Considerações sobre o editorial de O Globo e a democratização da mídia

Nesta terça-feira (10), o editorial do jornal 'O Globo' defendeu que a mídia já está democratizada no país e que, portanto, não há necessidade de projetos de lei, como o de iniciativa popular que será entregue em breve no Congresso Nacional, para regulamentar o setor no país.

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Nesta terça-feira (10), o editorial do jornal 'O Globo' defendeu que a mídia já está democratizada no país e que, portanto, não há necessidade de projetos de lei, como o de iniciativa popular que será entregue em breve no Congresso Nacional, para regulamentar o setor no país.

O texto revoltou internautas nas redes sociais e inspirou as considerações sobre o editorial do jornal do estudante de comunicação das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha) e trabalhador do Sindicato do Metalúrgicos do Rio de Janeiro, José Roberto Medeiros.

Leia abaixo a íntegra do texto de Zero:

Pequenas considerações feitas após engolir o asco ao ler o editorial de O Globo:

1 – Não podemos nos esquecer dos conceitos lançados por Armand Mattelart. O sociólogo belga, autoridade mundial em Teoria da Comunicação, nos ensina que o termo “liberdade de expressão” é compreendido hoje muito mais como “liberdade de propriedade” do que como “democratização no acesso aos meios de comunicação” e é exatamente disso que o Jornal O Globo trata em sua nota.

2 – O retorno ao debate sobre a Venezuela vem no momento em que o jornal acabou de fazer uma falsa autocrítica sobre o apoio à ditadura militar (desmascarada pelos seus velhos aliados, os militares, que se revoltaram com a traição) e onde o Globo ensaia aumentar o tom e as movimentações golpistas. Trata-se de um jornal com o compromisso prioritário com seus interesses políticos e que usa do seu poder de comunicação para legitimá-lo como fez ao longo de toda a Ditadura e dos governos democraticamente eleitos após o fim da mesma.

3 – Os ataques ao caso da RCTV representam o maior medo da Globo. Um medo que o governo do PT jamais deu motivos para que a globo tivesse. A RCTV não foi cassada, ela simplesmente após apoiar um golpe de Estado fracassado não teve sua concessão renovada quando a mesma acabou. Dentro dos marcos da democracia e da legalidade burguesa. Destino mais do que justo para uma empresa que usou a concessão pública para tentar construir um Golpe de Estado.

4 – No caso da Argentina, o medo da Globo é com o ataque do governo de Cristina Krichner, que põe um fim à famigerada propriedade cruzada, proibida em todo o mundo, inclusive nos Estados Unidos onde a FCC (Federal Communications Commission) é bem rígida na fiscalização dos excessos de poder dos meios de comunicação e no combate à propriedade cruzada.

5 – Ainda falando em Argentina, o Globo ignora um atenuante na terra dos hermanos. Se não fosse pelas ações do governo da Presidenta Kirchner, o Clarín ainda seria detentor do monopólio da produção do papel-jornal, fazendo com que todos os jornais só pudessem comprar papel do Clarín para circular na Argentina.

6 – O Globo simula um projeto de "enfraquecimento dos grupos de comunicação profissionais, com o objetivo de subjugá-los por meio de verbas publicitárias oficiais" para esconder o fato que tanto ele, como seus co-irmãos do Grupo Abril, Grupo Estado, Grupo Folha e afins sobrevivem porque mordem mais de 70% de toda publicidade oficial de Governo. Se houvesse o projeto de que eles falam, eles já estariam subjugados, mas na verdade o que acontece é o contrário: uma tentativa de subjugar os governos, por parte dessas mídias, usando como arma o seu poder de comunicação conseguido com a conivência da ausência de uma legislação para as comunicações e da não-regulação dos artigos 220 a 224 da Constituição Federal (que tratam sobre a questão da comunicação) somada aos incentivos dados pelos governos militares para sua consolidação.

7 – A voz da família Marinho, fala através desse editorial, que há pluralidade das emissoras, emitindo números que podem enganar um leitor desavisado sobre a pluralidade das comunicações no Brasil. O que o editorial dos Marinho não conta ao povo é que mais de 95% dessas concessões fazem parte das grandes redes de comunicação, que se resumem a poucas famílias. Podemos citar, por exemplo, que as Organizações Globo controla 69 veículos de comunicação, vinculados às redes Globo de televisão, Globo de rádio e CBN de rádio. Também possui o Jornal Globo, portal na Internet e editora. A Igreja Universal do Reino de Deus controla 27 veículos em quatro redes: as TVs Record, Record News e Família e a rede Aleluia de rádios FM. isso pra não falar nos demais grupos de comunicação…

8 – Por fim, a Globo fala que "os melhores agentes do “controle social da mídia” são o leitor, o ouvinte, a autorregulamentação e o controle remoto. É assim que funciona nas democracias, ainda mais em mercados competitivos como o brasileiro". Mais uma mentira deslavada. Primeiro que não há opção para o cidadão. Basta ligar a TV aberta que fica bem claro quais são as únicas vozes que falam para o povo brasileiro. Programação praticamente padronizada, inexistência de diversidade regional e linha editorial muito alinhada. Isso sem contar que não existe democracia no mundo, dentre as grandes potências, sem uma legislação rígida para o setor. É assim até nos berços do liberalismo, como a Inglaterra e os Estados Unidos. É assim em potências como França, Alemanha e outros países europeus com economias mais modestas como Portugal e Espanha. Regular as comunicações é a base para qualquer sociedade verdadeiramente democrática e com esse editorial, as Organizações Globo mais uma vez deixam claro sua falta de compromisso com a democracia.

Para ler a íntegra o editorial de O Globo clique aqui.