, dizendo que vai “retomar as conversações quando considerar apropriado”.

Juan Manuel Santos

Na quinta-feira passada (22), o mandatário colombiano enviou um projeto de lei em caráter de urgência ao Congresso, para que se realize a consulta popular ao mesmo tempo das eleições presidenciais e parlamentares do próximo ano. A ideia do chefe de Estado é definir um prazo para o fim do diálogo e fazer a população decidir sobre aquilo que for pactuado entre as partes em Havana (Cuba), onde está sendo negociada a paz.

Leia também:

Farc-EP condenam ações do governo contra protestos na Colômbia
Presidente colombiano quer referendo para acordos de paz com Farc

Por sua vez, as Farc sustentam que o mecanismo ideal para votação é uma Assembleia Constituinte e, por isso, reagiram ao projeto de Santos anunciando uma pausa “para se concentrar exclusivamente na análise dos alcances da proposta”.

O grupo guerrilheiro ainda fez questão de deixar claro que não está se retirando das negociações. Segundo a agência de notícias EFE, as Farc confirmaram que a “pausa” se estenderia até a segunda-feira e, logo em seguida, na terça, reiniciariam o processo que já cumpre nove meses.

“Nesse processo, quem decreta as pausas e impõe as condições são as Farc”, reclamou Santos ao declarar a interrupção do processo de paz. A decisão unilateral do presidente colombiano demonstra que ele não está disposto a deixar esse tipo de deliberação na mão do grupo guerrilheiro, principalmente para não parecer "fraco" perante a opinião pública do país.

“Vamos avaliar o alcance desse comunicado, o alcance do comportamento das Farc frente às nossas iniciativas que estão buscando unicamente acelerar a solução desse conflito”, justificou Santos.

Segundo jornais locais, a dura reação do presidente ao comunicado da guerrilha pegou muitos colombianos de surpresa, pois o negociador governamental, Humberto de la Calle, havia anunciado anteriormente que o diálogo não seria quebrado. “Espera-se que o tempo que as Farc dediquem ao estudo do projeto de lei seja breve”, acrescentou ele ao seu discurso.

Volta atrás

Depois de uma reunião de urgência com o mandatário colombiano, na Casa de Nariño (sede do governo), no sábado (24), De la Calle declarou que vai voltar para Cuba na próxima segunda para continuar com o desígnio de paz.

Durante o encontro, Santos e o representante governamental revisaram o estado das conversações e tomaram a decisão de retomar o diálogo. “Fizemos uma avaliação muito profunda e detalhada da situação. O presidente nos instruiu a regressar e buscar o término do conflito”, afirmou De la Calle que foi à Bogotá seguindo a ordem anterior do chefe de Estado.

No meio do vai e vem do governo da Colômbia, o grupo guerrilheiro lançou um comunicado reforçando que a “pausa” faz parte da agenda política das negociações e que é necessária para refletir melhor sobre as deliberações.

“O governo comunicou sua decisão de apelar ao referendo como mecanismo de votação, sem mencionar os procedimentos de construção democrática daquilo que seria referendado”, diz o documento das Farc.

De acordo com De La Calle, “a eventual concretude deste ou de qualquer mecanismo, depende do que as delegações acordem em Havana”.

Théa Rodrigues, da redação do Vermelho,
Com informações das agências de notícias