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Bolivar Sanches: Sobre a prática revolucionária

Parte 2
Ser comunista é ser um materialista prático, mas em momento algum isso deve ser interpretado de forma mecanicista, pragmática, de forma que somente as tarefas práticas cotidianas tenham relevância no curso real da luta política.
Por Bolivar Sanches*

Ser um comunista é construir, baseado na teoria científica do marxismo-leninismo, um programa revolucionário, é entender que vivemos em um mundo em constante movimento e conhecer as forças sociais reais e suas contradições, entender que a classe operária é força revolucionária em potencial e que somente se objetiva educada pela teoria marxista-leninista e impulsionada a desenvolver uma prática política transformadora, colocá-la em movimento rumo à superação revolucionária do capitalismo é tarefa urgente do Partido Comunista.

A acumulação de forças revolucionárias

Quando afirmamos que o partido construiu uma linha política acertada, ao mesmo tempo apontamos a necessidade de esclarecer algumas questões que revelam um elevado grau de abstração, que se reflete em um grande número de simplificações mecanicistas, sendo necessário, portanto objetivá-las e torná-las compreensíveis a pratica política revolucionária.

Acumular forças no sentido revolucionário é educar politicamente a classe operária, elevar seu nível de consciência política e sua organização, passando de classe potencialmente revolucionária à classe objetivamente revolucionária, dirigente de vanguarda no conjunto das forças sociais interessadas na conquista do poder político de estado construindo a transição ao socialismo.

Mas para cumprir com estes objetivos são essenciais à noção da dinâmica do próprio Partido como força viva. A acumulação de forças é o produto dialético, de massa e movimento no sentido mais estrito da palavra. A massa revela a capacidade de o partido influenciar politicamente amplas parcelas do povo através de quadros profissionais teoricamente para luta política e de ideias, de firmeza ideológica e convicção histórica no socialismo, em um trabalho permanente que tem como tarefa imediata a conquista do poder político do Estado. O movimento revela a capacidade de o partido lançar à luta política estas massas conscientes através de movimentos mais ou menos radicais na condição de provocar tensões no seio da sociedade, ampliando este movimento e acumulando tensões, podemos garantir rupturas em maior ou menor grau.
Para essas tarefas é importante entender o movimento e as transformações da sociedade e assim conduzir uma prática política transformadora, para tanto, como acertadamente o Partido aponta que a luta pelo socialismo se desenvolve em níveis variados e em frentes distintas que se relacionam como um todo universal, é necessário observar que estas frentes revelam aspectos orgânicos e conjunturais das frentes de luta. A observância destes aspectos pode conduzir o partido à vitória e afastar tendências oportunistas e degenerativas no seio do partido.

As frentes de luta orgânicas são as que estão no fundamental das realizações para que a classe trabalhadora e o partido conquistem o poder, o que não limita a possibilidade de, potencializar-se ou não, em momentos conjunturais, mas que no geral devem ser fruto de trabalho prolongado e construção permanente, se evidenciando na luta de idéias e na construção do movimento de massas, este último que, historicamente revela ser a força verdadeiramente revolucionária.

As frentes de lutas conjunturais são as que se destacam em determinados períodos históricos e nestes períodos deslocam parte das forças para estes objetivos, quando passam a subestimar as frentes orgânicas deslocam-se todas as forças para esses objetivos, mas cabe, porém a necessidade do Partido se proteger das influencias que esta pode causar no aspecto subjetivo, bem como de aspecto objetivo no enfrentamento com forças inimigas em determinados momentos históricos, é destacado aqui a luta na superestrutura do estado burguês que se manifestam em conjunturas de ampla liberdade política e organizativa. Estes espaços podem impulsionar de forma exponencial as frentes orgânicas, se compreendido como espaços de agitação e propaganda revolucionários ou pode causar prejuízos ao partido revolucionário, degenerando sua estrutura, negando seus princípios e desviando seus objetivos estratégicos.

Partido para ruptura

Ser comunista é ser um materialista prático, mas em momento algum isso deve ser interpretado de forma mecanicista, pragmática, de forma que somente as tarefas práticas cotidianas tenham relevância no curso real da luta política. Ser um comunista é construir, baseado na teoria científica do marxismo-leninismo, um programa revolucionário, é entender que vivemos em um mundo em constante movimento e conhecer as forças sociais reais e suas contradições, entender que a classe operária é força revolucionária em potencial e que somente se objetiva educada pela teoria marxista-leninista e impulsionada a desenvolver uma prática política transformadora, colocá-la em movimento rumo à superação revolucionária do capitalismo é tarefa urgente do Partido Comunista.

Mas a realidade tem revelado a subestimação das frentes orgânicas e uma superestimação da frente conjuntural e da ação na superestrutura no moderno estado burguês gerando reflexos negativos no Partido, em um momento que a liberdade democrática nos garante espaço para falar abertamente sobre o socialismo científico ao povo brasileiro, construir a alternativa a hegemonia burguesa desenvolvendo na prática valores morais, políticos e culturais avançados que expressam a nova sociedade que queremos construir, trocamos nossa propaganda revolucionária por práticas de propaganda burguesa que lidam com a subjetividade das massas e não com a elevação de sua consciência, tentam esconder nossa essência e criam uma aparência que nada se difere dos partidos burgueses na ânsia por eleitores e maiorias parlamentares.

É necessário construir uma elevada moral política e cultural que se objetiva na prática revolucionária, é preciso que seja observado o baixo nível de consciência e organização dos trabalhadores e do povo brasileiro. Nosso Partido deve entender que um exército prepara-se para guerra em tempos de paz, e com nosso partido não é diferente, este momento de ampla liberdade democrática criam-se as condições de forjar um partido forte, disciplinado, com teoria e prática revolucionária, orientado e preparado para tomada do poder e a ruptura com a ordem do capital, definido pelo confronto de classes que pode como revela a história ser de forma relativamente pacífica ou em formas violentas de insurreição e luta armada.

O nosso partido precisa superar as contradições geradas a partir de novas condições de luta, reforçar sua composição social classista e no curso da luta por reformas estruturais e democráticas conformar um amplo movimento de massas que possa conduzir a classe trabalhadora à conquista do poder político de estado, construindo um moderno estado de democracia popular e iniciar a transição ao socialismo.

*Bolivar Sanches é membro da comissão estadual de formação e propaganda do PCdoB/RS.