Colômbia: episódios violentos dificultam acordo pelo fim da greve

Milhares de produtores seguem com os protestos decorrentes da greve agrária na Colômbia, nesta quarta-feira (28), enquanto o governo dialoga com os camponeses, no departamento (equivalente a estado) de Boyacá, tentando suspender os bloqueios em 48 estradas do país. Ao mesmo tempo, os manifestantes denunciam o excesso do uso da força por parte do governo, em diversas cidades colombianas.

Colômbia - El Tiempo

Há três semanas as partes instalaram uma mesa de negociação para tentar buscar uma solução para a crise agrária na Colômbia. No entanto, a paralização não tem previsão para chegar ao fim e, neste momento, camponeses de regiões próximas à Bogotá interrompem os acessos às rodovias, exigindo uma grande mesa nacional que tenha a representação de todos os setores.

Leia também:

Governo colombiano e manifestantes negociam pelo fim da greve
"Política de contenção social está saturada na Colômbia"
Santos tenta minimizar a importância da greve agrária na Colômbia


Durante uma intervenção feita nesta quarta, no Primeiro Foro Regional Empresas e Direitos Humanos da América Latina e Caribe, o vice-presidente Angelino Garzón se referiu às dificuldades que o país vive por conta da greve. Segundo ele, “as pessoas estão cansadas de viver na pobreza” e para que sejam tratados dignamente é necessário que “os acordos que forem firmados com os camponeses devem ser cumpridos e não podem servir para dilatar as soluções”.

Os manifestantes reclamam, principalmente, dos 11 Tratados de Livre Comércio (TLC) que, segundo eles, “está acabando com o campo e com suas vidas”. Também estão em questão temas como o elevado custo dos insumos agrários, o contrabando e as importações. A greve ganhou ainda mais força nos últimos dias por conta do respaldo de outros setores da sociedade, como os estudantes, sindicalistas, operários, mineiros e donas de casa.

Propostas

O secretário geral da presidência, Aureliano Iragorri, disse à emissora La W Radio que, no último domingo (28), o governo e os camponeses “estiveram a ponto de chegar a um acordo”, mas que um dos trabalhadores não quis assinar o documento para acabar com a greve.

Da mesma maneira, ele afirmou que o governo apresentou várias propostas concretas, entre elas “a aplicação de clausulas sobre os Tratados de Livre Comércio (TLC) com diferentes países, paras proteger a produção de leite, arroz, batatas e outros alimentos”.

Iragorri também mencionou a oferta de assistência técnica para os camponeses, a revisão de créditos e o refinanciamento para aqueles que não tenham como pagar as dívidas.

Por sua vez, o dirigente dos produtores de batata em Boyacá, César Pachón, disse no começo desta semana que os camponeses irão permanecer nas rodovias até que as negociações sejam conduzidas favoravelmente.

Violência

Desde o dia 19 de agosto, foram registradas 213 queixas contra agentes de polícia na Colômbia.

Após revisar todas as denúncias feitas por cidadãos e organizações, a Inspeção Geral da Polícia decidiu abrir processos focados nas ações realizadas nos departamentos de Boyacá, Cundinamarca, Cauca, Vale do Cauca, Riseralda, Antioqui e Meta.

O general Santiago Parra, inspetor geral, assinalou que atuará contra aqueles que violaram os direitos dos manifestantes. Uma das investigações prioritárias é a da morte do comerciante Juan Carlos León, quando participava do protesto na cidade de Fusagasugá (Cundinamarca).

Segundo matéria publicada no jornal El Tiempo, o vice-presidente colombiano disse que a manifestação é um produto da democracia e que “quando há democracia as pessoas começam a reclamar seus direitos”.

Saldo

Até o momento, os protestos deixaram quatro mortos, centenas de feridos e perdas estimadas em 25 milhões de dólares. Também estima-se que 220 pessoas tenham sido presas.

Théa Rodrigues, da redação do Vermelho,
Com informações dos jornais colombianos