Beatriz Helena S. da Cruz: O crescimento do Partido Comunista
Entre os assuntos pertinentes às discussões preparatórias para o 13º Congresso do PCdoB, o que mais mobiliza minhas preocupações é a construção do Partido, conforme o entendimento de que ele nasceu para ser, ou seja, o instrumento para a construção da sociedade socialista sob os escombros do capitalismo.
Por Beatriz Helena Souza da Cruz*
Publicado 13/09/2013 11:17 | Editado 13/12/2019 03:30
Atento às necessidades desta construção, o Partido sempre teve por prática atuar em todos os espaços da sociedade, o que envolve a luta eleitoral, bem como o entendimento de que um partido pequeno numericamente e isolado seria incompatível com a complexidade da tarefa que está posta para os comunistas.
105 (pg. 25) “O Partido passou, nos últimos doze anos, por forte processo inovador de caminhos e modos para constituir-se como um partido comunista de classe, popular e de massas, de quadros e militantes regidos pelo centralismo democrático. O desafio é firmar a concepção de permanência de princípios e identidade comunista, renovação de concepções e práticas com base em um caminho próprio para o socialismo, e abertura para ampliar as fileiras partidárias e falar a toda a sociedade. Enfim, um partido de caráter leninista contemporâneo. O novo Estatuto aprovado (2005) dotou o PCdoB de uma nova institucionalidade, adaptada às características da luta de classes no Brasil.”
Esses doze anos, mencionados no item 105 da primeira parte das teses, acima, compreendem esse período em que o Partido vem recebendo grandes quantidades de pessoas que nos procuram para serem candidatos. Eu entendendo que essas pessoas procuram o Partido Comunista, mesmo existindo no país “trocentos” outros partidos, tenho imensa dificuldade em lidar com essa prática, o que me levou, inclusive, a passar os últimos cinco anos afastada das fileiras do meu Partido. Como nunca deixei de considerá-lo meu Partido, passo a expor as razões das minhas discordâncias, objetivando contribuir com as discussões em curso.
Inicialmente é preciso dizer que não tenho uma vivência nacional da questão, visto que estou limitada à cidade onde resido, São Gonçalo, embora eu tenha passado os primeiros 23 anos da minha vida na capital do Estado, RJ, e vivido por três anos em São Paulo capital. Ao mesmo tempo em que entendo, e a prática demonstra, que o Partido cresceu na quantidade de filiados durante as campanhas e via algumas candidaturas, preocupa-me que limite-se a essa luta, que é algo que a prática também me mostra, visto que a cada ano de eleição tem-se que retomar a aglutinação das pessoas que se dispersaram após o processo eleitoral anterior, bem como tudo na atuação das entidades de massa deve passar por eventos massivos, visando à demonstração de forças e servindo como justificativa para candidaturas.
Há 25 anos, quando ingressei nas fileiras do partido, a candidatura ao parlamento era uma tarefa, assim como atuar na frente sindical ou de massas, na venda do Jornal A Classe Operária, a colagem de cartazes, panfletagens e as filiações, cada uma com o seu grau proporcional de importância e complexidade, bem entendido.
Um parlamentar ou ocupante de cargos no poder Executivo é, penso a expressão da atuação de um comunista. Ocorre-me que, ao procurar o nosso Partido “para ser candidato”, se expressa também um desejo particular, uma vaidade pessoal, que pode estar acima dos interesses do partido, visto que, como não defendemos o status quo vigente, há limites no espaço que podemos ocupar nesta sociedade, o que é frontalmente contra interesses de manutenção de uma carreira parlamentar de quem decide ser candidato, diferente de quem assume uma tarefa colocada pelo partido.
Direi isto de outro modo: um candidato, uma pessoa física, é imprescindível neste sistema eleitoral que temos, visto que é esta pessoa quem se inscreve, concorre e é votada, não uma lista de propostas ou um caderno de teses. No entanto, um candidato do PCdoB ou um membro do partido em qualquer tarefa é a expressão do que acreditamos e defendemos daí não caber em nossa atuação práticas de compra de votos, atendimentos de demandas (como, por exemplo, fornecimento de remédios, marcação de consultas médicas intermediadas pelo candidato, para citar exemplos tão comuns em São Gonçalo).
Se o Partido tem de crescer numericamente, e concordo mesmo que tem de crescer, isso deve incluir continuarmos com a formação, individual e coletiva, que envolve leituras dos clássicos e de obras atuais; reuniões durante o ano de eleição para manter o partido organizado. Sou absolutamente contra a prática de, durante o período eleitoral, não discutir nada que não seja a campanha e não colocar as posições do partido. Acredito que o processo eleitoral pode ajudar na formação de eleitores mais conscientes, o que é um grande impedimento para a composição de uma bancada mais preocupada com os rumos do país, visto que muitos eleitores ajudam a manter a compra de votos, vendendo os seus.
Penso que a discussão de propostas, a formação política, o entendimento de que mudanças no país compõe um processo que envolve vários elementos é o nosso maior trunfo. E não é porque nosso partido não tenha dinheiro pra fazer campanha alimentando esse comércio de votos, é porque essa prática não é condizente com o que queremos construir, que é um país e um mundo socialistas.
Não faz muito tempo, naquele momento em que a direita pôs em prática aquela “operação derruba ministros”, como bem definiu nosso camarada Renato Rabelo, e foram pra cima do Orlando, o que fizemos? Nossos parlamentares entraram de braços dados com ele no Congresso Nacional; o comitê estadual do Partido no RJ promoveu um ato de desagravo, que lotou um auditório enorme com comunistas e amigos. Este é o nosso partido, como militantes e não com candidatos de ocasião.
Há ainda uma última questão quanto às filiações visando candidaturas. Conforme a nossa lei eleitoral, o futuro candidato deve estar filiado ao partido pelo qual pretende concorrer até 30 de setembro do ano anterior ao pleito. Ou seja, se em 30 de setembro próximo entra alguém que veio com esta intenção de candidato, e nossa conferência para decidir isto costuma se realizar em junho do ano seguinte eu, que não participei das discussões para a filiação, fico obrigada a concordar com a tal candidatura? Até que ponto esta prática não altera as instâncias de decisão do partido?
*Beatriz Helena Souza da Cruz é militante do PCdoB de São Gonçalo, RJ.