Equipe da ONU para investigação na Síria é atacada a tiros

A equipe da Organização das Nações Unidas de investigação na Síria, de 20 membros, inicia nesta segunda-feira (26) as suas atividades em Ghouta Oriental, próxima à capital, Damasco, onde na semana passada a oposição ao governo alegou que o Exército sírio usou armas químicas contra a população. No trajeto, o comboio que levava a equipe, com seis carros, foi atacado por atiradores de elite, segundo a própria ONU.

ONU Síria - Reuters

A ONU informou, após o ataque ao seu comboio (em que um dos carros foi atingido por diversos tiros), que a missão retomaria as suas atividades assim que pudesse substituir o veículo. Não foram relatados feridos.

O governo sírio atribuiu o ataque a "terroristas", já que a equipe internacional está no país a convite das autoridades, que vêm pedindo investigações desde março. O ministro de Relações Exteriores Walid al-Mualem já havia se encontrado com a representante da ONU para o desarmamento, Angela Kane, que integra a equipe, e demonstrado o compromisso do governo com as investigações.

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O governo do presidente Bashar Al-Assad negou veementemente o uso de armas químicas, e disse que a ação seria um “suicídio político”, “ilógica”, justamente quando a equipe de peritos, liderada pelo cientista sueco Ake Sellström, chegou no país, em negociação e a convite do próprio governo.

Importantes diários nos Estados Unidos, como o New York Times, já têm elevado o tom sobre a iminência de uma intervenção, e este jornal afirma, inclusive, que o governo dos EUA (e de seus aliados Reino Unido e França) está convencido de que as forças armadas na Síria usaram armas químicas.

O presidente Assad disse, em entrevista à agência russa Izvestiya, que as acusações são “um insulto ao senso comum”, e advertiu para o fato de que uma intervenção dos EUA em seu país seria um “fracasso, da mesma forma que o foram as outras guerras que conduziram, desde o Vietnã até os dias de hoje”.

Não é a primeira vez que alguns países do Ocidente tentam empreender uma operação militar contra Damasco, esforços todos fracassados, afirma o presidente, já que "não puderam convencer o seu povo de que a sua política no Oriente Médio é inteligente e útil". Assad afirmou também que "se alguém está sonhando em fazer a Síria um boneco do Ocidente, isto não vai acontecer".

Intervenção ou conferência

Apesar da atenção midiática ocidental e do aumento da retórica intervencionista (em tons mais diretos, no caso do chanceler francês Laurent Fabius, e menos diretos, no caso do presidente estadunidense Barack Obama), que deixa a possibilidade insinuada sobre a mesa, os meios de comunicação sírios e investigadores locais também teriam proporcionado provas sobre a possessão de armas químicas por parte dos rebeldes.

"Como é possível que o governo use armas químicas ou qualquer outro tipo de arma de destruição massiva em um lugar onde estão concentradas as suas tropas? Isso seria contrário à lógica básica", asseverou Assad.

O ministro da Informação Omran al-Zoubi advertiu contra uma possível intervenção militar, e afirmou que “uma agressão teria graves repercussões e seria uma bola de fogo que queimaria a Síria e faria arder toda a região”, em entrevista à emissora libanesa Al-Mayadeen.

Rússia, Irã, Venezuela e vários especialistas políticos e militares consideram que o ataque foi uma provocação dos grupos armados, muitos compostos por mercenários estrangeiros ou islamitas (inclusive estrangeiros), como no caso da Frente Al-Nusra, assumidamente ligada à rede Al-Qaeda.

Neste domingo (25), Moscou advertiu a Casa Branca para que não repetisse os erros do passado, em referência à manipulação do assunto sobre as armas de destruição em massa, usado como pretexto para a invasão do Iraque, em 2003. Além disso, também pediu mais pressa na convocatória da conferência de diálogos políticos em Genebra (Suíça), como proposto há meses, mas rejeitado pela oposição armada.

A equipe enviada pela ONU chegou a Damasco no dia 18 de agosto, para analisar e investigar as denúncias, tanto do governo quanto dos grupos rebeldes, sobre o uso de armas químicas. Na semana passada, o ataque (de que os militantes acusam o governo) teria deixado cerca de 1.300 mortos, mas algumas autoridades sírias e estrangeiras também acusaram os grupos de o terem forjado para desviar a atenção da missão da ONU no terreno.

Com agências,
Da redação do Vermelho