ONU debate resolução sobre a Síria e Otan promove ameaça

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) voltou a instar todas as partes do conflito sírio, nesta quarta-feira (18), a esforçarem-se por uma solução política à crise. O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Anders Rasmussen, ao contrário, afirmou nesta quinta (19) que a “opção militar”, ou seja, a ameaça de agressão, precisa continuar sobre a mesa, enquanto o Conselho de Segurança da ONU discute uma resolução sobre o tema.

Otan bateria de mísseis Patriot - Alamy

Em declarações pronunciadas por ocasião do “Dia Internacional da Paz”, que se comemora no domingo (21), Ban referiu-se à situação desesperadora em que vivem os sírios, e fez um chamado global para o fim das hostilidades.

A Otan e a liderança desta aliança de guerra, Estados Unidos, França e Reino Unido, através dos seus governantes, têm se emepenhado pela manutenção da retórica agressora e pela legitimação dos grupos armados que atuam contra o governo do presidente Bashar Al-Assad.

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Assad deu declarações à imprensa recentemente para denunciar o efeito devastador da política ocidental de apoio financeiro, bélico e político aos paramilitares, distribuídos em grupos armados que incluem mercenários estrangeiros e islamitas radicais, responsáveis por atos de terrorismo.

Ainda assim, o governo sírio reafirmou constantemente a sua disposição para a negociação interna e internacional, convocando até mesmo os grupos armados para a mesa de diálogos. O apoio que recebem do Ocidente, entretanto, deu a estes grupos a sensação de potência para recusar a negociação.

Conforme acordado há meses entre a Rússia e os EUA, Ban reiterou a necessidade de condução da Conferência Internacional Genebra 2 sobre a Síria, embora a representação da oposição no exterior se recuse a dialogar com o governo sírio, exigindo a demissão do presidente Assad, posição que conta com o apoio da ingerência ocidental e de países da região, como Israel, a Turquia, o Catar, a Arábia Saudita e outros membros da Liga Árabe.

Nesta quinta-feira (19), os membros do Conselho de Segurança debatem um projeto de resolução sobre o acordo-quadro anunciado pela Rússia e pelos Estados Unidos (a partir de uma proposta da Rússia, aceita pelo governo sírio), para a entrega e destruição do arsenal químico da Síria. Além disso, também discutem a Força de Observação da ONU para o Desengajamento, que está na fronteira entre a Síria e Israel (nas Colinas de Golã sírias, que foram ocupadas por Israel) desde 1974.

Resistência e defesa

De acordo com um comandante israelense destacado na fronteira de Israel com a Síria, Yair Golan, em declarações ao jornal Yediot Aharanot, Assad pode manter-se no poder durante anos, apesar da guerra civil que se desenrola no país, com o apoio direto e massivo de regimes vizinhos.

Tem se intensificado a discussão interna sobre o envolvimento de Israel, que desloca tropas para a fronteira, e sobre que resultado seria preferível pelo regime israelense (com a preocupação sobre quem sucederia Assad no governo, dada a proliferação de grupos islamitas radicais no país em consequência do conflito).

Recentemente, o embaixador de Israel nos Estados Unidos, Michael Oren, disse que o seu governo preferiria integrantes da rede Al-Qaeda (representados pela Frente Al-Nusra, entre outros) do que o atual governo e as forças respaldadas pelo Irã.

Apesar das conquistas territoriais, com a retomada de controle sobre importantes regiões capturadas pelos paramilitares, Assad reitera o seu compromisso com uma solução política para o conflito frequentemente. No último episódio, com o acordo para a entrega do seu arsenal químico, o presidente afirmou, nesta quarta-feira (18), que Damasco levará um ano para destruir seu estoque, e que o processo custará cerca de US$ 1 bilhão.

Assad afirmou ainda que o seu país não está submerso em uma guerra civil, mas que é atacado por grupos armados vinculados à rede Al-Qaeda, provenientes de mais de 80 países.

Assad aconselhou o presidente Barack Obama a escutar a opinião do seu povo e deixar de ameaçar a Síria com um ataque militar. Diversas manifestações populares têm sido realizadas nos EUA contra uma intervenção e contra a retórica agressiva, e uma delegação de norte-americanos também visitou a Síria, nesta semana, declarando oposição à empreitada do governo de Obama.

Além de demonstrar a intenção decisiva de assistir à segunda conferência internacional sobre a Síria, sem condições prévias, Damasco solicitou à ONU, na semana passada, a sua adesão à Convenção internacional sobre Armas Químicas, que prevê inclusive a destruição desse recurso. Ban saudou a iniciativa síria e reiterou a necessidade de uma solução política ao conflito.

A Rússia, já afirmou que se oporá a qualquer cláusula que permita o uso da força na resolução debatida pelos membros do Conselho de Segurança em Nova York. Por outro lado, o secretário-geral da Otan, admitindo a intenção de violar o direito internacional, disse que a “opção militar” deve continuar sobre a mesa “independentemente do resultado das deliberações no Conselho de Segurança da ONU”.

Com agências,
Da redação do Vermelho