Líder do Aurora Dourada é preso após protestos na Grécia

Líder do partido político grego Aurora Dourada, de extrema-direita, o ex-militar Nikolaos Michaloliakos, e dezenas de dirigentes de alto escalão foram detidos neste sábado (28) pela polícia. Eles são suspeitos de envolvimento na morte do cantor de hip-hop e ativista Pavlos Fyssas, assassinado na semana passada. O partido é acusado de possuir laços com grupos neonazistas. Milhares de gregos saíram às ruas para protestarem contra o fascismo no país, na quarta (25).


Grécia protesta contra facismo / foto: Agência EFE

A operação coincide com as negociações da Grécia para obter um novo pacote de ajuda para sua economia em crise e a poucos meses do país assumir, em 1º de janeiro, a presidência rotativa da União Europeia.

A polícia antiterrorista grega prendeu no início desta manhã o líder e deputado do Aurora Dourada, Nikos Michaloliakos, fundador do partido em 1980, assim como outros três deputados da formação neonazista (de um total de 18), incluindo seu porta-voz Ilias Kassidiaris.

Segundo fontes judiciárias, a justiça considera o partido uma "organização criminosa". Os detidos também são acusados de violência física e morte.

Doze membros do partido também foram detidos em várias regiões do país. A operação deve conduzir à novas prisões nas próximas horas porque há trinta mandatos de prisão emitidos pela Suprema Corte contra militantes ou deputados do Aurora Dourada.

Em seu site, o partido neonazista convocou uma manifestação para protestar contra uma "decisão ilegal". Algumas centenas de simpatizantes do Aurora Dourada se reuniram em frente às delegacias onde estão os suspeitos.

"A democracia tem seus meios de se defender", advertiu o porta-voz do governo, Simos Kédikoglou, à televisão Skaï, poucos minutos após a prisão.

Assassinato de rapper

O assassinato do jovem músico antifascista, Pavlos Fyssas, de 34 anos, na periferia de Atenas por um membro do Aurora Dourada gerou comoção em todo o país. Diversas cidades gregas registraram  protestos na quarta-feira (25) após um membro do partido neonazista Aurora Dourada ser preso em conexão com a morte do músico e ativista antifascista.

O cantor de hip hop conhecido como Killah P. morreu no hospital na madrugada de quarta-feira após ser esfaqueado na noite de terça-feira durante uma briga de bar após um jogo de futebol em Keratsini, no subúrbio de Atenas. Ele recebeu duas facadas no peito, uma delas no coração, segundo as autoridades.

A polícia grega, acusada de passividade frente ao Aurora Dourada, partido suspeito de estar por trás de ataques contra imigrantes, intensificou nos últimos dias as operações contra os neonazistas.

No início da semana, alguns oficiais da polícia foram suspensos e outros demitidos por não investigarem a presença de armas em escritórios da organização neonazista.

Desde a morte do músico, a imprensa grega multiplica suas revelações contra o Aurora Dourada, que teria ligações com empresários e as Forças Armadas, e testemunhas descrevem com precisão o funcionamento da organização.

Paralelamente, a Suprema Corte realiza investigações e reúne provas para caracterizar o Aurora Dourada como "uma organização criminosa". Dezenas de testemunhas – jornalistas, ex-membros do partido, eleitos, líderes sindicais ou de associações – foram ouvidos pelo tribunal. A pedido do governo, os juízes reabriram várias investigações sobre mais de trinta crimes imputados a membros do Aurora Dourada nos últimos meses.

Desde outubro de 2011, cerca de 300 casos de abuso e violência contra estrangeiros que vivem na Grécia foram registrados e documentadas pela rede antirracista Dyktio e associações de direitos humanos.

Crise política

O ministro porta-voz do governo grego, Simos Kedikoglu, descartou a convocação de eleições gerais antecipadas na hipóstese de o grupo parlamentar do Aurora Dourada renunciar em bloco por causa das detenções.

Kedikoglu fez essas declarações ao canal de televisão "Mega" perante os crescentes rumores que os parlamentares neonazistas poderiam renunciar a suas cadeiras.

A legislação grega prevê que, em caso de renúncia de um deputado, o seguinte na lista eleitoral seja eleito automaticamente, mas se os substitutos também renunciam ao cargo, deveriam ser convocadas eleições para a renovação das cadeiras vagas em suas respectivas circunscrições.

O Aurora Dourada alcançou 6,9% dos votos nas últimas eleições, o que lhe valeu 18 cadeiras no Parlamento, praticamente todas eles procedentes de circunscrições muito povoadas como Atenas, Salônica e Pireus.

Isto faria com que boa parte do país precisasse participar de novas eleições, mas só para escolher 18 deputados dos 300 que formam o plenário.

Kedikoglu explicou que, em caso de renúncia dos deputados neonazistas, se iniciarão "os procedimentos previstos na Constituição e na lei eleitoral" e negou que isso vá representar a convocação de eleições antecipadas, já que só seria realizada uma eleição parcial.

Quanto à detenção de deputados e dirigentes deste partido de extrema direita, acusado de ter criado uma organização criminosa, o porta-voz do Executivo disse que "a República tem instrumentos para sua proteção" e pediu que se deixe "a Justiça fazer seu trabalho".

As ordens de prisão contra os dirigentes do Aurora Dourada, muitos deles deputados, puderam ser emitidas porque a câmara aceitou suspender-lhes a imunidade para permitir a investigação do assassinato do cantor Pavlos Fyssas por um militante do partido.

Trata-se da primeira ocasião desde a queda da ditadura (1967-1974) em que membros do Parlamento são detidos na Grécia.

Com agências