Desmontar as armas químicas da Síria: As pedras de um caminho

A chegada nesta terça-feira a Damasco de inspetores da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) poderia constituir o primeiro passo de um processo inédito que amenize os ares de guerra que sopram de Washington sobre o conflito sírio.

Trata-se da verificação em campo do arsenal de armas químicas em posse do governo sírio – que nunca foi utilizado – para depois, segundo mandato do Conselho de Segurança, proceder a sua eliminação com o acompanhamento de várias nações como a Rússia ou o próprio Estados Unidos.

Em relação às primeiras ações, funcionários públicos da OPAQ asseguraram à imprensa que até o momento a colaboração com as autoridades sírias tem sido "muito construtiva e eficiente".

Os dados contidos na declaração apresentada pelo governo sírio sobre os lugares das armas químicas, acrescentaram, "parecem coincidir bastante com as avaliações de inteligência estrangeiras (…), e isto dá otimismo sobre a cooperação do governo sírio".

Não obstante, entre a boa vontade do governo do presidente Bashar Al-Assad e algumas nações para facilitar o processo, por um lado, e o desmantelamento efetivo dessas armas, por outro, se levantam sérios obstáculos técnicos, logísticos e militares.

Trata-se de uma tentativa nunca realizada antes, pois ainda que a destruição de armas químicas é um processo que várias nações dominam, apesar de ser complicado, sua implementação em plena guerra representa um desafio formidável.

Especialistas citam os casos dos Estados Unidos e da Rússia, que há anos assinaram acordos para destruir seus arsenais químicos, mas a complexidade da tarefa, ainda na paz de seus territórios nacionais, os moveu a solicitar prazos suplementares.

No caso sírio serão eliminados mais de mil toneladas de produtos altamente tóxicos armazenados – sob estritas medidas de controle – em cerca de 45 cidades diferentes.

Ao abordar possíveis modos de agir, Serguei Lavrov, Ministro de Relações Exteriores russo, estimou que esses gases tóxicos poderiam ser destruídos em instalações móveis como as dos Estados Unidos.

Além disso, a resolução da ONU aprovada na sexta-feira 27 de setembro permite sua destruição no exterior. A Rússia está disposta a participar com uma equipe e apoio financeiro, explicou.

Não obstante, apesar das garantias de apoio de todo tipo à missão da OPAQ oferecidas por Damasco, a presença disseminada por toda a Síria de grupos irregulares armados, incluídos extremistas islâmicos, põe um importante elemento de incerteza sobre o desejado sucesso da missão da OPAQ.

O presidente Bashar Al-Assad disse sobre o assunto que existe a possibilidade de que os terroristas tentem dificultar a chegada dos inspetores às zonas definidas, seja por razões próprias ou promovidos pelos estados que os patrocinam, com o fim de jogar a culpa em Damasco e acusar o governo de falta de cooperação.

Nesse sentido, Lavrov argumentou que deveria ser possível enviar sinais aos opositores (armados), que estão sujeitos à influência de atores externos, para não boicotar com suas ações o trabalho da OPAQ.

Concretamente, chamou os países ocidentais e seus aliados na região a influenciar os grupos armados para não realizarem provocações que interfiram na aplicação dos acordos russos-estadunidenses sobre as armas químicas e a resolução da ONU sobre o tema.

Os países com influência sobre a oposição (armada) serão responsáveis se a implementação dos acordos sobre as armas químicas for interrompida, enfatizou Lavrov.

Caso os grupos armados que operam na Síria com o apoio de países como Estados Unidos, França, Arábia Saudita e Catar, entre outros, optarem por dificultar a missão da ONU, segundo Dina Esfandiary, especialista do Instituto para estudos estratégicos de Londres, os inspetores seriam alvos perfeitos quando visitarem os lugares.

Abre-se agora, pois, um caminho – não sem obstáculos – que, se tudo andar segundo a vontade expressa de Damasco e o decisivo apoio da Rússia, poderia afastar a ameaça de um ataque unilateral dos Estados Unidos contra o povo sírio.

Fonte: Prensa Latina