Professora de direito da USP chama Bolívia de insignificante
Nessa última quinta-feira (29), a professora de direito internacional da USP, Maristela Basso, ao comentar, no Jornal da Cultura, a notícia sobre o episódio da fuga do senador boliviano, Roger Pinto Molina, para a embaixada do Brasil em La Paz, criando uma crise diplomática nas relações entre Brasil e Bolívia, deu declarações polêmicas.
Por José Rogério Beier, no blog Hum Historiador
Publicado 04/09/2013 17:50
Abaixo segue mapa com o gasoduto Bolívia Brasil:
Gasoduto Bolívia-Brasil. Fonte: Maria de Fátima Salles Abreu Passos para a Revista Economia e Energia. Ano II, n. 10, 1998.
Se considerarmos a relação Brasil-Bolívia em uma projeção futura, a mesma segue sendo de fundamental importância estratégica na área do fornecimento energético, pelo simples fato de a Bolívia ser a detentora da maior reserva mundial de Lítio do mundo.

O fato do lítio ser um mineral que se concentra em região de salares, faz com que países como Bolívia (Uyuni), Chile (Atacama) e Argentina (Hombre Muerto) estejam situados entre os maiores detentores mundiais de reservas deste recurso. Se considerarmos somente a Bolívia, onde está localizado o Salar de Uyuni, veremos que aproximadamente 29% de toda a reserva mundial de lítio está concentrado nesta região, segundo tabela da United States Geological Survey. Saindo da escala nacional para olhar os números continentais, as reservas sul americanas são mais expressivas e atingem um montante de 20,6 milhões de toneladas, ou 62,6% do total. Tais dados revelam, diferentemente do asseverado pela professora Basso, que a Bolívia se trata de um país com o qual o Brasil deve manter uma relação estreita nas próximas décadas, em função de uma estratégia da nova geopolítica energética que se formula com a substituição do petróleo por novas fontes de energia.
Por fim, há ainda o teor racista e xenofóbico empregado pela professora Maristela Bassos em sua declaração. A comunidade boliviana residente em São Paulo reagiu imediatamente às declarações divulgadas no Jornal da Cultura e, segundo matéria do portal R7, a comunidade “recebeu de forma indignada as declarações de Maristela Basso. Carmelo Muñoz Cardoso, presidente da ADRB (Associação de Residentes Bolivianos), que existe desde 1969, encaminhou pedido de direito de resposta à TV Cultura”.
Segundo a declaração de Carmelo Muñoz Cardoso:
“As declarações proferidas têm um alto grau ofensivo a toda comunidade boliviana. A afirmação de que a Bolívia é insignificante demonstra notório racismo, total xenofobia, absoluto preconceito e desrespeito pelo nosso país. Além das medidas legais, requeremos à TV Cultura o direito de resposta”.
Ao ver as declarações da professora, não há como negar o teor xenofóbico embutido no infeliz comentário. Ao proferi-lo, Basso parecia reproduzir comentários de alguns setores nacionalistas europeus ao se posicionarem a respeito dos imigrantes africanos em seus países.
Concluo o post, uma vez mais, estarrecido com a ignorância, o racismo e a xenofobia demonstrado pela professora em seu comentário. Incompatíveis com a posição da professora na cadeira de Direito Internacional da Faculdade de Direito da USP, entendo que os mesmos mereciam até um comunicado formal da Faculdade pedindo esclarecimentos da professora.
Declaro meu total repúdio às declarações de Maristela Basso e faço coro à comunidade boliviana que exige direito de resposta da TV Cultura e, mais do que isso, um pedido formal de desculpas da professora pelo comentário infeliz proferido nesta última quinta-feira.