Noam Chomsky: Negociações Israel-Palestina mantêm colonização

A publicação virtual e independente Ceasefire (“Cessar-Fogo”) publicou uma entrevista com o linguista e famoso crítico da política externa norte-americana, Noam Chomsky, sobre a atual situação no Oriente Médio, especialmente com relação às negociações de paz entre Israel e Palestina, a Síria e o papel dos EUA na região.

Frank Barat e Noam Chomsky - Nathanaël Corre

Chomsky é um ativista renomado que dedica seu trabalho à análise crítica do discurso das elites e das potências, assim como o da mídia envolvida na sua promoção, com resultados catastróficos representados no imperialismo.

Suas críticas extrapolam a perspectiva sobre a agressão estadunidense para analisar a política externa de aliados como Israel, país no qual chegou a ser impedido de entrar devido aos seus escritos.

A entrevista foi conduzida por Frank Barat, que já editou um dos livros de Chomsky, e aborda temáticas complexas que também afetam a organização política da Palestina frente a uma “incapacidade” percebida pelo acadêmico na exigência efetiva de resolução para questões essenciais.

Perguntado sobre a permanência da Autoridade Palestina (AP) neste “jogo”, as negociações infrutíferas, Chomsky afirma: “Do ponto de vista dos Estados Unidos, as negociações são, de fato, uma forma de Israel continuar com suas políticas de dominação sistemática do que quiser na Cisjordânia, mantendo o bloqueio brutal contra Gaza, separando-a da Cisjordânia e, claro, ocupando as colinas de Golã sírias, com o apoio completo dos EUA”.

“O quadro das negociações, como nos últimos 20 anos de experiência de Oslo [com o processo de paz estabelecido nesta cidade da Noruega], simplesmente ofereceu uma cobertura para isto”, continua.

Para Chomsky, a AP não tem muitas alternativas à participação em um “processo de paz” que se demonstra essencialmente falho e perpetuador da assimetria entre israelenses e palestinos.

“Se os palestinos se recusassem a tomar parte das negociações lideradas pelos Estados Unidos, a sua base de apoio colapsaria, já que sobrevivem de doações, essencialmente. Israel certifica-se de fazer com que [a Palestina] não tenha uma economia produtiva”, diz.

Neste sentido, Barat podera os efeitos do desaparecimento da Autoridade Palestina, que é o órgão executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), frente política formada por 13 diferentes partidos, e Chomsky responde: “Depende do que a substituir. Se, digamos, Marwan Barghouti [membro proeminente da Organização para Libertação da Palestina e prisioneiro político em Israel] pudesse se juntar à sociedade como, por exemplo, Nelson Mandela juntou-se, finalmente, isso poderia ter um efeito revitalizante para a organização de uma sociedade palestina que poderá pressionar por exigências mais substanciais. Mas é preciso lembrar-se: eles não têm muitas escolhas”.

Chomsky faz também menção ao contexto em que foi desenvolvido o Processo de Oslo, no começo da década de 1990, quando já eram conduzidas as negociações na Conferência de Madri. A delegação palestina era liderada por Haider Abdel-Shafi, “uma figura altamente respeitada, da esquerda nacionalista na Palestina. Ele recusava-se a concordar com os termos dos EUA-Israel, que supunham crucialmente a permissão da continuidade das expansões das colônias. Ele recusou, e por isso as negociações entraram em um impasse e levaram a nada”.

A via alternativa, em Oslo, foi rechaçada por Abdel-Shafi, “tão contrário a isso que nem sequer compareceu na cerimônia dramática e sem sentido em que [o ex-presidente estadunidense Bill] Clinton sorria enquanto [o líder palestino Yasser] Arafat e [o ex-premiê israelense Yitzak] Rabin apertavam as mãos. Ele não compareceu porque se deu conta de que se tratava de uma entrega”.

“Nós também não chegaremos se não recebermos apoio substancial da União Europeia, dos Estados do Golfo e, finalmente, dos EUA”, diz o acadêmico.

Com Ceasefire,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho