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Marcos Panzera: Resgatar o trabalho de massas

Segundo o Programa Socialista do Partido, dentre as três tarefas que adquiriram um fundamento que orienta a prática do PCdoB, destaca-se “a mobilização e organização das massas trabalhadoras e do povo, fonte principal de crescimento do Partido e força-motriz fundamental das mudanças…”
Por Macos Panzera (Neco) *

Entendo que a concretização das principais bandeiras e Reformas para o avanço do Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento dificilmente serão realizadas sem um poderoso movimento de massas. A mudança da correlação de forças no Congresso Nacional, por exemplo, dificilmente ocorrerá se não houver como base o movimento de massas. Vide experiência das diretas já e pelo candidato único das oposições; e do movimento “Fóra Collor” ambos em que a correlação de forças foi alterada graças à pressão das ruas.

Defendo a necessidade de maior destaque ao papel do movimento de massas em articulação com a luta de ideias e a frente institucional nas resoluções a serem aprovadas no 13º Congresso, indicando como um dos caminhos fundamentais para a realização das reformas estruturais.

Penso que nosso Partido tem subestimado essa questão. Com a justa priorização da luta institucional, temos aos poucos abandonado o trabalho de massas. E mesmo no trabalho com as frentes de massa priorizamos os encontros, congressos, eleições de entidades abandonando o trabalho com os milhões de trabalhadores, jovens, mulheres, comunitários etc.

É evidente que a conjuntura mudou e novos desafios se apresentam, entretanto, acho que devemos tirar as consequências do entendimento de qual é a força motriz das mudanças.

Tive o cuidado de pesquisar as orientações nacionais para as frentes de massa.

Vejamos:

A UJS: As Resoluções da Plenária nacional da UJS, após realização de curso de formação no dia 23 de julho de 2013

“Novos desafios foram lançados para manter a juventude mobilizada por transformações mais profundas na sociedade. Dos objetivos aprovados na plenária nacional, quatro se destacam com muita força: a luta pela democratização da mídia, a luta pela memória e verdade sobre os crimes da ditadura militar, a desmilitarização da policia militar e a nova campanha de filiação.”

Não se coloca com força a necessidade da mobilização dos milhões de jovens, o necessário aumento da representatividade da UJS e das entidades por elas dirigidas, como UNE, Ubes e muitas outras com campanhas que coloquem em movimento os estudantes e demais jovens. Há os argumentos de que vivemos um momento de descenso dos movimentos sociais, que os movimentos adquiriram outras características, etc. Mas as recentes jornadas de junho desmentem essas assertivas. O último Congresso da UNE, por exemplo, reuniu 10 mil estudantes, um número expressivo, mas, por exemplo na Universidade Federal do Pará que conta com mais de 44 mil estudantes, a UJS não tirou 100 delegados. Não quero menosprezar o trabalho de nossos camaradas da juventude, mas o que levanto, é a necessidade de se mudar o foco. Nossa preocupação deve ser como atingir os milhões de estudantes e mobilizá-los por suas aspirações buscando politizar o movimento.

No movimento sindical: Nas resoluções do 5º Encontro Sindical Nacional do PCdoB realizado no Rio de Janeiro em maio de 2013. —- As resoluções do encontro foram: contribuir para o fortalecimento da CTB, com base na unidade em torno do programa e no pluralismo de sua composição, intensificando o processo de filiação de novas entidades à Central; renovar métodos de orientação política e sindical; ampliar a participação no sindicalismo internacional; fortalecer a presença dos comunistas nos sindicatos para disputar sua hegemonia, e por aí vai.

Aqui também, não se vê a preocupação de transformar os sindicatos filiados em verdadeiros sindicatos classistas, de luta, de massa, que se enraízem entre os trabalhadores e os orientem para a luta política. Tudo bem que as proposições aprovadas são justas. Mas, em minha opinião, falta a preocupação de atingir os milhões de trabalhadores, sindicaliza-los, mobilizá-los, organizá-los e politizá-los.

O movimento de mulheres: É inegável a contribuição dada pela UBM na luta pela emancipação. Mas também é inegável que não há a preocupação de atingir as milhões de mulheres com campanhas de massa que tornem a entidade em efetiva representante das mulheres brasileiras.

O movimento comunitário nem se fala. Tenho conhecimento que o acompanhamento nacional a essa frente é mínimo. E não é por falta de problemas urbanos de saúde, mobilidade, saneamento, que as massas urbanas tem como serem mobilizadas.

O que quero concluir, é que vai se formando uma concepção no Partido que subestima o trabalho de massas, o trabalho de base. As explicações e justificações são variadas. Mas as consequências são sérias. O Partido corre o risco de se transformar em Partido eleitoral. E sem trabalho de massa e de base é muito difícil organizar bases partidárias. O Partido deixa de ter raízes. A luta de massas é que dá vida à organização de base e a todo o Partido. Sem ela não se renova a militância e se fortalece o caráter comunista do Partido e das entidades que dirige.

As pautas definidas pelas entidades e o Partido são somente pautas gerais. Bandeiras gerais, tirar delegado para o congresso tal e qual, participar da eleição de entidades. Longe de subestimar a importância das bandeiras gerais, dos congressos e eleições de entidades. Entretanto não há a preocupação de pautar a luta de massas com bandeiras que mobilizem a população e que sem dúvida seriam essenciais para organizar as bases partidárias. Mede-se o desempenho das entidades e do Partido pelo nº de delegados que tirou e não pelas lutas que desenvolveu.

Não que os congressos e encontros não sejam importantes. Mas cada vez mais se tornam sem representatividade. Vamos fazer uma pesquisa nas escolas para ver quem já ouviu falar em UJS, ou entre as mulheres se já ouviu falar de UBM. E aí aparecem mil e uma desculpas e dificuldades. Que o movimento está em descenso, que o movimento social só alcança uma pequena parcela do povo, etc. Fica-se esperando que espontaneamente as coisas aconteçam para a gente se meter no meio. Mas não deveria ser papel do Partido de vanguarda criar o movimento, unir, mobilizar e organizar as massas em torno de seus interesses?

Agora somos surpeendidos com toda essa movimentação expontânea de massas por todo o país. Diferente dos “caras pintadas” no “fóra Collor” cuja direção foi da UNE e Ubes dirigidas por nós. Meia dúzia de internautas consegue mobilizar milhares de jovens e nós com a maior organização de jovens do país vamos a reboque. Alguma coisa está errada.

É preciso pautar a luta de massas, o trabalho de massas desde cima. A orientação atual retrata uma concepção de abandono do trabalho por baixo. De priorizar a organização em detrimento da luta. Enquanto vigorar essa orientação será muito difícil organizar bases partidárias e colocar em prática resolução da Carta Compromisso que coloca a necessidade de "estender vida militante definida, estruturada e duradoura às bases militantes, retificando práticas que subestimem esse rumo."

É preciso resgatar o papel da luta de massas no Partido e compreende-la como “força motriz das mudanças”.

Marcos Panzera (Neco) é membro da Comissão Política Estadual do PCdoB Pará.